Um alerta: o suicídio está aumentando entre as crianças

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Gosto mais de escrever sobre as alegrias que sobre as tristezas. Relutei comigo mesmo em abordar esta questão e conclui que, se não a fizesse, seria uma covardia. Não alertaria para uma realidade que vejo crescente, dado que viajo e faço palestras em todas as regiões brasileiras.

Há alguns anos, foi fato isolado, embora tenha chamado a atenção, um aluno de um colégio militar do Rio de Janeiro ter praticado o suicídio depois de ser chamado à frente de todos e receber uma reprimenda por causa de uma “cola” numa prova. Esta criança enfrentava uma tarefa estafante porque, pelo amor à vida militar, vivia uma jornada dupla para conseguir aprovação num ensino médio de sua preferência e que antecederia ao ingresso na Academia Militar de Agulhas Negras.

Ainda considerado um caso perdido e afeto à cidade de Porto Alegre, o suicídio de um adolescente detectado pela internet por uma menina canadense que se comunicou com a Interpol, oportunizando os contatos até aos bombeiros da capital gaúcha, desencadeou uma corrida contra o tempo. Quando a porta do apartamento foi arrombada o adolescente estava asfixiado e morto por inalar gás de cozinha.

Já mais recente, um aluno do interior do estado de São Paulo, querendo dar um susto na professora usou uma pistola do pai e atirou na professora. Quando viu a sua mestra caída ao chão e o sangue escorrendo, atordoou-se e atirou na própria cabeça, matando-se.

No Rio de Janeiro, um aluno de sexto ano teve de trocar de colégio. Mesmo ajustando-se às novas turmas e aos novos amigos, não esqueceu as amizades que fizera no colégio anterior. Atirou-se do sexto andar do prédio, vindo, em seguida, a falecer.

Causou-me grande impressão a agressão com que uma criança foi tratada pela família, quando os informou sobre a própria homoafetividade, sendo taxado de endemoninhado e doente psicologicamente. Este, especificamente, quase se matou, no entanto a ajuda recebida o salvou naquele momento, embora não tenha diminuído a pressão que recebe de seus familiares.

No entanto, chamou-me mais a atenção quando, numa capital de um estado brasileiro, localizado ao norte de Brasília, surgiram dois casos de suicídio por enforcamento, ambos dentro da escola, tudo levando a crer que se tratava de uma grande angústia por parte das vítimas, diante das reações das estruturas das famílias e da própria escola religiosa, ante o mesmo fato da homoafetividade.

Creio que chegou o momento para uma obrigatória reflexão dos professores, diretores de estabelecimentos de ensino e educadores com papeis relevantes dentro das escolas, para encarar os problemas das crianças e adolescentes dentro do processo de acolhida que a pessoa humana requer. Mesmo que o educador não compactue com o comportamento observado, nem aceite as reações das crianças, que reflita sobre a necessidade de acolher alguém com absoluta necessidade de receber apoio psicológico.

Estabelecer mais pressão, seja por mecanismos sociais ou religiosos, nada contribuirá com o restabelecimento da paz necessária para que as reflexões possam florescer.

O que tenho a dizer neste artigo aos educadores de todas as tendências é que usem a voz do amor e da acolhida, nunca brandindo a espada de um “anjo” com as características de expulsor de algum pecaminoso do paraíso. Amem as pessoas e sejam, antes de mais nada, especialistas em gente.

E, se são religiosos ou tementes a Deus, que repensem que todos são criados à imagem e semelhança do criador. O que cada fiel poderá ou não fazer como processo de “pertença” dentro de uma religião, cada religião, por sua vez, determinará. No entanto, a acolhida, em qualquer circunstância sempre fará parte do que representa de mais divino dentro dos aspectos humanos que manifestamos.

As nossas crianças estão se matando por causa de uma grande desconexão com a sociedade e a vida. Elas ainda esperam por uma voz nossa que tenha a coragem de em cada mão e cada olhar representar a acolhida do Criador.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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