Cérebro

quarta-feira, 08 de agosto de 2018

Além das crenças e dos valores, a sociedade do século XXI é a sociedade do cérebro. Já podemos dizer que a década de 1990 foi a década do cérebro, quando muitos estudos foram realizados explorando as múltiplas inteligências e, mais ainda, quando se deixou de fazer comparações com os computadores – retrato de uma visão tecnicista – e partiu-se para uma visão mais ampla e abrangente: a floresta tropical. Nosso cérebro passou a ser considerado, de modo ecológico, como uma grande floresta diversificada, uma perfeita comunidade-clímax que trabalha constantemente e de modo diferente, conforme suas regiões.

Todo cérebro precisa de alimentação. Cérebros enriquecidos podem desenvolver células novas no hipocampo, conforme relatos da pesquisadora Dra. Henriette Van Praag, do Instituto Salk, de San Diego, Califórnia. Organização e criatividade, respectivamente, lado esquerdo e direito do cérebro, agora integrados, significam pessoa mais capaz e mais inteligente. Diz-se ainda que as pessoas que aprendem com os dois lados do cérebro sempre se lembram do que aprenderam, todavia não conseguem esquecer o que aprenderam.

O melhor exemplo está na natação e no andar de bicicleta. Essas duas coisas são aprendidas com os dois lados do cérebro. É impossível, então, desaprender um e outro. Quando decoramos, usamos somente um lado do cérebro e, portanto, esquecemos em pouco tempo. Por isso, diz-se que os alunos em escolas pouco criativas decoram, fazem prova e esquecem. O estudo, assim, torna-se enfadonho, e a escola, sem sentido.         

Pior de tudo é que esses estudantes, acostumados com esse estilo de aprendizado, querem desenvolvê-lo dentro das faculdades, buscando decorar procedimentos para serem aplicados aos trabalhos profissionais de médico, dentista, advogado etc.

A visão segmentada do cérebro atrapalha o ato de estudar e desliga a pessoa de seu meio ambiente, da criatividade e do saber mais profundo. Se estamos no século do cérebro, nossos recursos passaram a ser ilimitados. Os recursos naturais e econômicos são limitados. O importante é explorar esse cérebro, agora descoberto, com imenso potencial. O pensamento projetivo de que fala Edward de Bonno é dos elementos mais importantes para serem desenvolvidos dentro das universidades e do mundo criativo. A tendência para a repetição é a grande inimiga desse comportamento, fazendo com que as pessoas olhem para trás. Ensina-se o que ocorreu no passado e nós precisamos ser homens e mulheres do futuro. O pensar projetivo nos faz aprender hoje, tendo em vista o amanhã.

Edward de Bonno nos conta, em relação a esse aspecto do pensamento, que os astronautas russos e americanos, enquanto treinavam em câmaras sem gravidade, deveriam fazer relatórios usando canetas esferográficas. Sem a força da gravidade, a caneta não escrevia, sua tinta escorria e flutuava dentro do simulador de nave espacial. Os americanos resolveram o problema acoplando uma pequena válvula de pressão que empurrava a tinta em um determinado sentido; os russos, no entanto, resolveram o problema de outra forma: abandonaram a caneta e passaram a usar o lápis. Claramente, um pensou em direção ao futuro, e o outro, em direção ao passado.

A história ensinou quem ganhou a corrida espacial. Na vida, é importante saber calcular. Existem muitas máquinas que fazem cálculos. Tomar decisões não é prerrogativa das máquinas, é prerrogativa do ser humano. As tomadas de decisão sempre têm em vista o futuro, porque é para lá que nos dirigimos. É mais importante dedicar o tempo do aprendizado a tomar decisões e desenvolver a criatividade do que, propriamente, dedicá-lo a fazer grandes séries de contas.

A grande revolução que está ocorrendo na era do conhecimento consiste em um fato simples, porém de grande poder de transformação. Algumas pessoas, por exemplo, estão tão conscientes de que o cérebro é importante que não querem ser proprietários de sítios e fazendas: querem, simplesmente, produzir e vender informação. Se olharmos, hoje, o Congresso Nacional Brasileiro, teremos uma grande teia formada por pessoas que compõem aquele espaço. Enquanto alguns vêm de um Brasil de terceiro ou quarto mundo e são eleitos pela força da terra ou da produção gerada pela máquina, outros ali estão porque foram apoiados pelo poder da informação e do conhecimento. Na era da informação, o que se vende não provoca a queda do estoque. Aí está a grande revolução! Quando vendemos um apartamento, o vendedor perde o apartamento e o comprador, o dinheiro.

Quando vendemos conhecimento, não o perdemos; pelo contrário, podemos aumentá-lo. Pode existir algo mais curioso que isso? A informação é disseminada em alta velocidade. Até a fofoca pode ser incluída nos mecanismos de comunicação, e seu poder é inestimável. Há profissionais que não dão valor às fofocas, existem políticos que fazem a mesma coisa e acabam sendo engolidos por elas.

A informação corre a altas velocidades, porém, por não ser incorporada, não gera conhecimento. Quando uma informação provoca uma mudança comportamental, então passou a ser geradora de conhecimento. Por isso, diz-se que temos informações demais e conhecimento de menos. Vejamos, por exemplo, o que acontece com os professores: quanto mais ensinam, mais aprendem. Não perdem o estoque de conhecimentos que adquiriram, mas, a cada aula que ministram, a cada conferência que fazem, passam a conhecer mais.

Dentro de uma universidade, enquanto os alunos adquirem conhecimento, a universidade não tem, em momento algum, perda de seu estoque. Por isso, percebemos que o cérebro é fantástico neste momento de uma revolução incomparável na sociedade humana. O poder está no cérebro nessa era do conhecimento. Aprender e comunicar o que se aprendeu fazem parte da vida neste momento de nossa história.

Antes, a oferta de um prato de comida significava menos comida na cozinha; hoje, um conjunto de conhecimentos em nada diminui o estoque em nosso cérebro.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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