Olho para o céu. E lá vejo várias estrelas, mas apenas uma brilha mais forte. Chama a atenção, atrai os olhares. Encanta. Seria apenas mais uma na constelação, não fosse ela a mais bela. Reluz com força, enfraquece, mas não se apaga. E no silêncio da imensidão dos pensamentos, ainda atônito, é pra ela que eu pergunto: por que? Seremos realmente forçados a lembrar daqueles 45 minutos impecáveis em Porto Alegre por quanto tempo? Do passe que o Pimpão não fez, da furada do João Paulo, da bola na trave do Bruno Silva. Do pênalti não marcado no Gilson no Nilton Santos. O Botafogo não merecia.
Estrela Solitária
Botafogo, meu destino... E que destino, obstinado, talvez até sem destino. Nunca pedimos nada, na verdade. Aceitamos o Botafogo do jeito que ele é, e não mudaríamos nada. Não torcemos, vivemos. Apoiamos, criticamos sim, é verdade, porque quem ama cuida. Quem ama deseja o melhor, ainda que nem sempre esse melhor seja compreensível para um simples ser humano. Mas o botafoguense não é simples, e sim complexo, completo.
Dia 10 de agosto de 2017. Lá vamos nós, de Nova Friburgo com destino ao estádio Nilton Santos. Este que vos escreve e mais quatro amigos, que assim como milhares, abriram mão de compromissos, do conforto de sua moradia, da companhia da família. Moradia sim, porque casa o Nilton Santos também é. Porque de todos os amores que temos na vida, o Botafogo é diferente. Ou seria o Botafogo a nossa própria vida, que nos ensina a lidar com os demais amores? Ainda não consigo definir.
Graças a Deus e aos movimentos populares, o tempo da ditadura foi vencido. A censura – pelo menos na teoria – já não limita a liberdade de expressão, tampouco há (ou deveria não existir) repressão às mais diversas e distintas opiniões. Mas esse texto não é direcionado a debater essa passagem na história da sociedade brasileira. Após essa breve viagem, chegamos ao assunto principal da nossa Coluna, e um dos mais importantes da nossa vida: o Botafogo.
Em 2014, praticamente foi decretado o fim do Botafogo de Futebol e Regatas. Falava-se em processo irreversível de falência, questionava-se o futuro e até mesmo o presente à época. A mesma mídia que finge desprezar o clube parece viver à espera de um deslize para transformar uma gota em tempestade. Pouco tempo depois são praticamente obrigados a noticiar o contrário, contradizendo as próprias previsões enganosas e desrespeitosas sobre um dos maiores clubes do mundo, assim eleito pela FIFA. O Brasil de uma forma geral deveria ser mais grato ao Botafogo.
Dia 7, do mês 7, do ano de 2017. Emblemático pela mágica dos números, pelo momento, pelo Botafogo. Pelo 7 que diferencia o Clube da Estrela Solitária de qualquer outro. Acordamos neste 7 de julho, mas ainda não despertamos. O sonho continua, mais vivo do que nunca. Possível como sempre. Aguardado e desejado, talvez, como jamais antes. Pela torcida, pela atmosfera, pelos resultados, pelas circunstâncias. Pelo grupo de jogadores, que carrega consigo a mesma fome de cada torcedor botafoguense. Santa comunhão!
Nos últimos 13 meses o Botafogo entrou em campo sem uma parte da sua história recente. Sem parte do orgulho de quem sabe valorizar quem valoriza a história. Sem aquele que transformou a própria história em Botafogo. Jéfferson e Botafogo, Botafogo e Jéfferson. Unidos pela singularidade capaz de transformar qualquer pluralidade em um só coração. No mesmo pulso, ritmo, sentimento. Jéfferson é o torcedor alvinegro personificado em jogador. Desde Túlio Maravilha, jamais comprei uma camisa do Botafogo sequer com o nome de quem quer que seja. A sua comprei.
E esse tal dia 14 de junho que não chega!? A expectativa é muito parecida com a da pré-Libertadores, onde cada alvinegro aguardava com ansiedade a definição do primeiro adversário, e do caminho a ser percorrido até a fase de grupos. Desafios superados, o botafoguense agora quer conhecer o próximo desafio pelas oitavas de final, rumo ao desfecho de uma das histórias mais surpreendentes do futebol mundial. Entre uma expectativa e outra, há obstáculos vencidos, sustos, heroísmo, momentos inesquecíveis, shows da torcida e alertas para serem observados.
E o Botafogo chegou. O time que não subiria em 2015, passaria por uma nova situação difícil em 2016, não chegaria à Libertadores deste ano, não passaria do Colo Colo, seria eliminado pelo Olímpia e jamais se classificaria no grupo considerado como o da “morte” chegou. Está lá, entre os 16 maiores clubes da América do Sul na atualidade. Outros, mais poderosos financeiramente, não estão. Dinheiro não ganha jogo. Pode ajudar, mas desde que a sua aplicação tenha fundamento e planejamento. O Botafogo não tem caixa, mas tem camisa - sem ironias ou piada de duplo sentido, claro.
Como assim eu não gosto de futebol? Por que então o coração começa a palpitar já na véspera de um jogo importante, ou mesmo de uma partida normal, desde que tenha a Estrela Solitária envolvida? Por que então trocamos momentos de lazer — e até mesmo compromissos — pelo simples prazer de assistir o preto e o branco colorirem as nossas vidas durante pelo menos 90 minutos (e o jogo nunca termina no apito final)?