Parem de interferir na fé dos outros!

terça-feira, 21 de julho de 2015

Fé é dom gratuito. Uns têm e, outros, não. Ficar fazendo apologia de uma determinada fé é cabível quando ela não envolve a satanização de quem não adere. Aqui é uma questão de educação, de civilidade, de compreensão sobre a liberdade do outro e sobre a singularidade do outro.

Se o país, pela Constituição Federal, é laico, as pessoas podem não ser e ter direitos a frequentar e praticar a sua religião sem ser molestados, usando outra prerrogativa Constitucional que é o direito de ir e vir, de pensar e de se associar.

Cabe aos governantes e demais autoridades exigirem o cumprimento das leis porque apedrejar uma pessoa por causa de sua fé é crime que pode configurar uma lesão corporal e até a morte.

São, portanto, irresponsáveis aqueles religiosos que pregam a intolerância e que, ao mesmo tempo, esperam as decisões do Supremo Tribunal Federal para entrar nas escolas e ensinar a sua fé para os que quiserem ouvir.

Não vejo com bom olhos as cores que estão sendo impregnadas nos horizontes. Se o ensino religioso tiver uma cor cinzenta dado que a legislação deseja um ensino não proselitista, pergunto, então, a quem ele interessará? Se for proselitista, não estará adequado às propostas legais. Mas o que mais me preocupa é a transformação das escolas em palcos de disputas, agressões e ofensas mútuas, onde cada um defende a sua fé como único caminho para se chegar a Deus.

Caso tal situação seja configurada pela falta de preparo dos docentes, as escolas em vez de serem locais onde os alunos devem aprender a conviver, será um espaço onde haverá o aprendizado da violência que, na verdade, fere todo e qualquer princípio religioso que visa aproximar as pessoas, porque, se há um criador, as criaturas serão a sua imagem e semelhança.

Hoje, é verdade, os professores costumam ser até agredidos pelos discentes e até por algumas famílias. O que desejo saber é se algum professor de ensino religioso agredir verbalmente ou fisicamente um aluno, se ele será corrigido pelas secretarias de educação, tanto quanto os demais profissionais das disciplinas acadêmicas. Espero que não seja a religião um escudo para a prática de desumanidades porque, se as que ocorrem em via pública adentrarem as escolas, teremos uma deseducação religiosa.

Bons eram os tempos em que pessoas ligadas a várias confissões ministravam ensinamentos nas igrejas, templos e escolas numa ação totalmente gratuita.

Não podemos confundir a ação virtuosa de quem ensina alguma doutrina religiosa com a ação voraz de quem quer, a qualquer custo, um contrato pago pelo poder público.

Como o panorama se apresenta, o ensino religioso poderá ajudar na melhoria da convivência, no entanto, como alguns se comportam na sociedade, não será novidade se o dano for pior que a proposta.

 

 

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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