Menos racionalidade?!

domingo, 26 de junho de 2016

Já dizia o poeta Vinicius de Moraes que a formação de caráter e de identidade de uma pessoa passa também pela escolha do time de futebol. O Botafogo, por direito, fato e história, é considerado o time dos intelectuais. Daquelas pessoas que fogem ao senso comum, e possuem a exata noção que vieram a este mundo para fazer a diferença. Não apenas para ser marionete da mídia conveniente, que “inventa” grandeza para uns ou tenta rebaixar outros, sempre de acordo com o interesse de momento.

O botafoguense é racional demais. Talvez entenda mais do que deveria à respeito de futebol. Tanto que nem os jejuns de títulos observados ao longo de sua história foram capazes de arranhar o gigantismo do clube e o amor de sua torcida. Essa racionalidade faz o alvinegro entender que, num país como o Brasil (e isso, claro, infelizmente), nem sempre se ganha “apenas” dentro de campo. Ainda essa semana, este que vos escreve conversava com um amigo, ex-jogador do Fluminense, que comentava a respeito do carioca de 1971. O Botafogo ganhou dois turnos e não levou o Estadual, sendo derrotado com um gol ilegal em uma decisão que nem deveria ter existido. Este é somente um exemplo em meio a um universo de dimensões ainda maiores.

Mas sabem de uma coisa, amigos leitores... Ser racional demais atrapalha em alguns momentos! Talvez o “entender além” tire um pouco do otimismo do alvinegro, e até mesmo o afaste dos estádios. Embora existam fatores que mereçam uma atenção maior, como o conformismo pela pouca presença de alvinegros nos jogos com nosso mando. Não pode ser normal jogar para duas mil pessoas. O Botafogo é o amor da vida de quatro milhões de pessoas, e quem ama de verdade, quer o bem. Mesmo que isso custe, em dado momento, a proximidade. Ao ter a compreensão das limitações da equipe, o botafoguense acaba recuando quando deveria estar presente. Talvez, se o torcedor fosse um pouco menos “inteligente”, se preocuparia menos em analisar os fatos, e viveria de maneira mais utópica. Não que seja saudável, mas ás vezes se faz necessário.

O Botafogo versão 2016 ilustra esse pensamento. O botafoguense, dentro da sua lucidez, sabe das limitações do elenco, e principalmente, da capacidade reduzida de investimento. Se o alvinegro não tivesse esse cenário tão claro em suas análises poderia acreditar um pouco mais. O entender muito, inclusive, pode mascarar pequenos detalhes que são positivos. Ou o mais perigoso: fazê-lo esquecer do tamanho desse clube. Ganhar o Internacional no Beira-Rio ? A história mostra que não é nada de outro mundo. E por que desconfiamos tanto que seria possível? Talvez por conta da racionalidade.

Por outro lado, o botafoguense, lá no fundo, quando a raiva não sobrepõe a inteligência, sabe que o time de Ricardo Gomes não fez apresentações tão ruins nas últimas partidas. Claro que longe do ideal ou da história do Botafogo, mas dentro de um contexto aceitável. Faltava qualidade, ou pelo menos um toque dela. Diante do Inter, esse detalhe respondeu pelo nome de Camilo. Imaginem vocês, caros leitores, se a bola estivesse nos pés de Gegê na hora do passe para o gol de Neilton, ou no momento em que Camilo levou para o pé direito e marcou o terceiro gol. O que poderia acontecer? Ou, refazendo a pergunta, algo aconteceria? Em uma competição tão nivelada qualquer detalhe faz diferença, a favor ou contra. Na balança deste domingo, pesou o fator Camilo.

Este que vos escreve não considera, obviamente, a atuação alvinegra como acima de qualquer suspeita. Foram muitos os erros defensivos, e principalmente, ofensivos. O caminhão de gols perdidos pelos atacantes alvinegros quase comprometeu a normalidade da vitória sobre o freguês colorado. É algo para ser corrigido. Mas a sensação é de que esse fato torna-se pequeno neste momento, diante das perspectivas um pouco melhores. Surge um facho de luz na estrada dos louros!

Com as entradas de Pimpão e Canales – sabe-se lá quando, é verdade -, e os retornos de Carli, Emerson Santos, Lindoso (que fez bom segundo tempo) e até mesmo de Dudu Cearense e Sassá, nem que sejam como opções, o Botafogo tende a evoluir. Querem exemplos práticos do peso de tantos desfalques? Vejam o adversário, o Inter, e o Atlético-MG: elencos caríssimos, muito mais recheados que o do Botafogo, e ainda assim, qualquer ausência pesa demais. Adaptando para a realidade do Mais Tradicional, o peso dobra, por conta das limitações técnicas decorrentes das financeiras (embora o clube tenha feito investimentos questionáveis, levando em conta que quantidade não significa qualidade. Vide a diferença que um jogador de nível um pouco maior é capaz de fazer).

Talvez, amigos alvinegros, seja o momento de ser menos racional. Sem deixar de lado as cobranças, é claro. Mas que elas tenham um fundamento que não atrapalhe a dose de utopia que se faz necessária. O preto e branco com a Estrela Solitária no lado esquerdo do peito é capaz sempre de surpreender. Não nos esqueçamos desse detalhe, para que sempre lembremos o verdadeiro tamanho do Botafogo de Futebol e Regatas.

Saudações alvinegras! Que, enfim, comece o nosso Campeonato Brasileiro. Até a próxima...

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