Nova Friburgo tem duas tragédias em sua história: a primeira, ocorrida no ano de 2011, em que chuvas torrenciais e incessantes associadas a um tremor de terra provocaram desabamentos de morros matando centenas de pessoas, além de provocar impactantes danos materiais em todo o município. A segunda tragédia, a destruição da Praça Getúlio Vargas, com a derrubada dos mais que centenários eucaliptos. A primeira, um fenômeno da natureza, a segunda, provocada pelo gesto irracional do Homem.
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Os escravos fugiram no dia primeiro de janeiro de 1850, refugiando-se nas imediações da fazenda. Recusavam-se a voltar ao trabalho no eito enquanto o administrador não fosse demitido pelo Comendador Boaventura. Conforme o depoimento de um dos escravos no processo judicial, o grupo fugiu porque não suportava mais os maus-tratos, castigos e ameaças do administrador João Antônio. Permaneceram três meses nas matas da fazenda alimentando-se de milho e abóbora que colhiam na roça da propriedade.
Na matéria de hoje, transcrevo a primeira crônica do periódico O Friburguense quando voltou a circular em 20 de julho de 1890. O último quartel do século XIX foi o século da imprensa e Nova Friburgo possuía diversos periódicos. Mas o objetivo é mostrar a visão do papel do repórter naquela sociedade que se urbanizava. A propósito, a palavra urbanidade era um adjetivo elogioso contrapondo-se à figura do roceiro, do homem do campo, incivilizado e grosseiro.
O colonizador português, que tinha como prática intercambiar produtos de suas colônias, trouxe o inhame do continente africano para o Brasil. O nome inhame tem origem vocabular na África Ocidental. Essa palavra, que significa comer, vem de ñame, iñame, igname, yame, yam, yams até chegar a inhame. Câmara Cascudo nos informa que o cardápio dos tupiniquins constava notadamente de inhames. A raiz que alimentava o brasileiro era a mandioca, mas o inhame era igualmente apreciado. Mas por que tanta ênfase no inhame? No século XIX, Macaé de Cima era conhecido como "terras dos inhames”.
O fim do ano chega e já ocorre a transumância da população friburguense para a Região dos Lagos. Assim como na Europa o gado se desloca por ocasião da mudança de estação, buscando regiões mais quentes, fenômeno conhecido como transumância, o mesmo ocorre com os friburguenses que seguem rumo às praias da costa marítima fluminense. No entanto, o gado busca o conforto de regiões quentes, ao contrário da população friburguense, que se submete ao desconforto do tórrido verão tropical da região oceânica.
Como foi o final do século XIX, o fin de siècle, como se dizia à época, e a chegada do século XX? O século XIX foi um período histórico de grandes transformações tecnológicas e científicas. A urbanização e a vida social ganham impulso nas principais capitais da Europa, como em Paris e Viena, o que lhe valeu o título, ao final do século, de Belle Époque.
Arthur Guimarães em "Um Inquérito sobre Nova Friburgo”, escreveu, em 1910, que no comércio ambulante os italianos levavam suas mercadorias em carrinhos, tabuleiros ou samburás: "Um vendedor italiano, idoso, carrega os balaios cantarolando, com voz de barítono, sem ofender os ouvidos, vários trechos de óperas”. A imigração maciça de trabalhadores estrangeiros para o Brasil, principalmente italianos, sobretudo a partir de 1886, durante quase meio século, está diretamente ligada à constituição de um mercado livre de trabalho para a grande lavoura.
A vila de Nova Friburgo foi fundada em 3 de janeiro de 1820. Desmembrada de Cantagalo para abrigar uma colônia de suíços, como toda vila, passa a ter as suas próprias instituições. A primeira delas foi o estabelecimento da Câmara Municipal, que reunia as funções executiva, legislativa e judiciária. No entanto, a promessa do rei D. João VI de um templo católico, na sua fundação, iria ter que esperar algumas décadas antes que se realizasse. D. João VI deu o nome de seu santo protetor à sede da vila de Nova Friburgo: Freguesia de São João Batista.
A imagem de Sebastien Nicolas Gachet, encarregado oficialmente pelo Cantão de Fribourg de propor a D. João VI uma colônia de suíços no Brasil, tem sido retratada de forma negativa. No entanto, nos parece que ele agiu conforme o racionalismo característico de um fribourgoise. A questão mais difícil inicialmente era encontrar um terreno apropriado para o estabelecimento da colônia. Era necessário que fosse situada perto da Corte para gozar da proteção do rei e se recorrer com facilidade às autoridades competentes.