Os espanhóis foram os grandes construtores em Nova Friburgo. Uma das primeiras famílias que chegou foi a de Vicente Sobrinho, dedicando-se à construção de telhas, tijolos e cerâmica, adquirindo uma olaria da família do barão de Nova Friburgo. Francisco Vidal Gomes foi o responsável pela construção dos principais edifícios históricos, a exemplo do CNS das Dores, outrora Hotel Central, e do Colégio Anchieta. Outros se dedicaram ao comércio de alimentos: a família Estebanez, em 1889, possuía uma fábrica de doces e Ruiz Boler foi um dos primeiros a fabricar sorvete artesanal.
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
O braço escravo dos africanos igualmente participou da construção do município e, na sua condição de forçados, ajudaram a escrever a história da cidade serrana. Quanto aos afrodescendentes, restam esparsas referências. Muitos vieram de Cantagalo para Nova Friburgo por ocasião da decadência cafeeira nesse município, se fixando em bairros periféricos. Sabe-se que em locais de majoritária concentração de brancos, a participação de afrodescendentes na organização social é dificultada, o que foi o caso de Nova Friburgo, por ter recebido imenso fluxo de imigrantes europeus.
A hidroterapia, terapêutica pela água fria, era empregada no século 19. Foi Vincenzi Priessnitzovi (1799-1851) quem, em 1827, fundou um estabelecimento hospitalar destinado ao tratamento de doenças crônicas, no qual a água fria era adotada. Priessnitzovi logo encontrou adeptos em várias partes do mundo e o método da hidroterapia logo se disseminou em toda a Europa. Em 1871, o médico italiano Carlos Eboli (1832-1885), adepto dessa terapia, inaugura um centro hidroterápico em Nova Friburgo.
Como era Nova Friburgo nas décadas de 30 e 40 do século 20? Encantadoramente bela, era a cidade dos cravos rubros, das camélias brancas, fascinante, bonita por si mesma, sem atavios, na beleza encantadora de sua simplicidade. As ruas eram mais floridas, o lindo coreto bolo de noiva, onde as bandas se apresentavam e que foi destruído sem qualquer justificativa. As residências, divididas por cercas de bambu, tinham vastos quintais onde se cultivavam legumes e verduras em pequenas hortas, além de pomar com jabuticabeiras, laranjeiras, entre outras frutas.
D. João VI escolheu o seu santo protetor, São João Batista, para ser o orago de Nova Friburgo. Em fins do século 19, por ocasião da festa de São João, a igreja Matriz era toda embandeirada e seu altar profusamente espargido por flores, para festejar, pomposamente, o padroeiro da cidade. São João gozava em Nova Friburgo de especial veneração, sendo o seu dia o escolhido para o batismo das crianças e inauguração de engenhos.
A farinha de mandioca era a base da alimentação dos escravos. Sobre a comida dos cativos, Rugendas observou que eram alimentados com farinha de mandioca, feijão, carne-seca, toucinho, banana e frutas refrescantes. Já Saint-Hilaire registrou, em 1817: "É fazendo cozer o fubá na água, sem acrescentar sal, que se faz essa espécie de polenta grosseira que se chama angu, e constitui o principal alimento dos escravos”. O angolês denominara fubá à farinha de milho, nome da farinha em quimbundo, e ao pirão de milho, angu.
Em fevereiro de 1825, cinco mercenários alemães, acorrentados uns aos outros como um libambo de escravos, chegavam à vila de Nova Friburgo. Tinham sido detidos em Cantagalo acusados de deserção do incipiente Exército brasileiro. Com a independência do Brasil, uma decepção de D. Pedro I: as tropas brasileiras não passavam de milícias mal armadas e indisciplinadas. A maior parte era formada por "vagabundos” e delinquentes recrutados na base do "pau e da corda”. Os recrutas eram conduzidos acorrentados de suas cidades até o quartel do Rio de Janeiro.
Na sessão extraordinária de 9 de junho de 1831, a Câmara Municipal levava ao conhecimento do público as medidas que tinha tomado em relação à estrada da Serra da Boavista, com a abertura de um novo caminho. Utilizaria a imprensa da Corte para convidar a população do Rio de Janeiro, tanto nacionais como estrangeiros, para vir gozar das vantagens que o clima da região oferecia às pessoas valetudinárias. Participava-lhes que em breve se terminaria uma parte do caminho na nova estrada da Serra da Boavista que facilitaria o trânsito na parte mais dificultosa.
Nova Friburgo foi a primeira experiência na história brasileira de incentivo à vinda de colonos não portugueses ao Brasil. Na realidade, a verdadeira política de incentivo à imigração viria apenas no último quartel do século XIX; não obstante, durante esse século, iniciativas particulares tinham sido encetadas por fazendeiros através de agências privadas. Os suíços chegaram ao Brasil em fins de 1819, e parte do termo de Cantagalo foi desmembrado para dar origem a Nova Friburgo. A evasão dos colonos suíços do Núcleo Colonial ocorre em razão da má qualidade das terras distribuídas.