Parte 7
História e Memória

Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Em 1910, a campanha eleitoral de Rui Barbosa, embora apoiada pela máquina eleitoral da oligarquia paulista, denunciou, em praças e comícios públicos, a constante fraude e corrupção do sistema eleitoral. Quando se lê as notícias das eleições municipais para o cargo de vereador da Câmara Municipal (não havia ainda a figura do prefeito) e juízes de paz, percebe-se que as eleições em Nova Friburgo fin de siècle XIX eram bem mais movimentadas e aguerridas. Para citar um exemplo, tomemos Lumiar, onde violentos tumultos ocorreram naquela época.
Com a proximidade das eleições, os programas de televisão exploram o assunto sob diversas formas. Na semana passada, assistindo a um deles, me surpreendi com a informação de que na Suíça, as mulheres passaram a ter direito ao voto somente em 1971. Vasculhando os meus alfarrábios, encontrei um interessante artigo sobre esse tema. Trata-se de uma crônica de Henrique Zamith, cronista e poeta, que é nome de rua em Nova Friburgo. Apesar de todo o seu liberalismo, pois era a favor do divórcio, quando se trata do voto feminino, demonstra-se contra essa conquista da mulher.
Derly Moreira Chaloub nasceu em 1921 e tinha doze anos quando veio residir em Nova Friburgo. Sua família é originária de Conceição de Macabu. Seu pai foi um dos médicos mais cultuados na história de Nova Friburgo: dr. Dermeval Barbosa Moreira. Falecido em 6 de maio de 1974, aos 74 anos, seu funeral ilustra bem a consideração que gozava junto às classes populares onde concorreram milhares de pessoas. Quando se encontrava na agonia de seus últimos momentos de vida, o povo se aglomerou na Praça Paissandu, em frente ao hospital onde ele se encontrava internado.
Amanhã, dia 15, é dia do professor e nada mais pertinente do que falar sobre a educação no passado. Para tanto, seguem as memórias de algumas senhorinhas que nasceram na década de vinte do século passado. Em princípios do século XX, no currículo das alunas do curso Normal havia aulas de português, matemática, geografia nacional, história do Brasil e geral, história sagrada, catecismo, pedagogia, puericultura, psicologia, sociologia, moral e civismo, trabalhos manuais, higiene escolar e economia doméstica. Aprenderam canto orfeônico, tinham aulas de ginástica e até mesmo de teatro.
A turma do Galeria-Bar tinha mesa cativa no bar da Galeria União. Suas estripulias foram lembradas pelo memorialista Carlos Bini, que era uma espécie de líder do grupo, no livro A Turma do Galeria-Bar. Era um grupo de rapazes de classe média, que se reunia quase todas as noites no bar da Galeria União. Depois de se inflarem de bebida alcoólica, pois nenhum deles usava drogas, faziam planos para infernizar a vida dos moradores da cidade nas madrugadas frias de Nova Friburgo. Não faziam o estilo da geração “beat”, a exemplo de Jack Kerouac.
No século XIX, os cemitérios eram considerados pelos médicos higienistas como os responsáveis por diversas doenças, devido ao contato com a terra “corrupta” desses locais. O primeiro cemitério no perímetro da vila de Nova Friburgo localizava-se onde hoje fica o prédio da maçonaria, na Rua Sete de Setembro. Há informação de que numa reforma realizada há alguns anos atrás no prédio da maçonaria, foram encontradas ossadas dos primeiros habitantes da vila. Em 1846, a Câmara resolveu mudar a localização do cemitério da Rua Sete de Setembro.
No dia 20 do corrente mês é comemorado o Dia Nacional de Consciência Negra no Brasil. Para tanto, preparei uma série de três matérias sobre a escravidão em Nova Friburgo. Além do ensaio de hoje, incluirão os títulos “A História do Quilombo de Macaé” e “O Mito da Igualdade Racial”.