Um sonho, um projeto, uma grande realização

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Há algumas semanas, soubemos que os ministérios da saúde e educação confirmaram as instituições vencedoras para implantar cursos de medicina pelo país, incluindo algumas capitais e, sobretudo, cidades do interior. Poderia falar de muitas instituições agraciadas com projetos arrojados e aprovados. Muito em breve não necessitaremos de médicos estrangeiros interessados em trabalhar no Brasil. Recentemente, a chamada de quase 5.000 médicos para o programa “Mais Médicos” foi praticamente atendida com médicos brasileiros que resolveram se inscrever e partir para o interior.

Dentre as instituições com projetos aprovados está a Faculdade Ages, sediada em Paripiranga, no sertão da Bahia. Esta faculdade cuidará da medicina numa cidade próxima, Jacobina, também no interior do mesmo estado, iniciando o curso com 55 vagas.

Mas, por que este foco, em vez de concentrar-me no curso a ser implantado no Hospital Albert Eisntein em São Paulo? Porque o Albert Einstein é conhecido, sempre apareceu na mídia e o Brasil ainda não conhece muita coisa importante e de alto valor que se esconde pelo sertão.

Paripiranga não atinge 30.000 habitantes, mas o número de alunos da Ages supera 7.000. Lá existem vários cursos, inclusive os que são mantidos pelo MEC para várias licenciaturas, ocupando 600 vagas por período. E sabemos que a Bahia carece de professores licenciados. Abrigando um curso de direito e engenharia, além de pedagogia, administração de empresas e muitos outros, esta faculdade é o resultado de um sonho que se inicia há algumas décadas, quando seu diretor Professor Wilson dá o primeiro passo decisivo em sua vida. Criança ainda, concluindo a alfabetização, teve pela frente a única ferramenta de trabalho: a enxada. Ele opta por trabalhar durante o dia e, à noite, continuar seus estudos. Assim caminha até o final do ensino básico. Trabalhando em Salvador conclui o ensino médio e forma-se em Aracaju no curso de pedagogia. Se a vida custou-lhe suor e lágrimas ela trouxe para fora da mente e do seu coração um sonho antigo: criar uma instituição educacional. E foram surgindo os primeiros prédios, as primeiras ladeiras, centros de convivência e salas de aula. Tive a felicidade de contribuir com esta instituição quando tudo estava engatinhando e o sonho posto em prática. Lembro-me de ter partilhado com Vasco Moretto, Celso Antunes, Celso Vasconcellos e Pedro Demo muitos congressos de educação reunindo alunos que chegavam dos municípios vizinhos coalhando de ônibus a pequena Paripiranga. Hoje, alunos de 105 municípios da Bahia, Sergipe e Alagoas são beneficiados pelos cursos da Ages, aproveitando sua posição estratégica.

Espantei-me de felicidade no último congresso de que participei quando vi que ilustres palestrantes de tribunais da Bahia desciam de helicópteros para assumir a tribuna nas palestras para o curso de direito.

À época, com pouco mais de 4.500 alunos, um show com Ivete Sangalo abrilhantou o encerramento do congresso.

Imponente neste sertão, onde em algumas épocas do ano o azul do céu contrasta com algumas nuvens brancas, está o conjunto arquitetônico da faculdade, hoje envolvendo com permuta com a Prefeitura Municipal o parque das palmeiras com as nascentes. As águas canalizadas percorrem a entrada dos prédios, envolvem o centro de convivência e banham uma réplica da Torre Eiffel com 25 metros de altura. Mas, como esta torre foi construída? De modo simples e criativo. Um serralheiro de Paripiranga aumentou proporcionalmente cada pedaço de uma pequena torre, lembrança da original comprada junto a um vendedor na cidade de Paris. O resultado é interessante: Parispiranga a cada dia consegue substituir a Paripiranga oficial. Olhando para a língua indígena diríamos: a terra vermelha dá lugar à Paris vermelha, embora as cores da Ages sejam azuladas.

A realização está lá e se expande para Jacobina dando ao interior baiano a oportunidade de formar médicos e, digo mais, sem susto de errar, sem medo de realizar um curso de excelência porque esta é a principal marca das Faculdades Ages, este o resultado de um sonho que parte de um casebre feito em barro de sopapo, atravessa as lavouras, segue até duas capitais, Salvador e Aracaju e, quando retorna, planta um projeto arrojado cujo resultado é visível.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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