As características do profissional na sociedade do conhecimento - A comunicação

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Houve uma evolução no processo de aprender e de ensinar. Se quisermos, podemos considerar uma volta ao espírito tribal. Em uma tribo indígena, o que um sabe os demais também sabem. A sobrevivência faz com que se ensine tudo a todos, menos os segredos do pajé, que, mantendo-os a sete chaves, garante o poder sobre a tribo. Foi o que vi, em Mato Grosso, na década de 60, em algumas tribos em uma aldeia missionária de Utiaharity, localizada a uns 650 quilômetros a noroeste de Cuiabá. Também nessa mesma década, o “papa” da comunicação, Marshall McLuhan, defendia a comunicação global, imaginando o planeta Terra comunicando-se como uma aldeia eletrônica. Primitiva ou moderna, a comunicação é uma necessidade. Daí se extrai um ensinamento básico que orienta a estratégia para as escolas e universidades, para as fábricas e demais serviços. Não adianta saber se não se souber comunicar. 

Nas escolas, é importante que os alunos tão logo saibam alguma coisa passem a trabalhos em grupo para comunicar aos demais o que aprenderam. De um lado, aprendem mais, de outro, comunicam e, ainda, passam pela experiência de uma educação personalizada e em grupo, ou seja, comunitária. Em uma indústria do passado – por exemplo, em uma indústria têxtil –, ocorre a mesma coisa. Lembro-me de estar em uma tarde comprando alguma coisa em uma delicatessen do bairro onde resido. Conversavam dois proprietários de pequenas empresas de moda íntima, que conseguiram sobreviver depois de muitas demissões nas grandes fábricas. Essa conversa pareceu-me significativa porque uma empresária perguntava ao outro se ele estava contratando os demitidos das fábricas tradicionais. A resposta foi negativa, com a alegação de que os empregados demitidos estavam acostumados a trabalhar em uma única máquina, enquanto os dele atuavam em máquinas diferentes. Terminada a compra na delicatessen, eu tinha a compreensão da situação: os demitidos eram oriundos de fábricas típicas de uma segunda onda industrial, que primava pela disciplina, pela ordem e pelo controle, e até pelo controle de cada operário, deixando-o capacitado para fazer apenas uma coisa. A nova situação em que se encontrava a pequena empresa era diferente e adaptada à sociedade do conhecimento: todos entendiam de todas as máquinas. A mentalidade daquele microempresário era oposta à do empresário tradicional de uma grande fábrica, porque ele desejava a mobilidade cada vez maior de seus funcionários e, para tanto, precisava que eles conhecessem mais coisas e se comunicassem a respeito do funcionamento das máquinas. A comunicação maior aumentava o conhecimento e agora garantia o trabalho.

São duas as situações apresentadas, e bem diferentes, mas a mentalidade é comum a ambas: comunicação. Este é o caminho para a sobrevivência, que, aliado à criatividade de que já falamos, dará às pessoas, a segurança. Portanto, o conceito de segurança mudou, ele está centrado no conhecimento e na liberdade. Está centrado, ainda, na variedade do conhecimento. As pessoas que, em décadas passadas, só sabiam fazer uma coisa e continuaram empregadas por muitos anos em um mesmo local acabaram por perder-se na mesmice e na artrose das empresas de segunda onda. 

Conhecer está além de, simplesmente, fazer cursos; conhecer, hoje, inclui o conceito de comunicação do conhecimento, sem o que pouco se aproveita. Um profissional deste século precisa estar plugado, navegando pelas infovias disponíveis, enviando e-mails para todos os cantos e usando a Internet para aumentar sua comunicação e seus conhecimentos; não podendo estar alheio aos sites sociais. Além de profissional bem preparado, ele precisa estar em contínuo aprimoramento. O argumento de que os computadores são caros pode muito bem significar falta de criatividade para adquiri-los, seja por causa dos financiamentos existentes, seja porque não é necessário comprar um computador muito avançado para quem está começando. O importante é estar com instrumentos certos para aumentar a comunicação.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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