Foi emocionante a cerimônia de premiação do 3º. Concurso Nacional Júlio Salusse em que foram premiados autores de textos em prosa e poesia sobre Machado de Assis. O momento nos fez lembrar que Nova Friburgo sempre acolheu artistas, principalmente os da literatura. A nossa cidade, situada num dos pontos mais altos da Mata Atlântica, é, realmente, uma parada a caminho do céu, como descreveu poeticamente JG de Araújo Jorge, outro acolhido por este lugar aos pés do Caledônia.
Momentos Literários
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Sobre o solo nascem pérolas verdes. Ferreira Gullar brotou entre raízes tropicais e sobreviveu aos impasses da vida, escrevendo para não sucumbir à dor e ser feliz. Viajou no Trenzinho Caipira, fazendo seu destino serpentear terras brasileiras afora, embelezando-as com seus poemas de palavras simples, até chegar nas estrelas, onde vai ficar. Não solitário. Sem descansar e ao lado de tantos outros escritores, ah!, ele vai nos inspirar.
No Clube de Leitura desta semana, falamos a respeito do diário e do seu valor na vida da gente. Diário não é só coisa de adolescente, em que pode haver um beijo de batom para descrever aquele que aconteceu no cinema e de um bilhete escrito num guardanapo de papel colado no centro da página. Diário é um caderno de sempre. Quando preenchemos suas páginas com nossos registros diários, pensamos no que vivemos e não deixamos passar as minúcias e levezas despercebidas.
Pouco conheci Dirce Montechiari, mas gostava dela pela simplicidade e brilho nos olhos. Sua partida deste mundo me tocou e me fez pensar o que acontece a nós quando um artista morre. Não podemos ser indiferentes com as pessoas que coexistem conosco, principalmente os artistas que encontram modos fora do nosso comum para falar do nosso existir.
“A literatura é um assunto sério para um país, pois é, afinal de contas, o seu rosto.”
Louis Aragon
“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.”
Clarice Lispector
A coluna anterior desencadeou esta quando falei sobre a linguagem acadêmica e a espontaneidade na expressão escrita. A gente faz literatura porque a vida não basta, é pequena demais para a grandiosidade da imago que guarda a completude, enquanto profundeza de imagens, afetos e desejos. Ah, Fernando Pessoa fazia ponderações sobre a vida como ninguém.
Será que vou conseguir escrever esta coluna brincando com palavras, experimentando a descontração?
As coisas, às vezes, tanto se parecem, que causam dúvidas, quiçá equívocos. O que é um? O que é outro? Ora, é assim que acontece na literatura; sê conto, sê crônica. Ambos conversam com o leitor de formas diferentes. Desde sempre, as pessoas se convidavam para conversar e, hoje, esse convite acontece assim: vamos tomar um café? Que tal happy hour? Quer dar uma caminhada? Coisas do tempo... Mas na literatura a forma continua a mesma.
Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépido de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivicada, alimentada por milhões de indivíduos solidários, cujos atos e trabalhos, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história.