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Vila Amélia, Lumiar, Rua do Arco.... Qual é a origem desses nomes?
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Qual é a origem da denominação de ruas e bairros de Nova Friburgo? Percorrer por esses nomes é revelar um pouco do passado do município e de seus antigos habitantes. A Vila Amélia pertencia ao casal português Antônio e Carolina Pinto Martins. Pais de sete filhos, seis homens e uma mulher, a única filha da família, Amélia, é quem daria o nome à charmosa chácara de Nova Friburgo: Vila Amélia. Antônio Pinto Martins tinha comércio no Rio de Janeiro, a firma Pinto & Martins e mudou-se para Nova Friburgo investindo em uma chácara, no ramo de hortifrutigranjeiros. A chácara do português Antônio Martins era exatamente onde hoje é o bairro da Vila Amélia e o antigo prédio que serviu de delegacia há um tempo atrás era a residência da família. Havia na chácara plantação de peras ferro, macieiras, morangos, aspargos, hortigranjeiros, entre outros, além da criação de suínos. Martins trouxe de Portugal uma árvore que florescia a “flor de tojo”, cujo pólen servia para o seu apiário. O seu mel era o mais apreciado na cidade. O Córrego do Relógio, que passa pelo atual bairro da Vila Amélia, era circundado por videiras que produziam as mais saborosas uvas de Nova Friburgo. As videiras, que desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro, forneciam sombra aos que por ali passeavam nos dias de sol causticante. Na chácara da Vila Amélia os Martins recebiam a elite da cidade e turistas que frequentavam amiúde aquela localidade, mormente os que passeavam na Praça do Suspiro, o mais importante espaço de sociabilidade de fins do século XIX e boa parte do século XX.
Muitos bairros têm seus nomes originários dos suíços que obtiveram da Câmara Municipal concessão para a exploração de chácaras, uma espécie de terreno foreiro à municipalidade. Perissê vem da família Perisset, Tingly dos Tinguely, Sana dos Saner, Debossan dos Desbossens e Cardinot dos Cardinaux. A família suíça Murith residia na localidade que ficou conhecida pelo nome de Mury. Luiz Mury, variação de Murith, era um comerciante de secos e molhados que conseguiu sensibilizar a empresa ferroviária para estabelecer uma estação de trem na localidade de Mury. Passou a ser denominada de “Parada do Mury”, já que a estação ficava em frente ao seu comércio. O objetivo era o escoamento da produção agrícola de Lumiar. Outrora os agricultores tinham que levar os seus produtos até o centro de Nova Friburgo, um deslocamento assaz oneroso. O distrito de Lumiar deve sua denominação aos colonos lusitanos que ali se instalaram antes da chegada dos suíços, vindos da região de Lumiar, que fica nos arredores de Lisboa. São Pedro foi uma homenagem ao imperador D. Pedro I, que autorizou os suíços a abandonarem as terras inférteis dos núcleos coloniais e se estabelecerem em Macaé de Cima, região mais propícia ao plantio do café e da agricultura em geral. O Campo do Coelho era denominado anteriormente de Terras Frias por sua elevada altitude de 910m, a maior do município. Em 1924 tornou-se o terceiro distrito de Nova Friburgo. Foi uma região de muita importância no século XIX. Há registro da existência de um casarão colonial, possivelmente do século XVIII nessa localidade. A estrada que partia de São Lourenço ou do Cônego rumo a Castália, em Cachoeiras de Macacu, era conhecida como o caminho do Barão, em referência provavelmente ao Barão de Nova Friburgo. Por essa estrada escoava a produção de café de suas inúmeras propriedades rurais. Essa rota foi abandonada a partir da construção da estrada de ferro. Mas por que o nome de Campo do Coelho? Recebeu essa denominação em 1938, não se sabe por que, mas certamente um desconhecimento histórico da Câmara Municipal quando alterou o nome do distrito. O nome do bairro Cônego tem como origem uma propriedade nessa localidade emprestada pelo Barão de Nova Friburgo a um cônego, sempre que o eclesiástico se hospedava na vila de Nova Friburgo. O nome da Rua do Arco, outrora Beco do Arco, tinha essa denominação porque os transeuntes passavam por um túnel sob um sobrado, uma servidão de passagem. Parece que o sobrado pertencia ao Barão de Nova Friburgo e ele teria feito esse recorte para passar o bonde, de tração animal, que o conduzia de seu solar, que existe até hoje na Praça Getúlio Vargas(Casa de Cultura) até o seu chalet, atual Country Clube. Já o distrito de “Amparo” tem o seu nome relacionado com a Inconfidência Mineira. De acordo com a tradição oral, Jerônimo de Castro e Souza, oficial do exército colonial, abraçara a causa dos inconfidentes e participara da trama revolucionária. Durante a devassa (processo), ficou detido na prisão da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Como não havia provas para sua condenação, foi libertado e, desde então, embrenhou-se pelo interior da província fluminense, indo parar onde hoje é o Amparo. Jerônimo deu esse nome à localidade por ter sido o “amparo” de suas vicissitudes e perseguições. No entanto, há quem afirme que Jerônimo foi um delator de Tiradentes, beneficiado com sesmarias pela Coroa Portuguesa em razão de sua delação. Esta segunda tese é a mais provável. Já a Ponte da Saudade tem esse nome por ter sido a última parada, para despedida, dos que acompanhavam parentes e amigos que desciam a serra. Fica aqui o registro da origem do nome de alguns bairros e distritos de Nova Friburgo.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora do livro “Histórias da História de Nova Friburgo”. historianovafriburgo@gmail.com
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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