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Importância do importante
Estava eu em uma cobertura normal de final de semana, de uma competição local de futebol amador em Nova Friburgo. Era domingo, pela manhã, antes de Botafogo x Santa Cruz, por mais uma rodada do Campeonato Brasileiro. Olho para o lado e vejo uma linda criança, vestida com a Gloriosa camisa alvinegra, ostentando pouco abaixo de seu belo sorriso a inconfundível Estrela Solitária no peito. Como quase sempre acontece, um “invejoso” questionou o porquê de uma criança escolher o Botafogo. Apenas olhei e sorri, de forma irônica, pois preferi não discutir o indiscutível.
Mal sabe ele, pobre de espírito e de opinião, que não se escolhe o Botafogo. Um pai botafoguense jamais terá o trabalho de interferir na escolha do clube de coração do filho. O Botafogo não é uma escolha clubística, mas sim, um conceito de valor, tal como o caráter, moral, ética, dentre outros. O garoto vai viver o Botafogo desde o primeiro dia de sua vida, tornando a paixão pelo Glorioso um elemento marcante de sua identidade. O alvinegro, escolhido, nasceu pra fazer a diferença, e não apenas número.
Dentro desse contexto, passei a pensar sobre a definição de “importância”, que pasmem, nem sempre será um conceito na mesma linha de “importante”. Não é preciso que um pai botafoguense demonstre que é importante torcer pelo Botafogo, pois a importância dessa escolha natural estará inserida no processo de formação. É quase que como escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado. Transportando essa análise para os três últimos jogos do Botafogo no Brasileirão, o embate entre importância x importante torna-se ainda mais complexo.
O Botafogo fez um ótimo jogo contra o Internacional. Marcar seis ou sete gols no Beira-Rio seria até mesmo justo pelo o que o time produziu naquela partida. Não o fez. Falhou na defesa e passou sufoco desnecessário para sair do Sul com os três pontos. O resultado foi importante, mas nem tanto quanto a importância de ter jogado um bom futebol, ter “recuperado” Neilton e “encontrado" Camilo. Contra o Atlético-MG, voltar a jogar bem era importante. O processo de consolidação para reagir no Brasileiro passa por uma boa sequência de atuações e soma de pontos. Talvez o Botafogo tenha feito um dos jogos mais equilibrados na competição, mas errou muito na defesa. Cochilou no início e no final do primeiro tempo. Ainda foi prejudicado por erros grosseiros da arbitragem, e voltou a sofrer com a falta de precisão no momento de finalizar. Era importante jogar bem para dar sequência à evolução, deixando em segundo plano a importância do placar. O Botafogo, absolutamente desfalcado, perdeu para um dos melhores times do país com uma boa atuação. Suficiente, inclusive, para merecer uma sorte melhor.
A importância do bom desempenho no Mineirão foi grande. E o torcedor poderia ter a exata dimensão do quanto no jogo contra o Santa Cruz, em Juiz de Fora, onde o Glorioso sempre joga em casa. Sim, pois diferente de momentos anteriores o alvinegro tinha por que acreditar em uma vitória. Eis a importância das últimas atuações, das participações destacadas de Camilo, do crescimento de produção de Neilton... E assim aconteceu: o Botafogo fez 45 minutos iniciais de bom nível contra o time pernambucano. Camilo participativo, os dois atacantes marcando gols – Neilton e Sassá –, a defesa mais segura com o talentoso Emerson Santos e o meio mais criativo e qualificado com Pimpão auxiliando os demais atletas (embora seja fato que Pimpão ainda tem muito a evoluir, uma tendência que tem tudo para se confirmar). Quase “um sonho.”
Contudo, o time acordou - ou dormiu - e passou a viver um pesadelo quando o Santa Cruz achou o gol, aproveitando novo começo preguiçoso do Botafogo. A concepção muda, a pressão cresce, o adversário melhora. Para não perder o costume – um péssimo hábito, diga-se de passagem –, a equipe perde jogadores lesionados (Sassá e Camilo). Demora pelo menos 25 minutos para retomar o controle da partida, e mesmo assim, sofre com levantamentos à grande área do adversário. Importante vencer? Óbvio. E qual a importância de jogar bem dentro desse contexto? Depende do ponto de vista.
O Botafogo fez grande jogo contra o Inter, superando expectativas. Venceu. Importante. Fez exibição tão boa quanto (ou melhor) diante do Atlético-MG, mas bobeou, foi pouco eficaz e perdeu. Prevalece a importância de ter jogado bem. Oscilou contra o Santa Cruz, com ótimo primeiro tempo e etapa final sofrível. Qual a verdadeira importância dessa irregularidade dentro dos 90 minutos se vencer e levar três pontos era tão importante? Questionamentos que o Botafogo 2016 provoca. Sinônimos e variações de uma mesma palavra assumem vários significados dentro do universo de General Severiano. Complexo, não? O mais importante no momento, amigos alvinegros, é reconhecer a importância de cada vitória. O Glorioso precisa continuar subindo degraus, somando pontos, recuperando lesionados, encaixando reforços e evoluindo. Até onde as limitações permitirem. O número 45 é o objetivo, mas não custa buscar algo além. É de fundamental importância querer algo mais. Sonhar, sem tirar os pés do chão, obviamente, também é importante!
Saudações alvinegras, e até a próxima semana!
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