Recordemos que caminhamos para o 200° aniversário da cidade. A data da fundação de Nova Friburgo é motivo de polêmica entre alguns historiadores. Teria sido na data da assinatura do decreto estabelecendo uma colônia de suíços na Fazenda do Morro Queimado, em 16 de maio de 1818, ou na data em que a colônia recebe o “status” de vila, em 3 de janeiro de 1820? Em 1967, essa discussão foi levantada em razão da proximidade do 150° aniversário da cidade. Ele seria celebrado em 16 de maio de 1968 ou em 3 de janeiro de 1970?
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
O município de Nova Friburgo era formado por quatro freguesias: Freguesia de São João Batista, sede da vila, Conceição de Sebastiana (atualmente pertence a Teresópolis), São José do Ribeirão (hoje segundo distrito do município de Bom Jardim) e Nossa Senhora da Conceição do Paquequer (atualmente pertence ao município de Sumidouro). Serão essas duas últimas freguesias, São José do Ribeirão e Conceição do Paquequer, que se tornarão grandes produtoras de café e abrigarão o maior plantel de escravos do termo de Nova Friburgo, no século XIX.
O distrito de Lumiar, atualmente, é uma região isolada de Nova Friburgo, atraindo mais a população adventícia do que os friburguenses propriamente ditos. Antes mesmo que os colonos suíços se dirigissem a Macaé de Cima (e Lumiar) em busca de melhores terras, já havia uma população de luso-brasileiros, fazendeiros provenientes da região de Lumiar, em Portugal. Segundo a Wikipédia, a freguesia de Lumiar em Portugal foi criada em 2 de abril de 1266.
Parte IIEm meados do século XIX, o naturalista alemão Karl Hermann Burmeister (1807-1892) passou por Nova Friburgo durante sua expedição científica, nos revelando interessantes aspectos do seu cotidiano. Burmeister registrou que a vila tinha 1.000 habitantes e fez referência à economia local: “...A terra, aí e nos arredores, é pouco fértil, pedregosa, com densas florestas e tão desnivelada que poucos são os lugares apropriados para roça. Por isso, a vida dos colonos era bem pobre no começo e mesmo hoje em dia poucos há que se possa considerar em boa situação.
Até o início do século XIX, o acesso de estrangeiros ao Brasil era extremamente restrito. No entanto, com a abertura dos portos e particularmente o estabelecimento da família real e toda a corte na colônia, o país atrairia uma chusma de cientistas, viajantes, religiosos ou meros curiosos. Os intrépidos bávaros Spix e Martius percorreram de 1817 a 1820, quase todo o Brasil e o reinado de D. João VI se converteria em um verdadeiro ponto de encontro de estrangeiros na colônia.
Paul Veyne, em “O Império Greco-Romano”, coloca que as festas, não importa a época em que nos situemos, quebram o ritmo da vida cotidiana. Segundo ele, uma originalidade da civilização greco-romana é haver institucionalizado os prazeres da festa: romper com o cotidiano, ficar alegre e sentir-se alguém, compartilhando a alegria de muitos outros e exercer um dos direitos do cidadão. Vamos traçar aqui um breve panorama sobre as formas de sociabilidade dos friburguenses no início do século XIX.
O médico trata, a natureza cura. Era o pensamento de Hipócrates, conhecido como o pai da medicina. Viveu na época áurea do pensamento grego e a sua obra “Dos Ares, Águas e Lugares” traduzia o pensamento da incipiente ciência médica do século XIX. A obra hipocrática caracteriza-se pela valorização da observação empírica não se limitando ao paciente em si, mas também ao seu ambiente.
Na estrutura administrativa da colônia havia o inspetor, que tinha a gerência de todos os seus negócios e recebia do governo as ordens concernentes ao regime colonial; um diretor, subordinado ao inspetor, que executava suas ordens, e o encarregado de polícia, que inspecionava os colonos, ouvia as suas queixas que poderiam ser por questão de limites das terras ou outros conflitos de interesses.
Em 1851, o distrito da colônia de Nova Friburgo possuía 1.496 colonos, sendo 857 de origem suíça e 639 de alemães. A religião era o que diferençava esses colonos. A grande maioria dos suíços era composta quase que exclusivamente de católicos, exigência entre as condições do contrato. Já os alemães eram em sua grande maioria protestantes. Os colonos não tiveram barreiras físicas nem morais que os circunscrevessem dentro do distrito colonial, e antes, todos os estímulos de facilidade para tresmalhar-se. Transpuseram os limites coloniais migrando para outras regiões da província fluminense.
Parte IIIAssim que se realizou a divisão das datas de terras, os colonos se estabeleceram em suas respectivas propriedades. No entanto, algumas famílias foram mal aquinhoadas no sorteio, por lhes ter sido dado terreno pedregoso que nem para uma horta tinha solo cultivável. Por portaria do inspetor da colônia, os colonos que haviam sido sorteados com tais terras, impróprias à cultura, receberam outras datas de terras que se achavam disponíveis. No entanto, tal substituição não remediou o problema, pois, de um modo geral, as terras do distrito colonial eram pouco impróprias à agricultura.