Fato recente tomou conta dos noticiários no Brasil acerca de uma escola do Rio de Janeiro que enviava os deveres de casa através da internet. Os alunos que dessem conta de todos os exercícios poderiam ser beneficiados com mais um ponto na média do bimestre. A crise foi iniciada quando a escola descobriu que todas as respostas estavam num site de relacionamento de uma das alunas.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A sociedade brasileira trocou o conservadorismo de muitos anos por uma postura mais leve, onde princípios e valores do passado foram substituídos por atitudes antes condenadas nos salões, nas escolas e na convivência entre as pessoas.
No ambiente escolar o autoritarismo deu lugar a uma série de permissividades compatíveis com novos tempos, em que os alunos e mestres quase se confundiam, trabalhando no mesmo patamar como se fossem colegas de profissão.
A educação que queremos não pode estar ligada a dois radicalismos ainda existentes: reprovação automática e aprovação automática. Isto porque enquanto a primeira denota uma incompetência da escola, como estrutura que deve ser capaz de ensinar, a segunda é claramente a demonstração de falta de ética.
A princípio pode parecer um paradoxo, mas não é. O problema tem solução dentro de algumas circunstâncias e são elas que identificam a educação que queremos.
Vivendo na sociedade do conhecimento, o profissional precisa conhecer muito bem o que ele irá fazer, portanto o período de preparação deve ser vivido com toda a atenção para não se perderem oportunidades de maior aprimoramento.
Ouvindo uma palestra, chamou-me a atenção um outro significado dado a um pensamento de William Shakespeare. O autor inglês dizia que “quando o mar está calmo, todo barco navega bem”. Causou-me surpresa e espanto, exatamente, a paráfrase: “quando o mar está calmo, qualquer imbecil se estabelece”.
Os atentados recentes ocorridos na Europa e, sobretudo na França, colocam em cheque um dos conceitos mais disseminados neste início de século, o multiculturalismo.
Pensava, sobretudo o ocidente, que ainda tem a intenção de mandar e desmandar no mundo, que seria possível a convivência de seres humanos, vivendo costumes, sistemas morais e religiosos diferentes. Como o ocidente pensa dentro dos parâmetros democráticos, a convivência entre seres incomuns e de costumes bastante peculiares era tido como possível.
As mais recentes informações dão conta de alguns percentuais sobre a alfabetização no Brasil que podem espantar os leitores. Temos, na realidade, 36% de alfabetizados de alto nível. Estes além de saber ler e escrever interpretam textos complexos e usam vocabulário adequado e sofisticado conforme a circunstância exige.
Dentre os sete códigos de modernidade apresentados pelo colombiano Bernardo Toro, o que se refere à matemática explicita que calcular é fazer contas e solucionar problemas diz respeito à vida.
O ensino de matemática, no Brasil, está centrado em calcular, o mesmo que as máquinas fazem, esquecendo-se de todo o restante. Quando os nossos alunos são submetidos a testes de proficiência em matemática, como ocorre em todas as avaliações do Pisa para os países signatários do OCDE, o fracasso fica estampado.
Quando alardeamos nossos percentuais acima de 90% de presença das crianças na escola, referimo-nos ao ensino básico. Mesmo assim há mais de três milhões fora da escola estando em idade escolar. Perdemos de longe para o Japão, a Holanda e para os países do cone sul, nossos vizinhos.
Quando adentramos ao ensino médio a realidade é mais séria. Enquanto a média brasileira relativa à frequência à escola não atinge o percentual de 83%, no Nordeste este índice está em 48%. Há, portanto, uma grande massa de jovens que não está se preparando para o Brasil de hoje e de amanhã.
Nem solucionamos os problemas de aprendizagem no ensino superior e nem superamos as deficiências do uso de duas ferramentas antigas - lápis e papel - e nos deparamos com as possíveis revoluções dos tablets.
A sociedade organizada, sobretudo a industrial, engessou a universidade, estruturou cursos, definiu programas e a formação profissional, inclusive para lá se trabalhar.
Já percebeu o que dizem a respeito das pessoas? Basta nascer que você está a 24 horas da putrefação! Você nasce e começa a perder forças até a morte! Coisa mais triste, não pode existir. A visão passada por esta mentalidade é a de tratar as pessoas como se fossem máquinas.
Isto acontece com as máquinas. Estas, depois que saem das lojas para as residências ou para as estradas e águas deste planeta, começam a se tornar velhas. Vão envelhecendo e perdendo as forças até serem deixadas em algum ferro-velho.