A humanidade evoluiu e desaguou na era industrial, em que o tempo, reforçado pelos conceitos de Newton na era moderna, passou a ser considerado absoluto. Os filósofos consideravam o tempo como o número ou a medida do movimento. A influência matemática e mecanicista transformava o tempo em número fluente e contínuo. A principal distinção que se fazia estava ligada à duração deste mesmo tempo.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
Um paradigma muito forte na civilização que dominou o século 20 é o reducionismo. Retornamos à velha Grécia e encontramos Aristóteles, que pensava que somente os homens passavam a carga genética para os filhos, buscando reduzir tudo à expressão mais simples. Daí por diante, as pessoas foram orientadas pelos estudos e pela vivência a “reduzir”. Por exemplo, um professor muitas vezes só entende uma avaliação quando a reduz aos números entre zero e dez.
Quando algum amigo falece, a gente deixa tudo de lado, vai ao velório e segue ao sepultamento ou cremação. Hoje esta coluna de educação para a sequência e segue um velório à distância porque o amigo padre Pecci faleceu. Parece estranho, mas recebi pêsames pelo falecimento dele, como se fosse um parente. Tratava-se de mãe de um aluno do Anchieta que sabia que nós éramos amigos.
Se analisarmos a vida ao nosso redor, encontraremos uma série de elementos, todos segmentados. Ao longo do tempo, aprendemos, seja pela vida, seja pela história, a dividir as coisas. É verdade que, nas empresas, nas universidades e, até mesmo, nas escolas, convivemos com as divisões: as disciplinas estudadas eram divididas. Podemos lembrar que, em Português, tínhamos um professor de Língua, outro de Literatura e, ainda, outro para Redação.
Em todo o Brasil há uma grande variedade de livros didáticos provenientes das aquisições do próprio Ministério da Educação e dos editados por sistemas de ensino. A grande diferença está na gratuidade dos livros distribuídos, enquanto os demais devem ser adquiridos pelas prefeituras. Mas, diante dessas opções, por que alguns ainda querem comprar se há oferta gratuita?
Nem solucionamos os problemas de aprendizagem no ensino superior e nem superamos as deficiências do uso de uma ferramenta antiga, lápis e papel e nos deparamos com as possíveis revoluções dos tablets. A sociedade organizada, sobretudo a industrial, engessou a universidade, estruturou cursos, definiu programas e a formação profissional, inclusive para lá se trabalhar.
A primeira ideia que deve ser descartada na escola de tempo integral é a do aproveitamento do tempo para incluir mais aulas e mais disciplinas no currículo já saturado. Numa escola de tempo integral os alunos deverão continuar com um máximo de cinco aulas propedêuticas por dia. O restante do tempo será dedicado a outras atividades de cunho cultural, estudo individual que é o que está faltando na escola brasileira.
A escola surgiu porque as famílias não conseguiam mais educar seus filhos, mas a educação no passado era familiar e muitos protelavam a ida das crianças para a escola.
Ao longo do tempo a sociedade mudou, sobretudo com a revolução industrial. O advento da internet leva novamente as famílias a pensar nessa possibilidade de manter os estudos em casa.
No Brasil já há iniciativa no legislativo para discutir a proposta que pode ser transformada em lei. As famílias com condições técnicas e culturais poderiam, então, educar seus filhos em casa.
Há uma grande diferença entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos em relação à educação. Os mais avançados tecnicamente procuram, por meio da escola, promover as pessoas e resgatar a cidadania de seus estudantes, transformando-os em pessoas capazes de enfrentar as mudanças de seu tempo, em meio ao avanço das técnicas e recursos humanos. Os menos avançados e, sobretudo, os mais atrasados, fazem o inverso, estruturam a educação em padrões capazes de eliminar os estudantes e podá-los do sistema de ensino.
Muitos professores sentem-se realizados quando percebem o aprendizado dos alunos, sentem a validade de suas aulas. Alguns estão simplesmente satisfeitos quando ensinam e os alunos aprendem, mas, o importante, muito além das fronteiras do ensino-aprendizagem, é o ato de educar, porque ele inclui uma série de valores a serem discutidos com o educando, reavaliados além dos objetivos cognitivos, provocando no educando a oportunidade indispensável de questionar os valores passados pela escola e pelos professores.