Nova Friburgo foi uma cidade que surgiu ao acaso. Não fosse a iniciativa do empreendedor Gachet em oferecer à Coroa Portuguesa, recém-instalada no Brasil, colonos suíços para promover o povoamento da nação, esse município não existiria. Era ainda incipiente a política de incentivo à imigração ao Brasil. Vários motivos teriam levado D.
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Os europeus quando chegaram ao Brasil se escandalizaram com a escravidão e o tratamento dado aos escravos. O colono suíço Hecht assim descreveu o cotidiano dos escravos em Nova Friburgo: “Repugnava-nos como algo totalmente inaceitável o drama dos escravos fugidos e dos recém-comprados. Com frequência, víamos passar por nossa cidade de Nova Friburgo negros fugidos que tinham sido capturados pelos caçadores contratados e que estavam sendo devolvidos aos donos. (...) Para quem se dedicava a essa maldita atividade, essa paga era suficiente.
Olavo Bilac escreveu em Ironia e Piedade: “Não ríamos da celebridade dos tipos de rua! É uma celebridade de motejo e assuada, mas essencialmente, vale tanto quanto os outros, de entusiasmo e aplauso”. Toda cidade tem os seus “tipos de rua”, que ficam na memória da população local e são geralmente mencionados quando se evocam lembranças do passado. Atualmente já não provocam o motejo de transeuntes, como outrora. E o que tinham em comum esses tipos de rua nos bas-fonds da vida?
Josehph Hecht, colono suíço, chegou ao Brasil em 15 de dezembro de 1819, para se estabelecer na colônia de suíços, na Fazenda do Morro Queimado, que passaria a denominar-se Nova Friburgo. Hecht ficou apenas quatro anos em Nova Friburgo e retornou à Suíça desapontado com a infraestrutura da colônia oferecida aos suíços: terras inférteis à agricultura, entre outras promessas não cumpridas. A perda de seu filho mais novo abate-lhe ainda mais o ânimo em permanecer no Brasil.
Qual é a origem da denominação de ruas e bairros de Nova Friburgo? Percorrer por esses nomes é revelar um pouco do passado do município e de seus antigos habitantes. A Vila Amélia pertencia ao casal português Antônio e Carolina Pinto Martins. Pais de sete filhos, seis homens e uma mulher, a única filha da família, Amélia, é quem daria o nome à charmosa chácara de Nova Friburgo: Vila Amélia. Antônio Pinto Martins tinha comércio no Rio de Janeiro, a firma Pinto & Martins e mudou-se para Nova Friburgo investindo em uma chácara, no ramo de hortifrutigranjeiros.
O trem foi uma das grandes revoluções técnicas do século XIX, com um impacto muito grande na economia mundial. Em 1857, foi celebrado um contrato entre o primeiro Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, e o governo da província do Rio de Janeiro para a construção da Estrada de Ferro Cantagalo. O trecho inicial foi de Porto das Caixas até a Raiz da Serra (Cachoeiras de Macacu), inaugurado em abril de 1860. A ferrovia foi criada objetivando o escoamento da produção de café entre a região de Cantagalo e o porto do Rio de Janeiro, no qual o Barão de Nova Friburgo era o maior produtor.
“Solicitamos medidas enérgicas e urgentes que regularizem o serviço doméstico. Não carece demonstrar as dificuldades que aparecem quando se precisa de um criado de servir, de um cozinheiro, pajem, ama de leite, ama seca, cocheiro, jardineiro, hortelão.
O CLIMA DA COLÔNIA, SEU ÚNICO LOUVORJohann Jakob von Tschudi (1818-1889), embaixador encarregado de relatar ao governo da Suíça as condições de vida dos colonos suíços, na segunda metade do século XIX, conclui finalmente o seu relatório. Descreve que enquanto os colonos dirigiram suas queixas ao príncipe-regente, simultaneamente Monsenhor Miranda apresentava ao governo, em 9 de julho de 1820, um memorandum, no qual tentava desculpar-se e justificar-se quanto às medidas que tomara. A decisão do Príncipe-Regente foi tão razoável quanto liberal, assim entendeu Tschudi.
Johann Jakob von Tschudi (1818-1889), embaixador suíço no Brasil com a missão de relatar ao governo de seu país as condições de vida dos colonos suíços, visitou a vila de Nova Friburgo, na segunda metade do século XIX, descrevendo a situação dos mesmos. Tschudi critica as terras escolhidas no distrito de Cantagalo para o estabelecimento do núcleo colonial dos suíços: “A infeliz escolha, provavelmente por insinuação real, recaiu sobre duas sesmarias a oeste de Morro Queimado e as fazendas adjacentes, às quais se juntaram mais duas: São José e Córrego das Antas.
Dando continuidade à viagem de Johann Jakob von Tschudi (1818-1889), que percorria o interior da província do Rio de Janeiro com a missão de relatar ao governo de seu país as condições de vida dos colonos suíços, chega ele finalmente à vila de Nova Friburgo. Após nove horas de marcha a cavalo, seguindo o curso do Rio Negro e passando por barrancos e vales estreitos, Tschudi chega à vila, situada a oito e meia léguas de distância de Cantagalo.