A vida humana gira em torno dessas duas vertentes e exige de todos a capacidade de movimento entre uma coisa e outra através da administração dos dois comportamentos. O medo acaba por levar ao cuidado com o exercício da profissão. O profissional é cobrado pelos seus atos e, por vezes, não tem como se eximir de culpa, apesar das justificativas. Se um médico alegou ter esquecido uma pinça dentro do abdômen do paciente porque seu salário não é compatível com seus desejos, ninguém aceita. Não adianta dizer que, se ganhasse melhor, não esqueceria a pinça lá dentro.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
Se não tomarmos cuidado com o que se apresenta como politicamente correto ou incorreto seremos destinados ao mutismo. Não foi parâmetro de educação alguma, defender uma acirrada crítica ao modo de falar do homem simples, geralmente de regiões afastadas dos centros urbanos, aonde não chegou um ensino regular de qualidade. O mesmo se diga em relação às populações pobres e periféricas das grandes cidades.
Considero a disciplina nas escolas e no trabalho intelectual como uma questão de convivência. Pode ser a convivência com os outros, pode ser a convivência consigo mesmo.
A convivência está intimamente ligada à identidade da pessoa. Em geral quando uma escola está com um acúmulo de problemas no relacionamento com os alunos ou com os responsáveis pelos alunos ou com o corpo docente, ela precisa rever duas coisas ao mesmo tempo: as suas normas em relação ao paradigma educacional da instituição e a evolução do conceito de identidade através do tempo.
Algumas práticas pedagógicas dentro de escolas e de conventos podem fazer mais mal do que bem.
Li em artigo recente um indigenista afirmar que os índios não batiam nos filhos. Mas, infelizmente, sacrificavam crianças quando suas mães morriam após o parto, costume que na década de sessenta grassava entre os irantches, no Mato Grosso.
De onde se espera a paz, surge a guerra contra os que pensam diferente e acreditam de modo diferente dos outros. Lá pelo ano 2.500 a.C. na região do atual Iraque, surgiu um filósofo chamado Mani que disseminou uma doutrina com dois polos antagônicos: o bem e o mal; o certo e o errado, numa total dicotomia. O resultado era simples e objetivo: quem não está comigo, está contra mim.
Os pais que criam filhos de qualquer maneira e sem responsabilidade entregam-nos à cilada do desemprego futuro e às possibilidades de se libertarem das escravidões em que vivem.
Se um docente sabe e não ensina; ensina e não pratica e ignora e não pergunta é um miliciano desta cripteia modernizada através destes três pecados capitais da pedagogia, segundo o monge Beda.
Há que se considerar, quando se analisa a violência, os comportamentos de várias gerações. Para os nascidos na geração baby boom, da década de 1950, tudo era proibido. O autoritarismo imperava. O poder paterno e do professor eram inquestionáveis. Parecia que estávamos dentro do domínio religioso romano mais rígido, expresso pela expressão latina: “Roma locuta, causa finita”. Roma falou, acabou o debate!
A violência deve ser dissecada para que haja reflexão acerca de suas consequências. Quando uma menina foi morta no estado de São Paulo por ter caído ou ter sido jogada de um andar elevado, a mídia apresentou casos graves, filmados em consultórios médicos onde radiografias davam conta de múltiplas fraturas em crianças que eram violentamente espancadas pelos pais.
Há quem busque a causa da violência entre os transtornos causados pela reação Schumann, experimentada pela primeira vez em 1952. Este cientista estudando as pulsações dos vertebrados e da atmosfera, medindo-as em hertz, constatou que havia um perfeito equilíbrio. Toda a atmosfera e os vertebrados vibravam a 7,2 hertz.
O que ocorreu com o acompanhamento da atmosfera e dos vertebrados até o final do século 20 e início do século 21 foi uma aceleração da pulsação da atmosfera que envolve a terra, chegando a 13 hertz, enquanto os vertebrados permanecem em 7,2.
As portas das escolas estão abertas e novos alunos, com valores bastante diferenciados de seus professores e até dos projetos pedagógicos das escolas, sentam-se nas salas de aula. Como conviver com eles? Primeiro é importante compreendê-los. Eles já são adoolescentes do século 21 e, nós, professores do século passado. Há uma necessidade urgente de compreensão.