Parte IV
História e Memória

Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A administração colonial e o governo imperial nunca deram ao povo brasileiro uma assistência médico-hospitalar condigna. Desde o período colonial a assistência hospitalar era realizada pelas Santas Casas, hospitais fundados e mantidos pelas Irmandades da Misericórdia. Eram associações independentes do poder público, compostas por indivíduos das classes abastadas, católicos, que contribuíam com mensalidades, anuidades, donativos, esmolas e legados para o custeio das despesas hospitalares das classes pobres e miseráveis.
O século XIX foi um período profícuo para os avanços tecnológicos. Cada vez mais surgiam invenções que impactavam a sociedade oitocentista: Surgiram a fotografia (1839), o fonógrafo (1877) e o aparelho cinematográfico (1895). Nova Friburgo conheceu no fin de siècle 19, o animatógrafo: o cinema de hoje.
Conforme ata da Câmara de janeiro de 1870, a estrada de ferro foi logo percebida como o grande fomento de que precisava a então pacata vila de Nova Friburgo para trazer mais touristes à cidade. “Além disso, a estrada de ferro facilitará aos ricos que quiserem se distrair e aos doentes que se quiserem curar ou convalescer sob este clima doce, suave e ameno, cuja reputação é tradicional, um rápido e cômodo transporte. A serra da Boa Vista deixará de ser o espantalho dos habitantes de aquém e de além Nova Friburgo...”
A Imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I, solicitou certa feita dois rapazes de “boa aparência” da colônia da Nova Friburgo para servir como lacaios. Poderiam ser suíços ou alemães, mas de preferência que soubessem o idioma francês. Logo em seguida, surgiu outro pedido inusitado: o diretor da colônia deveria providenciar uma cabeleira de colonas para a confecção de perucas para a Imperatriz. “Mandou-me a S. M.
Os italianos começaram a imigrar para Nova Friburgo na década de 80 do século XIX, e desde então tiveram uma participação significativa na cidade, notadamente como construtores, prestadores de serviço e em atividades culturais. Ficando no ostracismo da sociedade friburguense a partir de meados do século XX, pode-se atribuir este fato à Segunda Guerra Mundial (1939-45), que colocou italianos e alemães em Nova Friburgo em uma verdadeira saia-justa, devido ao fascismo e ao nazismo, respectivamente.
A independência do Brasil, em 1822, criou um foco de tensão entre o Brasil e Portugal. O Brasil sofreu algumas investidas militares por parte de Portugal e só não sucumbiu porque as finanças de Portugal e a crise política interna não permitiam uma guerra contra a independente nação. O temor da recolonização dominava o espírito público da época. Portugal somente viria a reconhecer a independência do Brasil em 1825.
Dermeval Barbosa Moreira, conhecido em Nova Friburgo como um médico morigerado e caridoso, estranhamente resolve diversificar a sua atividade profissional. Juntamente com o seu cunhado, edificou no local denominado “cascata” um suntuoso prédio destinado a um hotel cassino, o Cassino Cascata. Construíra esse cassino, ao que parece, em sociedade com os mesmos empresários do Cassino da Pampulha, Cassino da Urca e do Quitandinha. No entanto, quando o prédio estava praticamente pronto, eis que o jogo de azar passa a ser proibido no país pelo Governo Dutra e o cassino virou um elefante branco.
A imigração dos alemães ao Brasil está diretamente relacionada com a organização militar do país, ocorrida no Primeiro Reinado. O fim da era napoleônica trouxe paz à Europa e a desmobilização dos exércitos devolvera à vida civil milhares de soldados. Era uma geração nascida e criada na guerra e para o qual não havia emprego e nem alimento suficiente devido ao excesso de população dos países e Estados europeus. Como o Exército brasileiro era deficiente, optou-se pela contratação de mercenários, ou seja, soldados experientes em combate.
Nascido na Alemanha em 19 de abril de 1911, Johannes Edward Schlupp fez sua formação inicial e cursou Teologia em sua terra natal. Ainda muito jovem foi solicitado a assumir o trabalho evangélico no Brasil. Aprendendo o português, chegou ao país em 1933, trabalhando inicialmente como pastor auxiliar de uma comunidade evangélica em Petrópolis. Nessa ocasião, pouco antes da Segunda Guerra Mundial (1939-45), havia uma comunidade luterana em crise e dividida em razão de divergências quanto ao nazismo: a de Nova Friburgo.