O Colégio Freese – Parte III
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Desde o “descobrimento” do Brasil, as Câmaras Municipais constituíam a verdadeira e quase única administração da Colônia. O poder das Câmaras era, na realidade, o poder dos proprietários rurais. Compostas por até seis membros, eram constituídas por um procurador, dois juízes ordinários e três vereadores. As Câmaras Municipais funcionavam igualmente como órgão judicante de primeira instância sendo que a justiça exercida por essa instituição foi a que prevaleceu no período colonial.
A falência da imigração suíça em Nova Friburgo não foi uma exceção ou um fato isolado. O sistema de núcleos coloniais adotados por D. João VI foi, de um modo geral, um insucesso. Fundados em várias regiões do país foram instalados longe dos mercados, o que provocou a dispersão dos colonos. Uns migraram para as zonas urbanas e outros permaneceram nas zonas rurais, vivendo mediocremente, em nível comparável ao do caboclo. Os latifundiários desejosos de obter braços que viessem substituir os negros não apoiavam a política colonizadora.
Carlos Eboli é nome de rua em Nova Friburgo, e só. No entanto, se formos observar o legado que deixou no município, mereceria um preito maior. Natural de Nápolis, Carlos Eboli nasceu em 1832 e formou-se em medicina pela Faculdade de Paris, em 1856, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX. Médico higienista, era membro correspondente da Imperial Academia de Medicina. Provavelmente pela fama da salubridade de seu clima, escolheu Nova Friburgo para um projeto de vida: a construção do Instituto Sanitário Hidroterápico.
Conforme escrevemos na semana passada, o médico Carlos Eboli construiu em Nova Friburgo o maior estabelecimento hidroterápico da América Latina. No complexo havia enormes piscinas com mecanismos que formavam ondas, duchas “em chuva e jatos”, duchas ascendentes e circulares, duchas filiformes e pulverulentas, duchas elétricas, temperadas e frias, escocesas, termominerais, banhos russos e turcos. Anexo ao estabelecimento hidroterápico havia o Hotel Central, que hospedava os que buscavam a cura na hidroterapia, onde atualmente funciona o C.N.S. das Dores.
Os gregos da Antiguidade fizeram da memória uma deusa: Mnemosine. A memória é a presença do passado. A memória é uma construção psíquica que acarreta uma representação seletiva do passado que não é somente do indivíduo, mas do grupo social em que está inserido.
Esta matéria é baseada nas memórias de Yolanda Brugnolo Lívio Barilari Bizi Cavalieri d’Oro, que viveu em Nova Friburgo no início do século passado.
É certo que determinados acontecimentos desencadeiam outros e assim caminha a história da humanidade. Nesse sentido, poderíamos até afirmar que a antecipação da independência do Brasil deve-se a Napoleão Bonaparte, que ameaçando invadir Portugal, provocou a fuga da família real portuguesa e toda a sua Corte para o Brasil. Muitos historiadores consideram a data 1808, ano da chegada a Corte ao Brasil, como o marco inicial de nossa independência.
A pesquisa sobre a escravidão em Nova Friburgo é algo embrionário. A quase inexistência de fontes dificulta o trabalho dos pesquisadores. Diferentemente do escravo norte-americano que foi instruído a ler, os escravos foram proibidos de serem alfabetizados no Brasil, o que torna difícil ainda mais a existência das fontes, não nos deixando as impressões sobre o seu infortúnio.
Cantagalo: berço do Centro-Norte Fluminense—parte III