Vez em quando, a Lua prateia o céu e os poetas

quinta-feira, 08 de dezembro de 2016
Foto de capa

Sobre o solo nascem pérolas verdes. Ferreira Gullar brotou entre raízes tropicais e sobreviveu aos impasses da vida, escrevendo para não sucumbir à dor e ser feliz. Viajou no Trenzinho Caipira, fazendo seu destino serpentear terras brasileiras afora, embelezando-as com seus poemas de palavras simples, até chegar nas estrelas, onde vai ficar. Não solitário. Sem descansar e ao lado de tantos outros escritores, ah!, ele vai nos inspirar.

A vida não basta. Já dizia Lacan. Já dizia Pessoa. A arte existe como completude da aflição. De um aperto no peito. Da insegurança e da incerteza. Da tontura face o desejo que nos é essencial. A arte é a metáfora deste espaço não preenchido dentro de nós. É uma estrada de felicidade. Por fazê-la. Apenas. Ferreira era feliz porque se lambuzava com palavras e coloria as cenas do quotidiano de furta cor. Mas ao fazer a arte da palavra, nosso poeta, José ou Ribamar, tinha um vazio imenso que pouco cabia em seus poemas.  Seus versos revelavam tal inquietação. Tocava almas. Nos dias de sol, como o som da flauta; nas noites de inverno, como o ranger dos tambores.

Gullar escrevia de sol a sol. Escrevia ensaios e biografias, era crítico de arte e tradutor. Foi poeta, além de tudo. Tocava as almas dos navegantes.

Suas poesias o revelam como um conhecedor da existência humana em sua singeleza. Em nossa integridade, somos desprovidos de ornamentos ou enfeites de luxo. Nascemos nus. Mostrou-nos inteirezas e incompletudes em suas palavras. Sempre claras. Arejadas. Como janelas abertas.

Sua simplicidade estava longe da ingenuidade. Gullar era sincero. A sinceridade não tem meias palavras. Portanto. Seus versos eram inteiros. Talvez por isso, agora, escrevo com tantos pontos, deixando as vírgulas para fora do papel. Ao escrever sobre este poeta brasileiro, sinto necessidade de respirar fundo, encher os pulmões de ar para fazer meu coração bater com força e jogar sangue no meu corpo efêmero e incerto. Pontuo e paro. As vírgulas me fazem respirar curto e Ferreira não era pequeno. Era imenso.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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