Vargem Alta foi a região de Nova Friburgo para onde convergiram colonos alemães, suíços e imigrantes italianos. Terra fértil, em que se cultiva couve-flor, batata-doce, repolho, inhame, feijão, brócolis, entre outras leguminosas. Vargem Alta e Ribeirão das Almas respondem pela segunda maior produção de flores do Brasil e de 40% da produção fluminense, cultivando astromélia, gérbera, era-paulista, crisântemo, boca-de-leão, chuva-de-prata, rosa.
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Conheci o subtenente Marco Antonio Gripp, policial do Bope, há alguns anos atrás. Tencionava levar os meus alunos do curso de história do direito da Universidade Candido Mendes a uma visita ao batalhão. Não obstante o departamento de comunicação daquele órgão receber amiúde visitas de estudantes, estavam as mesmas suspensas naquela ocasião. No entanto, quando o então sargento Marco Antonio Gripp soube tratar-se de friburguenses, ele, lotado no Bope, gentilmente abriu uma exceção e nos recebeu, por ser igualmente de Nova Friburgo.
Uma crônica do final do século XIX ilustra bem a divisão entre o homem urbano e o homem rural em Nova Friburgo. Saíam da igreja Matriz, após a celebração de um casamento, dois noivos oriundos da zona agrícola da cidade. Simplórios, como são em geral os que moram nestas regiões, via-se nas mãos de ambos os sulcos que deixam os instrumentos do trabalho rude da lavoura. Seguia o ditoso casal pelo centro da cidade de mãos dadas, com lencinhos bordados pendentes nas mãos, acompanhados por parentes e vizinhos, que como eles, eram lavradores. Segundo o articulista, era um "casamento da róça”.
Em um projeto da Câmara dos Deputados de 1846, sobre colonização, foi consignada a ideia de não se admitirem escravos nas colônias. No Senado, a respeito das fazendas modelos, igualmente se advogava a mesma tese. A colônia de suíços em Nova Friburgo, criada para ser referência no que tange a utilização de mão de obra livre, não logrou êxito. A escravidão matizava o cotidiano da colônia e por isso ganhou destaque no diário do colono suíço Hecht.
De acordo com o diário do colono Joseph Hecht, foi sobre o ombro de 60 escravos africanos que as crianças suíças subiram a serra. Algumas abraçavam alegremente os pescoços cor de carvão, anjos brancos em cima de montarias negras. Chegaram os suíços para fundar a colônia que não se tornaria jamais uma suíça brasileira como desejavam os seus idealistas. Os atores principais, a força de trabalho se projetaria sobre os ombros dos escravos e não sobre o trabalho livre. Nova Friburgo não ficaria à margem da escravidão.
Existiu quilombo em Nova Friburgo? Pesquisando a história da escravidão no Brasil, perguntaríamos: onde não existiram quilombos no Brasil durante a escravidão? A historiografia sobre esse tema, até alguns anos atrás, mostrava a figura do africano submisso, subserviente e resignado a sua condição de escravo. No entanto, pesquisas atuais demonstram que o africano resistiu sempre que pôde à sua condição servil, seja através da insurreição, e temos o exemplo da revolta dos escravos maleses na Bahia, ou da fuga, originando os quilombos.
O tráfico de escravos no Brasil está estimado em cerca de três milhões e meio até a sua abolição. A escravidão estava tão presente no cotidiano das pessoas que até mesmo as mais dóceis com os seus escravos volta e meia lhes aplicavam sopapos e cachações por pequenas falhas domésticas. Já no século XIX, a escravidão era vista como um entrave ao sistema capitalista, responsável pela degradação dos costumes, impedindo que a sociedade alcançasse níveis de civilidade.
A concessão de sesmarias desde os tempos coloniais derivava do arbitrium real. Era um privilégio baseado na avaliação pessoal do pretendente e de sua capacidade de dispor de escravos para tornar o latifúndio produtivo. O regime de sesmarias foi extinto na independência do Brasil, tornando a posse, além da compra e da herança, a única forma de aquisição da propriedade. A terra era farta no Brasil até um século atrás, pois haverá terras devolutas até princípios do século XX.
A presença hegemônica de luso-brasileiros e de escravos em Nova Friburgo mina qualquer tipo de representação do município como Suíça Brasileira. Quando os suíços se estabeleceram na Fazenda do Morro Queimado, no princípio do século XIX, já haviam sesmarias distribuídas aos luso-brasileiros e sesmeiros provenientes de Minas Gerais. Em razão da má qualidade das terras distribuídas aos colonos suíços e alemães, eles se deslocam para o Vale do Macaé de Cima com a autorização de D. Pedro I, que continua a política do pai, D. João VI, de estabelecimento de núcleos coloniais.
Como era Nova Friburgo no ano de 1950? Da leitura do jornal Gazeta de Friburgo, podemos apreender um pouco do cotidiano da cidade. Sabe-se que até 1940, no Brasil, de um modo geral, a população rural era superior à urbana. Observando a geografia da cidade, bairros como o Cônego, Conselheiro Paulino e Amparo eram ainda zonas agrícolas e totalmente insulares. Olaria, o maior bairro operário do município, iniciava seu processo de urbanização com calçamento da rua principal, postes de luz elétrica, água encanada na maior parte das residências, possuindo inclusive um cinema.