A relação professor-aluno em sala de aula - Parte 3

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Jean Piaget, no livro “A formação moral da criança”, orienta-nos para a seguinte sequência: a criança nasce na anomia, quando não sabe o que é certo ou errado, cresce dentro da heteronomia, ocasião em que os outros indicam os caminhos. Pais, mães, professores, irmãos mais velhos, padrinhos etc, dizem o que está certo e o que está errado. Vale dizer que os que estão envolvidos com a educação devem assumir compromissos com o educando, não temendo dizer o sim e o não. As crianças precisam aprender a lidar com essas duas palavras. Porque se o educador, em casa ou na escola, não souber fazer estas diferenças, não quiser ser chamado de “careta”, esta criança não saberá o real significado do sim e do não. A consequência é fácil de ser compreendida: o dia em que “rolar” a droga na festa, como ele não é “careta”, jamais dirá não! Fumará todas, beberá todas e cheirará todas as drogas oferecidas.

Por fim, o objetivo de Piaget é que haja um crescimento na direção da autonomia. O ser humano só poderá ser considerado educado se atingir as relações autônomas. Um heterônomo saindo de uma cidade do interior para um curso técnico em outra cidade, se não tiver autonomia e depender de alguém para acordá-lo, poderá perder o semestre do curso. As três fases fazem parte da educação. Só assim o educando chegará a um nível mais desenvolvido de sua educação e terá condições de crescer pelo resto da vida através da autoeducação.

O nosso futuro dependerá da educação que nossas crianças receberem hoje e, em nosso relacionamento com eles, em sala de aula é preciso que se discuta muitas vezes a importância dos limites e o valor do afeto. Se um professor gostar da disciplina que leciona, certamente obterá disciplina em sala de aula e seu relacionamento será harmonioso. Portanto, deixem que as crianças gostem de vocês, professores! Por falta da formação afetiva e do debate sobre valores vemos a mídia estampando cenas de horror que retratam até assassinatos provocados por conflitos entre os alunos ou mesmo entre alunos e professores.

Relacionar-se bem com os alunos não significa nivelar-se a eles. O aluno precisa perceber que um professor, por mais diálogo que tenha, representa a autoridade em sala de aula. Ao mesmo tempo em que apresenta conhecimento e linguagem adequada para ensinar e habilidade para reunir atenção e prontidão geradoras de melhor aprendizado é uma pessoa que preza o ser humano, respeitando-o e orientando-o. Afinal, não lidamos com pregos, martelos ou chaves de fenda, lidamos com pessoas. Por isso, nossa primeira especialidade deverá ser especialista em gente; depois, em educação e, em terceiro lugar, na disciplina que lecionamos. Muitas vezes pensamos de modo contrário, ou então, somos altamente cartesianos quando desejamos que a escola instrua e a família eduque. Por mais que a educação deva vir de casa, esta dicotomia é danosa. Muitas vezes a família também instrui e os professores educam além da disciplina que lecionam. Será a competência do professor, esta sim, a primeira plataforma para ganhar a confiança e admiração dos alunos. São estes, competentes e dedicados que se transformam em consultores e conselheiros de muitos alunos.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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