Houve uma evolução no processo de aprender e de ensinar. Se quisermos, podemos considerar uma volta ao espírito tribal. Em uma tribo indígena, o que um sabe os demais também sabem. A sobrevivência faz com que se ensine tudo a todos, menos os segredos do pajé, que, mantendo-os a sete chaves, garante o poder sobre a tribo. Foi o que vi, em Mato Grosso, na década de 60, em algumas tribos em uma aldeia missionária de Utiaharity, localizada a uns 650 quilômetros a noroeste de Cuiabá.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
Enquanto a sociedade da primeira onda era a sociedade do sobreviver, a sociedade de segunda onda é a sociedade do fazer. Vive-se hoje em um tipo de sociedade em que a tônica é conhecer. Existe uma febre, em nossos dias, correspondente ao desejo de novidades e de coisas diferentes. Isto é inerente ao ser humano e pode ser constatado ao longo da história. No período das grandes navegações, havia um desejo incontido por riquezas, especiarias e sedas do Oriente. Àquela época, navegadores e aventureiros conseguiam trazer essas riquezas para a Europa e encantavam os habitantes.
O ser humano evoluiu bastante entre a era das máquinas e a era das pessoas. A década de 90 mostrou que as emoções deveriam voltar a fazer parte do cotidiano das pessoas. A era das máquinas marcou este ser humano pela dependência de sistemas, em que o racional, com toda a sua força, determinava o caminho de cada um. Cenas comuns da vida mostravam o quanto se matava nas pessoas a emoção. Quem não se lembra de cenas simples, em que crianças com o joelho ferido vinham correndo ao encontro dos pais, chorando de dor, e ouviam simplesmente: - Cale esta boca... homem não chora... pare de chorar!
Além das crenças e dos valores, a sociedade do século XXI é a sociedade do cérebro. Já podemos dizer que a década de 1990 foi a década do cérebro, quando muitos estudos foram realizados explorando as múltiplas inteligências e, mais ainda, quando se deixou de fazer comparações com os computadores – retrato de uma visão tecnicista – e partiu-se para uma visão mais ampla e abrangente: a floresta tropical.
Há alguns anos, o ensino em um curso visava atender aos objetivos do programa, medindo-se em seguida o que os interlocutores aprenderam. Quando se apresentava um produto, ocorria coisa semelhante. Os produtos eram apresentados ao mercado, que aguardava o comportamento do consumidor, quase obrigado a comprá-los pela falta de opções.
Durante muitos anos, encarava-se a questão da crença dentro dos parâmetros da fé religiosa. Tratava-se de um valor espiritual. Este valor continua existindo. A questão que se impõe neste início de século e que envolve as empresas de educação e demais empresas de produção é ainda a crença. Contudo, essa crença tem hoje conotações bem ampliadas, porque existem os que acreditam por razões de fé e os que não têm fé em valores espirituais e precisam acreditar em alguma coisa para levar adiante sua empresa ou participar dela com entusiasmo.
Quando aprendemos a nadar ou a andar de bicicleta, nós o fazemos com os dois lados do cérebro. São aprendizados integrados. Conjugamos os movimentos dos braços, das pernas e da cabeça, equilibramos o corpo, movemos membros de ambos os lados, exigindo que nosso cérebro trabalhe de maneira conjugada. O resultado é impressionante: aprendemos e nunca mais nos esquecemos desse aprendizado. Muito diferente é quando aprendemos com uma única parte do cérebro: decoramos e, em seguida, esquecemos.
O que se espera de um profissional para nossos dias é essa capacidade de integração entre a razão e o afeto, para se apresentar à sociedade e ao mundo do trabalho como pessoa equilibrada e adaptada aos tempos. A resistência a esse tipo de integração remonta a tempos históricos muito longínquos e reflete uma questão de separação dos gêneros. Sempre se deu ao homem uma tintura de racionalidade, de dureza no trato com a vida e no enfrentamento direto de problemas.
Se o mundo industrial chegou à produção em série e homogeneizou peças e utensílios, os avanços dessa mesma indústria – que usa um robô com possibilidade de manejar tipos diferentes de tintas para pintar qualquer objeto – foram caminhando para a variedade. Vivemos a época em que os produtos são diferentes uns dos outros, incorporando diferenças para atender às exigências dos mercados.
Se o antigo paradigma dava atenção ao produto, o atual dá especial atenção ao processo. Dar atenção ao processo não significa trabalhar em detrimento do produto, como pensam os conservadores que fixam o olhar no produto final. Quando os serviços dentro de uma fábrica ou dentro de uma universidade são avaliados com a ótica antiga, trabalha-se a avaliação como se estivéssemos dentro de uma fábrica da Ford no início do século 19.