Esse 3 de maio está estranho. Parece que a noite do dia 2, de tão mágica eu se anunciava, sequer existiu. Das arquibancadas para fora sim, das cadeiras para dentro não. Houve comunhão, mas não houve casamento. O combustível de cada um dos alvinegros incendiou o estádio, que se transformou em uma brilhante constelação guiada pelo escudo – e pelos escudos – mais bonito do mundo.
Estrela Solitária
Não pode, não dá, não vai, já era. Pode sim. É possível. Com esse time tudo pode. Não há nada impossível. Quando se entende o que é o Botafogo, o próprio Botafogo entende como e quando precisa ser Botafogo. E que me perdoem pela inversão de ideias, mas essa equipe é a verdadeira personificação do torcedor alvinegro. Consegue transformar o característico pessimismo – que é consequência de um amor incomparável – em história. O drama passa a ser tragédia e vira um conto de heróis em questão de poucos minutos. Nada mais Botafogo.
É Páscoa. Um dos períodos mais importantes para o Cristianismo, onde se envolve todo o mistério da fé que permeia tal crença religiosa. O renascimento, a ressurreição de Cristo. Na vida ressurgimos a cada queda, levantamos a cada tropeço e seguimos. No futebol, o Botafogo, talvez, seja a melhor representação da simbologia que envolve o período Pascal. Com todo o respeito ao cachorro, que tão bem representa e marca a gloriosa trajetória, o alvinegro é a materialização da mitologia da Fênix. Sem apoio de mídia ou dinheiro. Apenas com o respaldo de sua própria história.
Botafogo, meu destino... E que destino, obstinado, talvez até sem destino. Eu destino uma grande parte do meu dia, da minha vida, e faço o preto e o branco se confundirem com a minha história. Sou diferente. Sou Botafogo. Toda a América é um pouco mais Botafogo, encantada com os milhares de corações que fazem o Nilton Santos pulsar a cada jogo. Num só ritmo, de corpo e alma, com espírito de Libertadores.
Este que vos escreve pensou muito, várias vezes, se realmente valeria a pena escrever sobre este tema. Particularmente, seria muito cômodo ficar omisso diante de tantos absurdos e devaneios que a grande mídia traz à tona para falar do assunto. Mas o jornalista possui um dever para com a sociedade, o de informar com consistência e veracidade, apontando dados e fatos que sustentem o seu argumento. De escrever ou falar não o que se quer ler ou ouvir, mas o que precisa ser lido ou ouvido.
Disseram eles que depois de 2014 haveria uma estrela a menos na constelação. Logo ela, A Estrela, Solitária, exclusiva, incomparável. Só os desprovidos do mínimo de inteligência poderiam acreditar. Não há fim para o que é imortal. Não há treva para quem combina a escuridão do preto com a luz do branco. E tem ainda, como destacou o mestre Armando Nogueira, uma invenção Divina como símbolo. É ela que nos rege. Existem vários alvinegros pelo mundo, mas o Alvinegro da Estrela Solitária é único. É mágico. É Gigante.
Cadê você? Perguntam. Aqui estou. Aqui estamos. Lá sempre estivemos e estaremos. Em todas as partes, em todos os momentos. Registrando dois dos quatro maiores públicos do futebol brasileiro neste início de ano e, consequentemente, uma das melhores médias. Estamos no estádio Nilton Santos, levantando 18 mil peças, dentre os 30 mil presentes, para dizer que o Botafogo é a vida de cinco milhões de apaixonados.
Há camisas que são pesadas por natureza. Há camisas que são consideradas pesadas, mas efetivamente não possuem respaldo histórico. Entre o que é vendido e o que é realidade existe uma diferença prática. E ela só pode ser observada dentro de campo. Em um jogo importante, talvez, de Libertadores. Ser campeão ou não é outro assunto, e envolve questões que nem sempre se resumem ao campo de jogo. Mas é dentro dele que nós concluímos se ali existe ou não uma camisa pesada. O Botafogo tem. A Estrela Solitária carrega uma tonelada de amor, história, superstição e magia.
Quem é Botafogo está dormindo mal há algum tempo. Esse 1º de fevereiro que não chega! Já pulamos Carnaval, passamos pela Páscoa, estamos curtindo as festas de São João, São Pedro e o jogo contra o Colo-Colo não chega!
Eu queria escrever para aqueles que criticam a contratação de Montillo. São os mesmos que exaltam Conca, que chega machucado do lado de lá. Montillo está em boas condições físicas e vem de temporadas melhores do que o compatriota na China. Eles esquecem que a camisa sete do Glorioso é mágica!