Aquela mão esquerda que, em 17 de dezembro de 1995, voou para espalmar o chute à queima-roupa de Giovanni, no Pacaembú, agora retribui com cumprimentos cada demonstração de carinho e gratidão. As mãos que fizeram outras inúmeras defesas importantes e levantaram o troféu de campeão brasileiro há 21 anos – além de tantos outros títulos entre 1993 e 2002 – agora recebem das mãos dos alvinegros uma pequena taça em forma de agradecimento. A distância que parecia separar o ídolo dos fãs praticamente já não é existe. Hoje o eterno camisa 1 é amigo, companheiro de bate-papo.
Estrela Solitária
Amigos alvinegros... Cuidado! Ao retirarem as roupas das respectivas máquinas de lavar em suas casas, observem bem a resistência do local escolhido para pendurar o manto. Numa ponta ou na outra, pode resultar na queda do seu varal. Êta camisa pesada essa preta e branca, com a inconfundível Estrela Solitária no lado esquerdo do peito! A imensidão desse clube Gigante poderia, de fato, ser comparada ao seu símbolo maior: mesmo em meio a tantas opções, a Estrela atrai para ela todas as atenções. Torna-se tão atraente que consegue ofuscar qualquer outro corpo celeste.
O Botafogo é 100% no campeonato carioca depois de cinco rodadas disputadas. O Botafogo não é nem 50% no estadual depois de 450 minutos de futebol em 2016. O Botafogo evoluiu cerca de 10% após a disputa de metade da primeira fase do carioca. Noventa e nove por cento não passa a tranquilidade da figura de um anjo, muito menos é perfeito. Mas aquele 1% ainda é esperança. Talvez essa pequena porcentagem atenda pelos nomes de evolução, adaptação, Neilton, Salgueiro, contratações... Paixão.
Amigos alvinegros... Passado o reinado de Momo, dizem que o ano começa de verdade no Brasil. Esperamos que o mesmo aconteça com o Botafogo. São quatro jogos, quatro vitórias e convencimento zero. Apresentações bem abaixo da linha do aceitável para um gigante do futebol mundial. Para uma camisa que é reconhecida e respeitada em qualquer canto do planeta, embora absurdamente questionada vez ou outra em nosso país, pelos mesmos ingratos que enchem a boca para exaltar o pentacampeonato brasileiro. Esquecem eles que o Glorioso é responsável direto por, pelo menos, três dessas cinco Copas.
Amigo alvinegro e leitor da coluna Estrela Solitária... Sabe que a estreia do Botafogo no campeonato carioca surpreendeu de forma positiva? Nada empolgante ou capaz de maquiar a necessidade – urgente – de reforços. Os próprios líderes do nosso elenco, como o capitão Jéfferson, reconhecem a indiscutível importância de contratar novos jogadores e acrescentar qualidade e experiência ao elenco. Mas pode ser que o bicho não seja tão feio quanto parece. Ou que a tal “maquiagem” seja apenas um reforço para alguma coisa que poderá ser bela num futuro breve.
Vaias, gritos de “queremos jogador” e um Jéfferson consciente. Estávamos nós, há poucas semanas, recordando o título brasileiro de 1995 e saudando os 20 anos de mais uma dentre tantas conquistas históricas. Tudo para tentar diminuir o aperto no peito e o vazio deixado pelo período sem jogos oficiais. O botafoguense estava com saudades de ver em campo o uniforme mais tradicional do país, com a famosa e inconfundível Estrela Solitária no lado esquerdo do peito.
Amigos alvinegros! Para entrarmos no assunto dessa semana, preciso antes compartilhar uma pequena história com vocês. Além de colunista, jornalista esportivo, assessor de imprensa e produtor e apresentador de TV, sou radialista (ufa!). Na Nova Friburgo AM, sou responsável por editar e apresentar o Repórter Friburguense, o radiojornal da emissora, e também um programa de variedades, o Sintonia Maior. Exatamente neste, já no último trimestre do ano passado, recebemos a visita de algumas turmas de pequenos estudantes do Colégio Nossa Senhora das Mercês, aqui de Nova Friburgo.
Sábado, 9 de janeiro de 2016. Mais um dia, a princípio, comum no casarão histórico de General Severiano. Comum? Não, não era. Nunca será. Cada vez em que passamos pela capela na entrada da sede e nos banhamos com a água benta nada mais é normal. A religião Botafogo toma conta da alma alvinegra, e transforma qualquer simplicidade em magia. Não há como passar pelos corredores de General, observar tantos craques e glórias e permanecer indiferente.
Amigos alvinegros a saudade é enorme, e quase não cabe dentro do peito. O ano de 2015 não foi fácil, é verdade, mas quando a camisa alvinegra pinta no gramado com a Estrela Solitária no lado esquerdo do peito o mundo para. Não existe dificuldade, adversário invencível e nem problemas particulares para cada um dos cinco milhões de escolhidos. Quando o Botafogo está em campo nada mais importa. Ficamos ali, concentrados, cantando, pulando, vibrando, torcendo. Cada um do seu jeito, mas todos sentindo e vivendo a maior paixão do futebol brasileiro.
Amigos alvinegros... Confesso que não está fácil passar dias e mais dias, semanas sem ver a estrela mais brilhante do futebol mundial em campo. A saudade aperta, e um vazio impossível de ser preenchido invade o coração dos milhões de escolhidos. Quando o Botafogo joga nada mais importa. Como certa vez escreveu Vinicius de Moraes, a formação da identidade de uma pessoa passa, também, pela eleição de um time de futebol. O botafoguense, de fato, é diferente. Não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania.