Que saudade do Ex...

domingo, 12 de junho de 2016

Domingo, 12 de junho de 2016. Levanto cedo, tomo banho, escolho a melhor roupa. Não é um dia comum, e por isso, é necessário capricho. O melhor perfume, o tênis novo, cabelo arrumado, barba feita e coração palpitante. Afinal, é dia de encontrar o grande amor das nossas vidas! Aquele que nos escolheu logo assim que nascemos, quando olhamos para o céu pela primeira vez e uma Estrela, Solitária, passou a nortear os nossos caminhos. O brilho dela é um dos principais motivos do sorriso espontâneo, bobo, de algumas loucuras e sonhos nem sempre tão reais. Era um domingo de Botafogo! Ah, e também Dia dos Namorados... Quase me esqueci.

Falando em namoro, que saudade do meu ex! O meu ex-Botafogo. Aquele que era respeitado no Brasil e no mundo, que entrava nas competições com o objetivo de ser campeão. E carregava consigo, além da boa expectativa, uma dose de competência. O alvinegro comparecia ao estádio na esperança de ver pelo menos um de seus ídolos brilhar. Não vencer era motivo de surpresa! Como assim o Glorioso não derrotou o rival? Certamente, deu azar ou o adversário fez um excelente jogo. Especialmente no Rio de Janeiro, no Maracanã ou no Nilton Santos, onde o aproveitamento é excelente. Às vezes me pego num canto, cabisbaixo, triste, lembrando dos grandes momentos do meu amor. Como já fomos felizes juntos! Nos decepcionamos sim... Discutimos, ficamos chateados, choramos... Mas vibramos, sorrimos! E muito! Éramos bons companheiros, e nos completávamos. Parece que tudo isso terminou. Que saudade desse ex-Botafogo...

A definição de normalidade mudou. O Botafogo faz de tudo para ficar eternamente “solteiro”. O namoro com a torcida está abalado faz tempo. Ninguém resiste a tantas decepções. Ao longo dos últimos anos, ainda justificando a frase que inicia esse parágrafo, jogar com estádio cheio é artigo de luxo. Essa é uma realidade para quase todos os times do país, é verdade, mas agravada em excesso no Botafogo. Entrar em campo e ser representado nas arquibancadas por duas ou três mil pessoas passou a ser comum. O Glorioso jogou para menos de 500 torcedores esse ano, acreditem! Não aprendeu a lição, pagou para ver no mesmo estádio dessa passagem histórica lamentável, e o vexame se repetiu. Dizem que persistir no erro é...

Burrice! Desculpem, caros leitores, pelo uso de uma palavra um tanto quanto pejorativa. Mas não consigo definir de outra forma uma renovação de contrato com o Gegê. De carta fora do baralho na segunda divisão nacional, ganhou uma importância inexplicável e injustificável no Botafogo versão 2016. A insistência irrita, magoa e trás consequências práticas. A bola perdida no gol de empate do Vitória é um exemplo mais do que claro. Vou além: qual a jogada que passou pelos pés de Gegê e teve alguma sequência? Absolutamente nenhuma! Dentro desse contexto eu pergunto: insistir com ele, Bruno Silva e Ribamar é a melhor escolha?

O Botafogo maltrata demais o seu apaixonado torcedor. Começa pela montagem do elenco, passa pelas escalações cada vez mais questionáveis – este que vos escreve está cansando, até por falta de argumentos, de defender Ricardo Gomes – e termina com o planejamento pouco eficiente. Será que o clube possui algum projeto para voltar a conquistar um título nacional em um curto espaço de tempo? Não é simples, claro, mas grandes resultados são alcançados a partir de metas igualmente ambiciosas. O que não significa, necessariamente, fugir da política de austeridade. Com criatividade é possível! A alcunha "O Mais Tradicional", pelo visto, é interpretada de forma equivocada por alguns membros da atual direção.

Analisando especificamente o jogo contra o Vitória, a entrada do Sidão e os retornos de Luis Ricardo, Diogo Barbosa e Airton ajudaram a recuperar parte daquela organização e consistência defensiva do Campeonato Carioca. Apenas parte, repito. Mas as deficiências não foram resolvidas, e o torcedor alvinegro continua assistindo aos jogos sem a certeza de que vai gritar gol pelo menos uma vez. E quando grita é porque uma bola parada funcionou, o zagueiro adversário falhou ou alguma outra situação atípica aconteceu. Poucos gols neste ano aconteceram a partir da construção de uma boa jogada. Até que houve alguns bons lances neste domingo, e dois deles, inclusive, saíram dos pés do talentoso Leandrinho. Mas os atacantes são Aquino e Ribamar, e não é difícil imaginar que o gol não saiu.

Dentro deste cenário, o Botafogo encontrou o seu gol com Sassá. Criou algumas outras boas oportunidades para fazer pelo menos mais um e definir o resultado, mas novamente esbarrou na falta de qualidade. A sorte quase sempre acompanha os competentes, e talvez por isso, o “azar” do tento do Vitória nos acréscimos tenha castigado o Glorioso. Incompetente e limitado, o Botafogo é o último colocado na tabela de classificação. Injusto? Pelo o que foi produzido até aqui... Não.

Ah, Botafogo... Justamente em uma data que reflete a felicidade de um relacionamento você aplica mais um golpe decepcionante em seus apaixonados torcedores. E essa relação fica cada vez mais desgastada. Os sete mil de sempre diminuíram para três, daqui a pouco viram dois... E aonde vamos parar? Não dá para fazer loucuras, é verdade, mas uma boa dose de “irresponsabilidade”, dentro de um contexto aceitável, às vezes faz bem para a relação. Revive, reinventa, reestrutura e solidifica um grande amor. Hoje os torcedores apenas sentem saudades do seu ex-Botafogo... Até quando? Nossa próxima comemoração será a de 30 anos do Brasileiro de 1995? O que o clube tem feito para tentar mudar esse rumo? É hora de pensar. Reagir. Reascender a chama.

Saudações alvinegras, e até a próxima semana. Relacionamentos são assim mesmo, mas quando o amor é verdadeiro as dificuldades são superadas. Assim será, com a bênção de Nilton Santos.

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