Aprender a conviver

quarta-feira, 07 de agosto de 2013

O mundo ocidental influenciado por uma cultura judaico-cristã assimilou os conceitos do aristotelismo depois que Santo Tomás de Aquino conseguiu "batizar” este filósofo não cristão imbuído de ética e de valores que poderiam ser anexados ao cristianismo. 

Ao assimilar Aristóteles o ocidente maquiou-se de machismo, seja porque Aristóteles julgava, como afirma Maturana no livro Amar e Brincar, que os caracteres hereditários eram transmitidos somente pelos homens, como também, pelas afirmações do próprio filósofo em relação à submissão das fêmeas aos machos em toda a estrutura animal, em sua obra "Política”.

Somando-se as características machistas aristotélicas às bases estruturais da sociedade indo-europeia patriarcal, o somatório resultou numa estrutura educacional de convivência a transmissão de valores dentro da escola privilegiando o masculino, o racional com predomínio machista.

As separações somadas aos conceitos da psicologia da época e da biologia da época, que supunham ser a inteligência da mulher inferior à do homem, redundavam numa sociedade que rejeitava o voto da mulher e discriminava os salários, ficando os homens com aqueles bem mais elevados. 

Continuava o império do aristotelismo da submissão do animal ao homem e da fêmea ao macho em todos os reinos como medida de melhor relacionamento explicitada no capítulo segundo de "Política”.

Na verdade essas relações representavam o reflexo da submissão do corpo à alma, também como um conceito aristotélico.

Os anos sessenta levaram a ONU a votar uma declaração de não segregação, envolvendo raça, sexo, cor e credo, que foi assinada por inúmeros países, entre eles o Brasil. Em 1968 o Congresso Nacional Brasileiro votou, para consolidar em âmbito nacional, tal declaração. 

As escolas mais conservadoras, hoje, começam a estabelecer datas para que o sistema misto passe a vigorar. No entanto ainda há quem duvide da eficácia dessas escolas apresentando algumas experiências irlandesas onde se dá conta de que o desempenho acadêmico dos educandos é melhor se eles estudam em salas separadas por gênero. 

Esta é a questão: em detrimento dos valores acadêmicos comete-se, na minha ótica de educador, uma ação contra a convivência, necessária para a complementação humana. 

Ninguém nega a necessidade do aprender a CONHECER e o papel das escolas em ensinar com qualidade. Mas as escolas são espaços mais complexos, onde a parte acadêmica é um dos componentes. O SER precisa desenvolver-se e crescer. Convivendo, os educandos conhecerão melhor o outro, o que é necessário para o desenvolvimento da cidadania. Em meio ao aprender a FAZER pode-se trabalhar em equipe e aprimorar-se mais ainda esse nível de conhecimento. Assim há ensino e educação, ambos mesclados de tal maneira que acabam se confundindo, porém, beneficiando as pessoas. 

Essa atitude preconceituosa e traumática que acaba desabando sobre as mulheres, iniciando-se o processo nas escolas é algo abominável num mundo carente de solidariedade. Interessante que muitas escolas pregam a unidade e segmentam todo o tempo, inclusive as pessoas; pregam esperança e matam a convivência.

E como tal fato é mais comum dentro de escolas dirigidas por pessoas que abraçaram o celibato por livre vontade, seria importante que pensassem que os educandos podem não desejar para si este estilo de vida e, para tanto, uma educação que permita a convivência de gêneros e respeito devido entre eles é uma necessidade urgente para equilibrar esta sociedade mergulhada no desrespeito, no consumismo e onde as pessoas podem ser transformadas em mercadorias.


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante. www.hamiltonwerneck.com.br

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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