Parte III
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A administração colonial e o governo imperial nunca deram ao povo brasileiro uma assistência médico-hospitalar condigna. Desde o período colonial a assistência hospitalar era realizada pelas Santas Casas, hospitais fundados e mantidos pelas Irmandades da Misericórdia. Eram associações independentes do poder público, compostas por indivíduos das classes abastadas, católicos, que contribuíam com mensalidades, anuidades, donativos, esmolas e legados para o custeio das despesas hospitalares das classes pobres e miseráveis.
O século XIX foi um período profícuo para os avanços tecnológicos. Cada vez mais surgiam invenções que impactavam a sociedade oitocentista: Surgiram a fotografia (1839), o fonógrafo (1877) e o aparelho cinematográfico (1895). Nova Friburgo conheceu no fin de siècle 19, o animatógrafo: o cinema de hoje.
Conforme ata da Câmara de janeiro de 1870, a estrada de ferro foi logo percebida como o grande fomento de que precisava a então pacata vila de Nova Friburgo para trazer mais touristes à cidade. “Além disso, a estrada de ferro facilitará aos ricos que quiserem se distrair e aos doentes que se quiserem curar ou convalescer sob este clima doce, suave e ameno, cuja reputação é tradicional, um rápido e cômodo transporte. A serra da Boa Vista deixará de ser o espantalho dos habitantes de aquém e de além Nova Friburgo...”
A Imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I, solicitou certa feita dois rapazes de “boa aparência” da colônia da Nova Friburgo para servir como lacaios. Poderiam ser suíços ou alemães, mas de preferência que soubessem o idioma francês. Logo em seguida, surgiu outro pedido inusitado: o diretor da colônia deveria providenciar uma cabeleira de colonas para a confecção de perucas para a Imperatriz. “Mandou-me a S. M.
“Boa estrada!” Era assim que tropeiros e viajantes desejavam uns aos outros desde tempos imemoriais. Personagem de quatro séculos na história do Brasil, a vida do tropeiro aparece na literatura, nos versos de cordel, no folclore, na música e certamente na história, onde desempenharam um papel não só na economia como também na comunicação. O tropeiro, além de movimentar o comércio das vilas, era igualmente um portador de notícias. De Cantagalo partiam as tropas com o café, produzido na região, seguindo para diferentes portos.
Era o dia 12 de fevereiro de 1825, quando um grupo de cinco soldados mercenários alemães, acorrentados uns aos outros, passou pela pacata vila de Nova Friburgo, despertando a atenção dos moradores. Acusados de deserção e presos em Cantagalo, eram transportados por praças sob o comando de um sargento, que os conduzia ao Rio de Janeiro. Na vila, fizeram uma pequena parada no quartel e curiosamente a partir de então passaram a ser seguidos por um colono alemão chamado Heinrich Bourgignon. De repente, ocorre algo estranho quando o grupo passa pela “vilagem dos alemães”.
Os italianos começaram a imigrar para Nova Friburgo na década de 80 do século XIX, e desde então tiveram uma participação significativa na cidade, notadamente como construtores, prestadores de serviço e em atividades culturais. Ficando no ostracismo da sociedade friburguense a partir de meados do século XX, pode-se atribuir este fato à Segunda Guerra Mundial (1939-45), que colocou italianos e alemães em Nova Friburgo em uma verdadeira saia-justa, devido ao fascismo e ao nazismo, respectivamente.
A independência do Brasil, em 1822, criou um foco de tensão entre o Brasil e Portugal. O Brasil sofreu algumas investidas militares por parte de Portugal e só não sucumbiu porque as finanças de Portugal e a crise política interna não permitiam uma guerra contra a independente nação. O temor da recolonização dominava o espírito público da época. Portugal somente viria a reconhecer a independência do Brasil em 1825.
Dermeval Barbosa Moreira, conhecido em Nova Friburgo como um médico morigerado e caridoso, estranhamente resolve diversificar a sua atividade profissional. Juntamente com o seu cunhado, edificou no local denominado “cascata” um suntuoso prédio destinado a um hotel cassino, o Cassino Cascata. Construíra esse cassino, ao que parece, em sociedade com os mesmos empresários do Cassino da Pampulha, Cassino da Urca e do Quitandinha. No entanto, quando o prédio estava praticamente pronto, eis que o jogo de azar passa a ser proibido no país pelo Governo Dutra e o cassino virou um elefante branco.