Pátria Educadora: ajustes ou contradições?

terça-feira, 04 de agosto de 2015

O slogan adotado pelo atual governo federal, “Pátria Educadora”, é uma aplicação em maior abrangência do conceito de “Cidade Educadora” aplicado há mais de trinta anos na América Latina. A visão deste conceito observa que tudo na cidade deve “respirar” educação. Tanto o trânsito, quanto as escolas e demais serviços existentes devem incluir em seus propósitos a educação. Se o guarda chama a atenção de uma pessoa que atravessou fora da faixa de pedestres, isto é educação. Um servidor de segurança e apoio que exija que um cidadão trate com urbanidade quem o atende no caixa de um banco está contribuindo com a educação. O mesmo se diga do professor, que deve exigir um comportamento social dos alunos compatível com a convivência visando um aprimoramento humano. Quando uma merendeira numa escola ou o jardineiro da prefeitura chama a atenção para não desperdiçar comida ou cuidar das plantas que enfeitam um jardim, de fato, estão ajudando a educação. Como se vê, o conceito é muito mais abrangente do que se possa pensar. Seria dizer que a educação não cabe somente à família ou à escola, mas está afeta a todos os demais serviços dentro de uma cidade. Em nosso caso, considerando-se o lema adotado pelo governo federal, tudo no país deveria respirar educação. Esta tarefa não é fácil, estamos iniciando um governo com muitas complexidades e embates políticos e econômicos. Nada melhor do que este lema para que as pessoas se conscientizem das amplas obrigações educativas.

Tanto os juízes quanto a polícia federal atuando na operação “Lava Jato” estão exercendo uma função educativa porque um povo educado não deveria transgredir as leis, sejam elas sociais ou econômicas.

Nossa visão, no entanto, ainda marcada pelo cartesianismo procura tudo dividir. Uns acreditam que a obrigação de educar é só da família e, à escola, cabe instruir. Mesmo sendo função precípua da escola, instruir, dela não se tira a obrigação de educar.

Assim observando, o todo que envolve este conceito é muito mais amplo e não se pode pensar que uma determinada medida, como cancelar neste ano a avaliação da alfabetização ou priorizar a conclusão das obras das creches já em andamento, deixando novas obras para o ano seguinte que o lema estará comprometido.

Dentro de uma visão mais curta pode-se pensar que qualquer medida de ajuste na educação deveria ser motivo para se questionar o lema em sua totalidade.

Der fato, melhor seria se não tivéssemos crise. Com ela, devemos ajustar muita coisa.

Suspender momentaneamente uma avaliação que custa mais de duzentos milhões ou priorizar a conclusão de obras é uma medida que pode ser perfeitamente assimilada ao longo de um prazo médio e que indique responsabilidade do Ministério da Educação com a proposta de uma Pátria Educadora.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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