Crenças

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Durante muitos anos, encarava-se a questão da crença dentro dos parâmetros da fé religiosa. Tratava-se de um valor espiritual. Este valor continua existindo. A questão que se impõe neste início de século e que envolve as empresas de educação e demais empresas de produção é ainda a crença. Contudo, essa crença tem hoje conotações bem ampliadas, porque existem os que acreditam por razões de fé e os que não têm fé em valores espirituais e precisam acreditar em alguma coisa para levar adiante sua empresa ou participar dela com entusiasmo.

Nunca, talvez, se tenha falado tanto de entusiasmo e motivação. A etimologia da palavra entusiasmo vem do grego enthéos, possuído pelo espírito divino. O verdadeiramente entusiasmado está possuído de Deus e, por isso, reflete uma imensa alegria e satisfação. As empresas, as escolas e os partidos políticos necessitam desse entusiasmo e da motivação necessária para levar adiante uma campanha política, o interesse pelos estudos ou pelo aumento da produção. Em uma sociedade voltada para valores materiais, torna-se difícil conciliar essa questão da crença com a falta de fé de ateus práticos que povoam as cidades e as empresas.

Há fenômenos que podem ser detectados na sociedade pós-industrial, como grandes aglomerações por causa da fé em Deus. São movimentos de peregrinos, são organizações que divulgam seus cantores e animadores, são missas e cultos com a presença de muitos fiéis, são revigoramentos carismáticos envolvendo pessoas. Podem ser grandes manifestações na Índia, no Japão, na Arábia Saudita ou na Europa Central. Essas manifestações fazem parte do momento. Se um determinado animador não surgisse, outro, certamente, ocuparia o espaço.

O padre Marcelo Rossi, que atua principalmente em São Paulo, é bastante divulgado pela mídia; tanto quanto em outras épocas o foi o padre Zezinho, que continua suas ações de evangelização por meio do canto. Mas, se um e outro surgiram em épocas diferentes, outros teriam surgido se eles não tivessem existido. Tudo isso faz parte de uma característica do início deste século. Voltamos a salientar a necessidade da fé.

As marchas com Jesus, organizadas pelos evangélicos, no Brasil recebem adesões de milhares de pessoas por causa da fé. O mesmo se diga das jornadas internacionais de jovens católicos como a que ocorreu em 2013, no Rio de Janeiro, com a presença do papa Francisco. Como ficaria, então, a questão da fé para aqueles que não prezam valores espirituais? Continua valendo a mesma tomada de consciência, embora haja uma mudança significativa na definição de crença. Este início de século ressalta a necessidade de se acreditar em alguma coisa.

Se não houver fé de cunho espiritual, será uma fé de cunho material, podendo ser um projeto, uma campanha, uma série de metas traçadas e aceitas pelos grupos envolvidos. O fato é que, sem uma crença em alguma coisa, pouco ou nada será conseguido, e as pessoas estarão desestruturadas pela falta de motivação que as conduza aos objetivos finais. Podendo-se conjugar as duas coisas, será melhor.

Aqueles que têm fé em valores espirituais conseguem desenvolver uma prática de crença em outros valores, de outros projetos, com maior facilidade. Os demais também poderão obter êxito, sua crença e seu foco, porém, serão diferentes. Então, quando se ouvir falar em crenças, é importante levar em conta esses dois tipos de conceituação. Nem sempre um marqueteiro estará pregando fé religiosa, nem um pregador, em seu templo ou igreja, estará fazendo o mesmo marketing.Essas distinções precisam ser bem avaliadas, e somente um discernimento seguro traçará os rumos a serem seguidos.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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