Outro pomo de discórdia em relação à reforma é a questão da contratação de pessoas com “notório saber”. Também aqui precisamos refletir e abrir os ângulos de observação: primeiro, desde a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, no século 18, nós nunca recuperamos o déficit de professores. Segundo, faltam no Brasil de hoje, milhares de professores com formação plena, embora este quadro seja o resultado de descasos havidos em várias décadas.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
O Plano Nacional de Educação (PNE) sinaliza para sete horas na escola com mais uma hora para refeição. Este ensino integral acaba por afirmar que o jovem não pode ser disputado pela rua ou pelo emprego. Observando-se do ponto de vista da escola pública, a reforma pretende oferecer aos menos favorecidos um tempo integral, sempre usado pelas elites. No contra turno os jovens oriundos das elites fazem inúmeros cursos em várias instituições.
Escrever sobre a reforma do ensino médio brasileiro, proposta através de medida provisória, o que representa urgência de um lado e transferência do debate para o Congresso Nacional, de outro é uma tarefa difícil, sobretudo porque estamos vivendo um momento de instabilidade política e os debates tornam-se, em consequência, momentos para explosão de paixões, trazendo à mesa uma deficiência natural de equilíbrio, necessário a qualquer debate.
A educação é uma questão de condomínio. Por si, as escolas públicas deveriam ser tão boas que não haveria necessidade de escola particular. Ou poderíamos ter um sistema alemão, holandês, chileno, por exemplo, onde os professores são funcionários públicos e por eles pagos, enquanto a gestão pode ser variada. Poderíamos ter associações gestoras de escolas, como organizações particulares estabelecendo convênios com o poder público.
Muito se tem discutido a respeito da destinação das verbas do pré-sal para a educação, sem que se saiba ao certo quando este dinheiro virá ou até mesmo se um dia virá. No entanto, não podemos ainda precisar, exatamente, quanto será o valor do petróleo extraído do pré-sal. Tudo dependerá de oferta e procura. Dentro dos parâmetros esperados, em 2020 mais que dobraremos nossa produção e seremos um dos cinco maiores produtores de petróleo do mundo.
Todos são unânimes em afirmar que um país só atinge sua real capacidade de desenvolvimento através da educação. De que forma, então, podemos fazer isso? Jamais com a pergunta que ouvi numa cidade da Amazônia: “Professor, se todos aprenderem, quem trabalhará para a gente?” Trata-se de mentalidade anterior à abolição da escravatura. Temos de insistir para que, ao lado do pesado e barato (exploração de minérios) incrementemos a produção do leve e caro (um chip, por exemplo).
Um bate-papo com o professor Hamilton Werneck – Parte 1
Hoje e nas próximas duas quintas-feiras publicamos uma entrevista com o professor, colunista e palestrante Hamilton Werneck que destaca variados aspectos sobre o processo educacional brasileiro.
Infelizmente pesquisas demonstram que a educação brasileira não está relacionada entre os melhores resultados, em comparação com outros países. Gostaríamos de um diagnóstico com sua análise sobre a verdadeira situação do ensino no Brasil.
No século 18 as crianças conviviam diretamente com os adultos e eram tratadas como agradáveis “animais de companhia”, segundo expressão da época. Em relação à educação das crianças pouco foi estudado antes do século 19.
A pediatria trouxe grande contribuição, embora a sociedade europeia e ocidental considerasse a educação infantil a partir dos sete anos de idade. Uma concepção de educação infantil como a que concebemos hoje é fruto da revolução industrial que forçou a criação de creches e o surgimento de cuidadores para que, sobretudo as mães, pudessem trabalhar.
A escolha de uma carreira exige este cuidado: escolher o que existirá no futuro porque você pode fazer um vestibular, escolher a carreira e ficar desempregado por causa do desaparecimento de muitas profissões.
É verdade também que as carreiras tradicionais permanecem, o que com elas ocorre é uma constante adaptação e ajustes às especialidades novas.
Um universitário iniciando um curso em 2016 certamente terá oportunidades muito variadas nas especialidades que surgirão nos próximos quatro ou cinco anos.
Os gregos consideravam idiotas aqueles que pensavam somente em si, acreditavam no ditado “cada um para si e Deus por todos” e não participavam da vida comunitária. Oposto a este comportamento, estavam os políticos porque cuidavam do bem comum, participavam da vida das cidades, inclusive com o voto, na democracia grega e eram pessoas dispostas a servir.
Como estamos vivendo uma grande inversão deste valor da época da democracia ateniense, provavelmente ele seja a causa de tantos votos em branco, nulos e abstenções. Nunca atingimos percentuais tão elevados.