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Tributo ao subtenente Marco Antonio Gripp: Missão dada, missão cumprida
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Conheci o subtenente Marco Antonio Gripp, policial do Bope, há alguns anos atrás. Tencionava levar os meus alunos do curso de história do direito da Universidade Candido Mendes a uma visita ao batalhão. Não obstante o departamento de comunicação daquele órgão receber amiúde visitas de estudantes, estavam as mesmas suspensas naquela ocasião. No entanto, quando o então sargento Marco Antonio Gripp soube tratar-se de friburguenses, ele, lotado no Bope, gentilmente abriu uma exceção e nos recebeu, por ser igualmente de Nova Friburgo. Recordo-me de sua gentileza em nos mostrar todas as instalações do batalhão, promover uma palestra com o comandante Paulo Henrique Moraes sobre a origem daquela polícia de elite e nos mostrar, in loco, uma favela pacificada. A favela era a Tavares Bastos, vizinha e geminada ao batalhão do Bope. Nessa visita a uma favela pacificada, que não era esperada por mim, recordo-me quando o sargento Gripp disse-me: "Vamos, professora”. Eu vacilei na hora, pois pensei nos quase 70 alunos sob minha responsabilidade entrando em um área de forte tensão social. Observei o sargento Gripp de cima a baixo e verifiquei que aparentemente ele estava desarmado. Portanto, calculei que não haveria risco. Ele puxou a fila e fui logo atrás dele, seguida por meus alunos. Percorremos boa parte da favela Tavares Bastos, sendo observados curiosamente por seus moradores. Os meus alunos, despreocupados, tiravam fotos, faziam poses para postar no Facebook, mas sempre atentos às explicações do sargento Gripp, que mostrava orgulhoso como a polícia e as comunidades das favelas poderiam conviver harmoniosamente. Ao fim da visita, o sargento, sabedor de que eu era historiadora, perguntou-me se eu conhecia a história de sua família, os Gripp. Respondi afirmativamente. Narrar alguns fragmentos da história de sua família é a maneira que encontrei de homenagear o subtenente Marco Antonio Gripp, que recebeu os alunos da Candido Mendes tão generosamente.
Os alemães migraram para Nova Friburgo, em 1824, para ocupar as datas de terras abandonados por alguns colonos suíços e dar novo incremento e fomento ao Núcleo dos Colonos, instalado naquele município. Os Grieb (Gripp) vieram para Nova Friburgo juntamente com os Heringer, Junger, Schott, Muller, Berbert, Schwab, Eller, Emmerich, Dörr, Zaubach, Döring, Diedrich, Kaiser, Klein, Schenkel, Schwenck (Schuenck), Winter, Bröder (Breder), Meyer, Oberländer, Schmidt, Storck, Wolf, Höfel, Schott, Laubach (Louback), Gundacker (Condack), Schwab (Schuab), entre outros. Há muitas referências da família Gripp na história de Nova Friburgo. É narrado pela tradição oral que foram os Gripp que apresentaram as primeiras mudas de café ao barão de Nova Friburgo. No início do século XIX, Jorge Gripp adquiriu dos irmãos Sardemberg sementes de café e fez diversas mudas. Os cafeeiros desenvolveram, de sobremaneira, nas encostas de Amparo. Bernardo Clemente Pinto, o Conde de Nova Friburgo, sabedor da proficiência dos cafeeiros de Jorge Gripp, adquiriu mudas dele, tornando-se um dos maiores produtores de café de Cantagalo. Na segunda década do século XIX, muitos alemães que vieram na qualidade de agricultores para ocuparem núcleos coloniais na Bahia foram igualmente cooptados para servir no Exército Brasileiro. Desses alemães, mais de três centenas foram forçados a seguir para Nova Friburgo, como dito antes, para ocupar as terras abandonadas por colonos suíços e dar nova vida à decadente colônia de europeus em Nova Friburgo. Os ancestrais do sargento Gripp vierem nessa ocasião. Alguns seguiram para Nova Friburgo e outros serviram no Exército brasileiro. Há o registro de que Peter Grieb (Gripp), 26 anos, assentou praça no Regimento de Estrangeiros. Já o seu irmão mais velho, o moleiro Balthasar Grieb, seguiu para Nova Friburgo. Os Gripp se concentraram no distrito de Amparo, formando uma das principais e prolíficas famílias de descendentes de colonos alemães em Nova Friburgo.
Na ocasião em que conheci o subtenente Marco Antonio Gripp, fiquei sabendo que havia quase morrido em 2007, baleado numa incursão em uma comunidade no Rio de Janeiro, em um embate com traficantes de drogas. Utilizando o seu depoimento fiz uma matéria sobre o homem diante da morte, comparando o homem oitocentista (século XIX) com o homem do século XX. Em entrevista a um jornal, o sargento Gripp declarou: "Eram 23h quando avistamos um grupo. Trocamos tiros e eles entraram no beco. Demos a volta e desembarcamos para ver se tínhamos acertado alguém. Entramos no beco escuro e eu puxei a ponta [foi à frente]. Quando virei a esquina, estava a dois passos do cara [traficante]. Como estava escuro, só vi a boca de fogo da arma dele. Levei dois tiros na barriga. Uma passou a um centímetro do rim. Pensei que ia morrer. Continuei trocando tiros. Travou a arma e fui para um abrigo. Um tiro pegou no carregador e ficou no colete. Dois tiros acertaram o meu fuzil, um bateu na câmara de gás e outra na janela de injeção. Foi minha vitória sobre a morte.” Por isso, gritam sempre: Caveira. A vitória sobre a morte é representada pela alegoria da caveira com uma faca encravada sobre o crânio. O subtenente Gripp faleceu em um confronto com traficantes na semana passada, no Rio de Janeiro, no cumprimento de seu ofício. Infelizmente, dessa vez, não pôde gritar "caveira”, já que não venceu a morte.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos
livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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