Que semana, amigos alvinegros! Talvez uma das semanas mais Botafogo do ano. O amor e o ódio, a vontade de desistir e persistir. O sonho, o retorno à realidade e a vontade de voltar a sonhar. A depressão e a alegria. As dúvidas e as certezas, os “poréms” e os “de fato”. O clube e a sua torcida. A vaia e os aplausos. O Botafogo e... O Botafogo. Único, inexplicável. Irreverente, cômico, revoltante, emocionante. Claro e escuro, simples e profundamente complexo. Se pudéssemos transformar a palavra contradição em uma personagem ela certamente vestiria preto e branco.
Estrela Solitária
Duas semanas de magia, euforia, emoções, decepções, vibração. Olhos ligados, coração a mil, incertezas, momentos conturbados e outros de extrema alegria. Olimpíadas? Sim, também... Mas principalmente Botafogo! Parece que o espírito olímpico contagiou General Severiano. A chama dos Jogos reascendeu o ímpeto de um Gigante, tão grande quanto os nossos heróis do vôlei masculino. O chute de Sassá no primeiro gol contra o Sport não chegou a ser uma largadinha, mas com uma boa dose de sorte subiu o suficiente para vencer Magrão.
Um dos clubes mais tradicionais do planeta terra completou 112 anos no último dia 12. A história do futebol jamais teria sido escrita sem o brilho do preto e branco. As duas cores que, desde 1904, jamais precisaram da mistura de qualquer outro colorido. A trajetória de uma instituição é construída por pessoas, obviamente. Mas elas passam. E nada e nem ninguém foi, é ou será mais importante que o clube. O Botafogo de Futebol e Regatas é a sua torcida, a sua gente, a sua história. Ninguém mais.
O jornalista precisa ter a sensibilidade para entender o momento e transcrever para o papel todo o sentimento com responsabilidade. Mas essa leitura nem sempre é feita a partir de linhas e palavras. Há imagens que descrevem perfeitamente tudo o que um escritor gostaria de transcrever. E assim aconteceu depois do jogo entre Botafogo x Palmeiras deste domingo. Confesso que não sei de quem é o registro, mas ali estava Neilton, com o número sete às costas, braços erguidos em direção ao céu, a apaixonada torcida alvinegra desfraldando as bandeiras e transbordando em alegria ao fundo.
Evolução sem vitórias. Mudanças sem a devida efetividade. Posse de bola sem a esperada criatividade. Organização e consciência tática sem fugir do óbvio. Aliás, obviedade e Botafogo não combinam desde 1904, quando aquele grupo de estudantes decidiu, ainda em sala de aula, criar um time de futebol. Não sei se esse detalhe já foi revelado, mas pelo menos este que vos escreve não tem conhecimento do fato. De qual disciplina era aquela aula? Certamente não de matemática, pois o Botafogo está longe de ser uma ciência exata. Português... Talvez não, tampouco geografia ou ciências.
Torcer pelo Botafogo é um teste. Difícil e prazeroso. Um grande desafio, quase que uma sina. Em dado momento do clássico houve quem perguntasse, perplexo com o que acontecia na Arena: o que eu estou fazendo aqui? No fundo o botafoguense sabe de sua missão e o porquê de lá estar, vestindo a camisa mais tradicional do país, cantando e vibrando pelo seu grande amor. Mesmo sem nenhum motivo para acreditar, ele sempre possui todas as razões para crer. Ali ele estava porque foi escolhido para fazer a diferença, e não apenas número. Ali, de fato, o alvinegro predominava nas arquibancadas.
Estava eu em uma cobertura normal de final de semana, de uma competição local de futebol amador em Nova Friburgo. Era domingo, pela manhã, antes de Botafogo x Santa Cruz, por mais uma rodada do Campeonato Brasileiro. Olho para o lado e vejo uma linda criança, vestida com a Gloriosa camisa alvinegra, ostentando pouco abaixo de seu belo sorriso a inconfundível Estrela Solitária no peito. Como quase sempre acontece, um “invejoso” questionou o porquê de uma criança escolher o Botafogo. Apenas olhei e sorri, de forma irônica, pois preferi não discutir o indiscutível.
Já dizia o poeta Vinicius de Moraes que a formação de caráter e de identidade de uma pessoa passa também pela escolha do time de futebol. O Botafogo, por direito, fato e história, é considerado o time dos intelectuais. Daquelas pessoas que fogem ao senso comum, e possuem a exata noção que vieram a este mundo para fazer a diferença. Não apenas para ser marionete da mídia conveniente, que “inventa” grandeza para uns ou tenta rebaixar outros, sempre de acordo com o interesse de momento.
O Botafogo jogou como o antigo, mas perdeu como o atual. Quem esperava uma goleada ou um passeio do Corinthians certamente se esqueceu que do outro lado estava uma das 12 camisas de mais peso do futebol mundial (de acordo com a classificação da FIFA, vale sempre ressaltar para os rivais “desavisados”). Não importa quem representa, mas a instituição jamais perde a grandeza. O que não garante vitória, óbvio. Viver apenas da história construída não vai resolver os problemas do presente, tampouco solucioná-los a médio prazo, projetando o futuro.
Domingo, 12 de junho de 2016. Levanto cedo, tomo banho, escolho a melhor roupa. Não é um dia comum, e por isso, é necessário capricho. O melhor perfume, o tênis novo, cabelo arrumado, barba feita e coração palpitante. Afinal, é dia de encontrar o grande amor das nossas vidas! Aquele que nos escolheu logo assim que nascemos, quando olhamos para o céu pela primeira vez e uma Estrela, Solitária, passou a nortear os nossos caminhos. O brilho dela é um dos principais motivos do sorriso espontâneo, bobo, de algumas loucuras e sonhos nem sempre tão reais. Era um domingo de Botafogo!