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A imagem do Botafogo...
O jornalista precisa ter a sensibilidade para entender o momento e transcrever para o papel todo o sentimento com responsabilidade. Mas essa leitura nem sempre é feita a partir de linhas e palavras. Há imagens que descrevem perfeitamente tudo o que um escritor gostaria de transcrever. E assim aconteceu depois do jogo entre Botafogo x Palmeiras deste domingo. Confesso que não sei de quem é o registro, mas ali estava Neilton, com o número sete às costas, braços erguidos em direção ao céu, a apaixonada torcida alvinegra desfraldando as bandeiras e transbordando em alegria ao fundo. Num misto de alívio, emoção, vibração e devoção. Nada mais Botafogo. Com os olhos marejados, seria até mesmo possível encerrar o texto apenas com essa foto.
A verdade é que quando o Botafogo joga nada mais importa. Como certa vez escreveu Vinicius de Moraes, a formação da identidade de uma pessoa passa, também, pela eleição de um time de futebol. O botafoguense, de fato, é diferente. Não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania. Torcer pelo Botafogo ensina muitas coisas a respeito da nossa própria existência, e é esse sentimento que move a trajetória de cinco milhões de pessoas. Numa breve analogia com as nossas vidas, o Botafogo seria a maturidade para aceitar que tudo é perfeitamente imperfeito; todos os obstáculos, quando mais parecerem insuperáveis, serão vencidos. O Botafogo é a certeza de que, apesar de todas as incertezas, não há nada errado.
Se o adversário era o até então líder do Campeonato Brasileiro... Nada muda. Apenas a perspectiva da equipe de Ricardo Gomes com a inauguração de sua nova casa. Santa Arena! Quem é de arquibancada, e não apenas leitor ou telespectador da mídia conveniente, sabe que a torcida do Glorioso faz realmente diferença quando joga junto. Canta, e não apenas grita. Incentiva, empurra, sofre e vibra. Como escreveu Nelson Rodrigues, o torcedor alvinegro não paga ingresso para ver bom futebol ou vitórias. Paga para sofrer, entrar em campo. Esquecer que há um mundo lá fora do estádio, seja ele qual for. E a Arena Botafogo pulsa no ritmo dos milhões mais apaixonados do país. Essa pode ser – e vai ser - a diferença.
O ritmo da equipe na Arena é outro. O Botafogo, de fato, joga em casa e consegue amenizar as próprias limitações. Embora, reconheçamos, a equipe não venha jogando mal para os padrões oferecidos pelo elenco que Ricardo Gomes tem à disposição. Nos últimos jogos, o alvinegro teve boa atuação contra o Flamengo, foi minimamente competente para se defender contra o Coritiba, foi melhor que a Chapecoense e fez o suficiente para se impor contra o Bragantino. Os erros individuais e a falta de brilho ou competência - ou qualquer elemento capaz de transformar domínio em gols - comprometeram os resultados e a evolução da equipe.
Diante do Palmeiras, então, pintou a oportunidade de mostrar algo mais do que apenas o trivial. Dessa vez até aconteceram alguns erros individuais, como o de Sidão, que rebateu a bola pra frente no gol do time paulista. Mas houve entrega, coração e brilho. Alma. Por isso a foto de Neilton é tão representativa. O número sete brilhou com dois gols e uma grande atuação; A torcida jogou junto, e dos céus, veio a proteção que o Botafogo sempre precisa. O alívio? Apenas depois do gol de Camilo. É claro que o Palmeiras acharia uma forma de diminuir o marcador, gerar aquele clima de apreensão e logo trazer à tona o tradicional questionamento típico do botafoguense: será? Um placar que apontasse 5x0, talvez, não seria tão Botafogo quanto esse 3x1.
O alívio por deixar a zona de rebaixamento não pode significar conforto. A conta e o objetivo continuam sendo 45 pontos. Daí pra frente, o que vier, será lucro. Mas existe uma luz no fim do túnel desde que Camilo tomou conta do meio-campo, Airton (o mais regular jogador alvinegro) teve uma sequência e Neilton voltou a jogar minimamente bem. Canales, se ainda não marcou, é participativo. A bola não bate mais no ataque e volta. O centroavante aparece pra jogar, faz bem a parede e o pivô. Não é um craque, talvez não vá ser brilhante, mas parece funcional. Os gols serão consequência do ritmo de jogo. Com Airton, Lindoso cresce de produção, a defesa fica mais segura – apesar dos sustos proporcionados por Renan – e o time equilibra. No banco, há (ou haverá) opções, como Pimpão, Leandrinho, Salgueiro, Dudu Cearense, Victor Luiz... Enfim. O Botafogo possui o suficiente para cumprir a mínima obrigação: permanecer na primeira divisão.
Amigos alvinegros... Vivamos o momento! E o atual é o de entender as limitações, vibrar com essa ligeira evolução e manter a pegada, principalmente na Arena. É preciso também buscar os resultados fora de casa para ter uma sequência de vitórias, para transformar perspectiva em pontos. Viver o presente, sem esquecer a nossa história e preparar um futuro bem melhor. O retorno aos tempos de glórias não pode ser apenas um discurso. A imagem da camisa sete, com os braços erguidos e a torcida festejando ao fundo merece ser replicada muitas e muitas vezes daqui pra frente...
Saudações alvinegras, e até a próxima!
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