Se pensarmos a ecologia como um tema transversal, todas as disciplinas poderão colaborar para esta formação no decorrer dos anos letivos. Não se trataria, portanto, de um trabalho da disciplina de ciências ou biologia, mas de todos, conforme os vários enfoques indicando o quão complexa é a questão. A pior maneira de lidar com este tema é querer transformá-lo em mais uma disciplina ou querer circunscrevê-la tão-somente à biologia, como um capítulo a ser estudado em algum ano escolar.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
Lá por meados do século 19, os franceses pensaram uma educação baseada em três pilares tradicionais: a família, a igreja e a escola. À família caberia uma educação desde o berço, onde as boas maneiras, o respeito ao semelhante e a capacidade de partilha entre os irmãos e mesmo pais seria incrementada, de modo que as crianças quando fossem para a escola já levassem uma série de alicerces em sua educação.
Gosto mais de escrever sobre as alegrias que sobre as tristezas. Relutei comigo mesmo em abordar esta questão e conclui que, se não a fizesse, seria uma covardia. Não alertaria para uma realidade que vejo crescente, dado que viajo e faço palestras em todas as regiões brasileiras.
Há algumas semanas, soubemos que os ministérios da saúde e educação confirmaram as instituições vencedoras para implantar cursos de medicina pelo país, incluindo algumas capitais e, sobretudo, cidades do interior. Poderia falar de muitas instituições agraciadas com projetos arrojados e aprovados. Muito em breve não necessitaremos de médicos estrangeiros interessados em trabalhar no Brasil. Recentemente, a chamada de quase 5.000 médicos para o programa “Mais Médicos” foi praticamente atendida com médicos brasileiros que resolveram se inscrever e partir para o interior.
Parece-me um sinal de falência anunciado pelo Estado Gestor, o fato de se determinar a busca de alguma solução para as escolas que não funcionam porque não há autoridade constituída que consiga organizá-las.
O Brasil pensa nestas experiências, embora as constatadas estejam na área da saúde e, não, na educação.
A experiência iniciada nos Estados Unidos, criando as unidades “charters” e entregando-as a agências que administram a verba pública e fazem funcionar escolas aparentemente em estado de desordem acadêmica, chegou ao Brasil e já ocupa os espaços de discussão.
O que tem sido muito positivo para a democracia brasileira é a quantidade de debates sobre variados assuntos. As querelas sobre as cotas, depois de passar por várias instâncias, chegou ao STF e foi definida. As votações sobre a criminalização ou não da homofobia caminham nas instâncias legislativas e o desfecho não está, ainda, devidamente claro. As páginas dos jornais continuam estampando os debates sobre a diminuição da maioridade penal. Enquanto alguns reafirmam sobre a laicidade da nação, outros desejam que a Bíblia seja um livro obrigatório em todas as bibliotecas escolares.
Semana passada o Brasil foi tomado com a surpresa da criação de mais 2.800 vagas para os cursos de medicina, com perfil interiorano, em princípio facilitando os estudantes que habitam áreas distantes das capitais, onde estes cursos estão concentrados.
Foi uma ação conjunta do Ministério da Educação e da Saúde. Com esta medida, que se soma às anteriores, ampliando vagas em cursos existentes e cursos novos, com destaque para o que será instalado no Hospital Albert Einstein em São Paulo, aos poucos o Brasil atenderá à demanda por médicos que se disponham a procurar o interior.
O slogan adotado pelo atual governo federal, “Pátria Educadora”, é uma aplicação em maior abrangência do conceito de “Cidade Educadora” aplicado há mais de trinta anos na América Latina. A visão deste conceito observa que tudo na cidade deve “respirar” educação. Tanto o trânsito, quanto as escolas e demais serviços existentes devem incluir em seus propósitos a educação. Se o guarda chama a atenção de uma pessoa que atravessou fora da faixa de pedestres, isto é educação.
Fé é dom gratuito. Uns têm e, outros, não. Ficar fazendo apologia de uma determinada fé é cabível quando ela não envolve a satanização de quem não adere. Aqui é uma questão de educação, de civilidade, de compreensão sobre a liberdade do outro e sobre a singularidade do outro.
Se o país, pela Constituição Federal, é laico, as pessoas podem não ser e ter direitos a frequentar e praticar a sua religião sem ser molestados, usando outra prerrogativa Constitucional que é o direito de ir e vir, de pensar e de se associar.
Jean Piaget, no livro “A formação moral da criança”, orienta-nos para a seguinte sequência: a criança nasce na anomia, quando não sabe o que é certo ou errado, cresce dentro da heteronomia, ocasião em que os outros indicam os caminhos. Pais, mães, professores, irmãos mais velhos, padrinhos etc, dizem o que está certo e o que está errado. Vale dizer que os que estão envolvidos com a educação devem assumir compromissos com o educando, não temendo dizer o sim e o não. As crianças precisam aprender a lidar com essas duas palavras.