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Colonização e imigração: como contar a sua história?
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Parte 1
Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros entraram no Brasil entre 1887 e 1930. Nova Friburgo tem uma história em que a sua organização social é composta por diversas nacionalidades. Cada uma delas com suas particularidades, práticas e vivências diferenciadas. Alguns vieram na qualidade de colonos, outros como imigrantes, ou em ambas as formas. Os suíços e os alemães tiveram uma particularidade: chegaram a Nova Friburgo em uma data certa, em grupo e ao mesmo tempo. Os italianos, portugueses, alemães e árabes se destacavam nas primeiras décadas do século 20, em Nova Friburgo. Como imigrantes, os estrangeiros chegavam geralmente em momentos diferentes e em pequenos grupos familiares, como foi o caso dos italianos, portugueses, espanhóis e árabes. Os três primeiros foram cooptados para trabalhar em Cantagalo e nos municípios que dele se desmembraram para substituir a mão de obra escrava nas lavouras de café. Muitos deles ficaram em Nova Friburgo.
Os portugueses foram os primeiros a chegar na região serrana, no último quartel do século 18. Receberam sesmarias, as melhores terras e tiveram hegemonia política. Estabeleceram instituições civis mutuárias no sentido de amparar os conterrâneos que chegavam periodicamente a Nova Friburgo. Até meados do século 20, chegavam aos poucos para trabalhar com primos, tios, enfim, pelas mãos de uma parentela que se estabelecera anteriormente. Foi no comércio de alimentos que se destacaram, os outrora secos e molhados. Vale destaque para a família Sertã, da vila de mesmo nome, em Portugal, principalmente para Raul Sertã, grande benemérito na cidade. Legou muitos imóveis ao município, um terreno para a construção de um estabelecimento de saúde (Hospital Raul Sertã), para um campo de futebol e doou sua bela residência na Rua Gal. Osório para um colégio de crianças carentes, o Madre Roseli. Com sede própria na Av. Euterpe, o grêmio português está fazendo 80 anos. Atualmente, existe uma crise de identidade na colônia portuguesa. A nova geração se volta para outros horizontes e não tem identidade com Portugal. A atual direção busca cooptar novos integrantes, mas tem dificuldades. A perda da representação consular no município parece ter enfraquecido o grêmio português.
Os italianos vieram de muitas regiões diferentes da Itália, a exemplo de Treviso, Veneza, Lombardia, Lago Maggiore. Em Sumidouro, outrora Freguesia de N.S. do Paquequer, pertencente a Nova Friburgo, se estabeleceram muitos italianos, trabalhando como tropeiros e agricultores. As outrora associações como Societá Operaja de Mutuo Soccorse 20 de Setttembre e a Príncipe de Nápolis se fundiram para formar o Circolo Italiani Uniti (Casa de Itália), fundado em 1º de fevereiro de 1914. Possui prédio próprio e a construção da sede atual foi inaugurada em 1926. As associações eram criadas para recepcionar os italianos que chegavam com dificuldade do idioma, de se posicionar na cidade, de tirar documentos, entre outras formas de auxílio. Nas atividades ligadas a música, a exemplo das bandas, os italianos foram grandes maestros e sofisticaram o repertório das sociedades musicais, que eram originariamente composta por escravos charameleiros. Se concentrando na Rua Baronesa, o bexiga de Nova Friburgo, os italianos deram grande contribuição no campo das artes, do comércio e dos serviços. A comunidade italiana possui ainda a Casa de Cultura Dante Alighieri, uma associação com sede no Rio de Janeiro. Essa associação mantinha uma escola que funcionava no prédio onde hoje é o Edifício Itália. Esse estabelecimento educacional era aberto aos brasileiros, além de ser um espaço de encontros festivos dos italianos nas primeiras décadas do século 20. Em razão do fascismo, após a Segunda Guerra Mundial, todos os bens dos italianos passaram para o governo brasileiro. O prédio da Casa de Cultura Dante Alighieri foi desapropriado e se transformou em delegacia de polícia. Somente na década de 60 recuperam esse patrimônio. Como se transformou em um edifício residencial o Ed. Itália, restou o prédio da Casa de Itália como espaço de sociabilidade dos italianos. Se formos localizar a participação dos italianos em Nova Friburgo, a partir do final do século 19, vamos encontrá-los trabalhando na estrada de ferro, no comércio, como carroceiros, na construção civil como marceneiros e artífices, comissários e em bancas de jornais. Os Spinelli são um exemplo de operosidade. Chegaram a Nova Friburgo como imigrantes pobres e se transformaram em um grande império econômico na cidade algumas décadas depois. A história dessa família merece um capítulo à parte na imigração dos italianos em Nova Friburgo. Continua na próxima semana.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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