Não adianta falar mais que o ensino médio vai mal. Além de baixos, estes resultados não evoluem.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
“Eu tive fome e não me deste de comer, por isso sofro a ignorância e jamais consegui aprender.” Do livro: Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo.Ainda estamos sentados sobre uma “bomba” humana que pode explodir, embora muitas ações tenham amenizado essa situação social grave, com consequências econômicas afetando a estabilidade do tecido social.O “bolsa família”, apesar de criticado, vem apresentando resultados importantes.
Esta identificação é fácil. Imaginemos que nosso cérebro é uma grande sala cheia de cabides para dependurar roupa. Se eu recebo uma peça de roupa, deixo-a dependurada num dos cabides.A roupa representa o conhecimento novo com o qual tenho contato e o cabide o conhecimento prévio que tenho em meu cérebro.Daí decorre a teoria do aprendizado significativo de David Ausubel. Podemos ter uma aprendizagem mecânica e, outra, significativa.
Pós-doutores em ciências da computação já dão conta da existência de chips que podem ser implantados no cérebro de uma criança ao nascer, permitindo que milhares de informações sejam transferidas, poupando a pesquisa para encontrá-las. Estamos muito próximos de um ciborgue e de pessoas que, ao nascer, tenham muitas informações além do sugar e segurar com a mão.O grande impacto causado pelos chips é marcadamente ético. Que tipo de informação deve ser implantado? Que informações morais e religiosas seriam admitidas pelas famílias?
Dados recentes da imprensa indicam faltas mensais em alguns estados brasileiros acima dos 20% quando se trata de presença de docentes nas salas de aula. Quem lida com gestão escolar sabe muito bem que faltas acima de 2% criam problemas para a vida escolar. Mas, esta é a questão: por que os professores faltam muito e até adoecem? Não me refiro aos faltosos por questões de descompromisso.
Há algum tempo está sendo discutida essa questão e sua definição não obedece a critérios intempestivos traçados pelo governo federal. Era, portanto, esperada. Quando nos deparamos com o percentual de 22% incidindo sobre o piso nacional do magistério e vigorando a partir de janeiro de 2012 alguns ficam boquiabertos diante de uma inflação com índices muito menores.
Em 1992 escrevi um texto com o mesmo título deste artigo, antes mesmo do programa de cestas básicas, onde chamava a atenção para a triste realidade de crianças que não aprendiam porque passavam fone. Este texto faz parte do livro “Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo”, hoje com 70.000 exemplares vendidos e já na 27ª edição.Nós podemos pensar na fome qualitativa e quantitativa. Se não conseguimos viver com a fome quantitativa, com a qualitativa, vivemos sim, mas precariamente.
Geralmente a adolescência e a juventude são fases de grandes visões heroicas, de buscas por ideais e metas quase inatingíveis. O que acontece com nossa sociedade para que, no Brasil, já se ostente o suicídio de adolescentes como a segunda causa de morte, no Rio Grande do Sul, e, nos Estados Unidos, a primeira? Creio que o primeiro aspecto a ser considerado é que as crianças não brincam mais. Elas compram brinquedos que enchem armários de suas casas. Mais ainda, as crianças não constroem mais seus brinquedos.
Em décadas passadas, os professores alertavam para uma distribuição da população brasileira representada por uma pirâmide de base larga, com muitos jovens e uma alta mortalidade infantil.Aos poucos esta imagem foi mudando, a mortalidade infantil, ainda elevada, diminuiu bastante, o crescimento vegetativo é muito próximo de 2% e, como consequência, nossa distribuição de população passou a ter outra imagem. De pirâmide, passamos a uma gota.
Conta-se que esta foi a resposta de um cidadão inglês, quando questionado sobre o custo da saúde e da educação. Incisivo, respondeu: Aposte na doença e na ignorância.O Brasil encontra-se em momento único da distribuição de sua população, com crescimento do grupo ativo que necessita melhorar os níveis de competência. Não havendo essa mudança, continuaremos com alguns patamares ruins em nossa economia.