Dados do MEC dão conta de que 93% das escolas têm computadores e até internet, o problema está no uso dessa ferramenta de modo correto.
O que vejo em muitas escolas são caixas de computadores guardadas dentro de secretarias ou bibliotecas sem que haja iniciativa de abri-las e colocá-los para funcionar.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
É verdade! Quando conversamos com os adolescentes e jovens temos de tomar muito cuidado com o nosso vocabulário e nossas expressões. Muitas vezes eles detestam conversar conosco, exatamente, porque não nos entendem.
Você se lembra de uma expressão de alguns anos, quando uma pessoa repetia uma história ou novamente contava a mesma piada? Nós dizíamos: vire o disco. Cuidado, um jovem de dezessete anos não sabe o que é "virar o disco” porque ele não conviveu com o disco de vinil.
Nos antigos tempos bíblicos, as crianças estudavam em casa com os pais. Havia mais tempo que hoje. Mesmo assim, tão logo a vida apresentou exigências maiores, as escolas passaram a ser abrigadas pelos templos.
Se você me perguntar se uma criança poderia aprender tão bem em casa quanto na escola, responderia que sim. Foi o meu caso. Estudei em casa e ingressei na escola na terceira série do ensino básico, depois de fazer uma prova de nivelamento.
O projeto do governo federal Mais Educação é, em si, uma boa ideia porquanto prevê a permanência da criança na escola por mais tempo, o que permite um aprendizado cultural muito maior do que o tempo em que se dedica a ouvir aulas.
O que no momento é evidenciado é o início da aplicação de um projeto sem que muitas escolas tenham condições de abrigar as crianças porque suas dependências já estão ocupadas pelas crianças do turno seguinte.
Quando o II PND propõe a organização escolar pública em sistema integral, atingindo 50% das escolas até 2020, está atendendo à emenda constitucional número 20, votada e promulgada em relação à Constituição de 1988. "Até os dezesseis anos os jovens não podem trabalhar porque estão na escola”, assim reza o texto. Na verdade, até o momento, eles encontram-se na escola em um turno e, em seguida, desenvolvem várias atividades, inclusive degradantes, como o tráfico de drogas e a prostituição.
Numa fábrica de papelão, quando falta um funcionário na esteira de seleção de material para ser reciclado, os demais ainda conseguem fazer o trabalho.
Numa escola é diferente. Se um professor tiver quatro aulas num turno, divididas por algumas séries, no caso de alguma falta, durante este tempo a coordenação do setor deverá prover alguma outra atividade porque terá quatro turmas sem professor e sem atividade acadêmica. O transtorno é patente e muito maior do que o ocorrido numa esteira de fábrica.
O mundo ocidental influenciado por uma cultura judaico-cristã assimilou os conceitos do aristotelismo depois que Santo Tomás de Aquino conseguiu "batizar” este filósofo não cristão imbuído de ética e de valores que poderiam ser anexados ao cristianismo.
As mais recentes informações dão conta de alguns percentuais sobre a alfabetização no Brasil que podem espantar os leitores. Temos, na realidade, 36% de alfabetizados de alto nível. Estes, além de saber ler e escrever, interpretam textos complexos e usam vocabulário adequado e sofisticado conforme a circunstância exige. São, aproximadamente, sessenta milhões de brasileiros acima de quinze anos de idade.Um pouco menos de 10% da população acima dos quinze anos é analfabeta. Não sabe ler nem escrever. Quando muito assina ou desenha o nome. São treze milhões e meio de brasileiros.
Em décadas passadas, os professores alertavam para uma distribuição da população brasileira representada por uma pirâmide de base larga, com muitos jovens e uma alta mortalidade infantil.
Quando alardeamos nossos percentuais acima de 90% de presença das crianças na escola, referimo-nos ao ensino básico. Mesmo assim há mais de três milhões fora da sala de aula estando em idade escolar. Perdemos de longe para o Japão, a Holanda e para os países do cone sul, nossos vizinhos.
Quando adentramos ao ensino médio a realidade é mais séria. Enquanto a média brasileira relativa à frequência à escola não atinge o percentual de 83%, no nordeste este índice está em 48%. Há, portanto, uma grande massa de jovens que não está se preparando para o Brasil de hoje e de amanhã.