Somos maior, nos basta só sonhar, seguir. Frase bonita, mas não fui eu que escrevi, não. Aliás, eu diria "somos maiores”. Dei de cara com ela no Facebook hoje, numa legenda de foto. Às vezes, vou pulando de perfil em perfil nas redes sociais como se fossem galhos... e eu, a macaca esquizofrênica procurando abrigo, sentido, assunto, inspiração neles. Então, eu vi. A mãe de Kristel morreu. Foi nas fotos dela que eu encontrei a minha crônica.
Blue Light
Ana Blue
Blue Light
O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.
Com alguma vergonha do meu orgulho descabido, falei em alto e bom som na redação: alface só se come com hambúrguer ou com remorso. Sempre fui uma pessoa de bifes, de costelas assadas, recheadas de calabresa. De churrascos. De rodízios. Maus costumes que só as avós são capazes de proporcionar, junto com as balas Juquinha e as gelatinas antes do almoço. E os torresminhos, o que falar dos torresminhos?
— Há algo de etéreo na primavera. O inverno, não. O inverno muda as pessoas, os sentimentos. O vapor que sai da boca tem muita seriedade. O frio é concreto. É palpável. No inverno, as cores são recobertas com uma espécie de véu e...
— Acho melhor irmos pra casa, você anda filosófica demais.
Antigamente, eu pensava que não existia momento em que a vida fosse mais linda do que naqueles segundos que sucedem uma experiência de quase morte. Escapar de uma batida de carro, de uma garrafada no bar, de uma apendicite. Era nisso que eu pensava enquanto a cadeirinha do Teleférico lentamente se movia morro acima, rumo ao novo emprego que eu tinha acabado de conseguir. Se eu chegasse inteirinha lá no topo eu pararia de fumar, de beber, de comer gorduras saturadas. Iria me exercitar mais e parar de ver tanta televisão.
Sempre imaginei que a qualquer momento da vida, se desse tudo errado pra mim, eu poderia enfiar minha viola e minha Oral B no saco e começar tudo de novo, num novo lugar,porque foi exatamente o que aconteceu com os exemplos que eu tinha mais próximos. Minha mãe um dia saiu de Itaocara e começou outra vida em Friburgo. Já meu pai trocou a vida daqui por uma em Moju, lá no Pará, onde ele costumava dizer que os pernilongos nos recebiam com espingardas nas mãos. E, anos mais tarde, foi a vez da segunda esposa dele largar o que conhecia em Moju para virar uma friburguense desde criancinha.
Eu gostava mesmo era de Kiss. Não uma paixão aficionada: era uma paixão modesta, o bastante para copiar letras de música no meu caderno, mas não para comprar os CDs. Por anos a fio, o rock foi o ópio da adolescência. Tudo o que eu queria gritar nos ouvidos da minha mãe, as amarguras, as incertezas, o medo, era Paul Stanley quem gritava por mim, dançava por mim, rebolava por mim. E nós, a geração dos desesperados, gritando como loucos aos quatro cantos da Terra. Pensávamos; logo, ouvíamos rock. Era a nossa lei.
Foi o fondue da página seis que salvou esta modesta crônica. O mote da semana — a chegada do inverno —, a princípio me fez estufar o peito e dar como cumprida a missão dada. Inverno e o blue do meu pseudônimo, tudo a ver. O mundo é azul, baby, é um quarto fechado de cortinas amareladas, apesar de todas as dicas de Dráuzio Varela. E é inverno, o vidro da janela mostra a névoa tomando conta da cidade. Não que eu seja triste: na verdade, sou muitas vezes mais alegre que pareço. Mas quando entristeço, a névoa que cai aqui dentro cobre muitos telhados.
Uma das origens da fogueira da festa junina, julga-se, é que Isabel teria acendido uma fogueira para avisar Maria sobre o nascimento de seu filho, que mais tarde seria o nosso conhecido São João Batista. Assim, Maria poderia auxiliá-la nos cuidados pós-parto. No entanto, diz o Wikipedia que isso é uma mera adaptação católica da verdadeira origem — pagã, inclusive — da festa junina: uma celebração ao solstício do verão.
Se você viver 70 anos, 60 que seja, quantas vezes, em sua vida inteira, terá ouvido que o Brasil é o país do futebol? Ou mais: que o futebol é a paixão nacional. Cerveja, mulher (e homem, há que se fazer a devida feminilização da coisa) e futebol. Pra se ter ideia, acho que eu, por exemplo, aprendi primeiro que a Copa do Mundo é de quatro em quatro anos do que, com as aulas de ciência do professor Willys, lá no Dermeval Barbosa Moreira, soube que um ano era o curso de 365 dias da Terra girando em torno do Sol.