Emoções

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O ser humano evoluiu bastante entre a era das máquinas e a era das pessoas. A década de 90 mostrou que as emoções deveriam voltar a fazer parte do cotidiano das pessoas. A era das máquinas marcou este ser humano pela dependência de sistemas, em que o racional, com toda a sua força, determinava o caminho de cada um. Cenas comuns da vida mostravam o quanto se matava nas pessoas a emoção. Quem não se lembra de cenas simples, em que crianças com o joelho ferido vinham correndo ao encontro dos pais, chorando de dor, e ouviam simplesmente: - Cale esta boca... homem não chora... pare de chorar! E a criança, sentindo muita dor, era induzida a engolir o choro, liquidar com a sua emoção de dor e esconder um sentimento que, depois, reapareceria nas gastrites, nos nervosismos, nas noites mal dormidas e na insegurança em relação à vida. A década de 90 veio para liberar o choro do ser humano, homem e mulher. Todos passaram a ter direito de chorar. Onde se reprime o choro, estará uma civilização atrasada, reagindo de modo grosseiro em face da vida.

A educação da emoção faz parte da vida. Não se trata de saber amar; trata-se, sim, de sentir o amor pelas pessoas e pelas coisas. A cumplicidade só existe se houver sentimento. Sem o sentimento, não poderá haver compaixão e, sem esta, não será possível estabelecer parâmetros para uma ética adequada ao tempo de nossas vidas. Reações absurdas por falta de sentimento, mas em nome de um degradado sentimento, ainda pairam no ar: “matar por amor” é uma delas. Quem ama, ama, não mata! O ato de matar, eliminar uma pessoa, é um ato de desamor e de desequilíbrio do ser humano. O desamor faz romper limites que deveriam ser próprios de pessoas equilibradas e, por consequência, educadas. Como muito bem expõe a escritora e psicóloga Tânia  Zagury, em seu livro Limites sem trauma, “limite é ser capaz de conviver com as frustrações e adiar satisfações... limite é dizer sim, sempre que possível, e dizer não quando necessário”. Se a criança não sabe conviver com os seus limites e precisa aprender sobre eles, o adulto que não tem limites não chutará uma porta, mas matará seu interlocutor ou desafeto. É a falta de controle das emoções reprimidas, por um lado, e soltas, por outro, que faz matar e aumentar a violência no mundo. O profissional deste século precisa conviver e acreditar na força da emoção, pois é ela que torna uma equipe sinérgica, aquela que é capaz de fazer com que o todo seja maior que a soma das partes. Ou como diz a música: “como 2+2=5!” O profissional deste século deve entender que o ser humano completo é dotado de razão e sentimento e não separar os dois, mas reuni-los para um melhor serviço. Assim, atingirá os objetivos que traçar. É bem verdade que alguns confundem essa questão das emoções e cometem equívocos que merecem ser esclarecidos. Essa emoção, quando tratada em relação ao trabalho e às demais ações de uma pessoa, não significa, simplesmente, ser simpático ou ser capaz de por para fora tudo o que angustia. As pessoas muitas vezes devem e precisam enfrentar problemas que possam significar um não, pouco simpático, embora dito com um coração que ama. O marco mais importante das emoções está em ser capaz de colocar-se por inteiro na empreitada, sem que o ser esteja dividido, imaginando-se frio e racional na hora em que deve decidir e quente e emocional na hora em que deve amar. 

Além dos erros de significado desse deve, o ser humano precisar reunir os elementos que lhe são inerentes para poder sentir as decisões e escutar bem o seu coração. Mesmo que muitos autores tenham abordado a questão do sentimento como aumento da subjetividade nos julgamentos, hoje, depois dos estudos de Daniel Goleman sobre a inteligência emocional, verifica-se que, sem ela, tudo se torna mais difícil. No entanto, quando a consideramos no contexto das decisões, podemos concluir que verdades do passado nada têm de substância no presente: os resultados das escolas e universidades podem ser completamente diferentes na vida. Um aluno de baixos índices pode ser realizado na vida. Portanto, não se pode admitir que um professor diga a seus alunos que eles não terão futuro na vida por causa de uma nota baixa. A prova disso é que as escolas costumam trabalhar com a inteligência racional, e a vida, nas suas mais variadas circunstâncias, proporciona o uso de uma outra inteligência, a emocional, que facilita a solução de problemas e o encaminhamento de questões que, a princípio, passariam desapercebidas a quem só desenvolveu o lado racional. As pessoas que lidam bem com inteligência emocional são capazes de informar sobre algo muito desagradável e, ao mesmo tempo, receber o apoio dos ouvintes. Eles não apelam simplesmente para a lei e a ordem, não apelam para as normas existentes. Se, de um lado, não as contradizem, de outro, com habilidade, as promovem, apelando para o lado emocional das pessoas. Daí a importância delas no contexto do trabalho e da vida.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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