Colunas
Falando sobre educação
Um bate-papo com o professor Hamilton Werneck – Parte 1
Hoje e nas próximas duas quintas-feiras publicamos uma entrevista com o professor, colunista e palestrante Hamilton Werneck que destaca variados aspectos sobre o processo educacional brasileiro.
Infelizmente pesquisas demonstram que a educação brasileira não está relacionada entre os melhores resultados, em comparação com outros países. Gostaríamos de um diagnóstico com sua análise sobre a verdadeira situação do ensino no Brasil.
Historicamente, nós fomos uma colônia de exploração e, não de povoamento. Desenvolver educação nesses tipos de colônia não era prioridade do colonizador. O nosso único sistema educacional que chegou ao século 18, bem estruturado, era o sistema jesuítico de educação. A ratio studiorum era o que, hoje, chamaríamos de projeto pedagógico. Neste momento histórico, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas, destruiu o sistema educacional vigente e implantou um sistema público de ensino com uma peculiaridade: não havia professores. Como os anteriores eram missionários, criou-se a ideia de que profissionais neste ramo deveriam ser “sacerdotes” da educação. Duas conclusões: uma que deteriorou o ensino até hoje: a falta de professores. Metade dos professores, em sala de aula, não tem formação para ensinar; a outra conclusão vai atingir o salário, objeto de debate até hoje. A resultante é óbvia: os alunos não aprendem com os enfoques esperados pelo ensino moderno e, como o Brasil faz parte dos países da OCDE, amarga resultados baixos em exames internacionais, elaborados com enfoque muito diferente daquilo que ensinamos. Os alunos que aprendem também têm dificuldades nesses exames porque a abordagem feita pelos professores é arcaica. Como abordei dois problemas históricos com reflexos até nossos dias, não adianta solucionar um e esquecer-se do outro.
Quais os caminhos que o senhor aponta para que a educação brasileira siga o caminho certo e abra novos horizontes para ajudar no desenvolvimento econômico e social do país?
Valorização profissional, este é o caminho. Não significa somente aumentar salários, mas trabalhar de modo sistêmico esta valorização, onde sejam contemplados os salários, a formação e as condições de trabalho. Dentro da formação profissional é necessário que as faculdades que formam professores cuidem de licenciaturas decentes, com carga horária digna da formação de um bom profissional, exigindo trabalhos de conclusão de curso e evitando a formação em menos de quatro anos. Em cada licenciatura necessitamos de maior ênfase à prática do ensino com desenvolvimento de metodologias que contemplem os modos modernos de aprendizagem. Precisamos mudar o foco, hoje muito forte no teaching (ensino) e pouco interessado no learning (aprendizagem).
Não podemos continuar a debater questões mesquinhas que envolvem a não informação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, por exemplo, para camuflar os resultados entre escolas. Se houve, por parte do Ministério da Educação, um redirecionamento do Enem, deixando de ser avaliação do ensino médio, para ser ferramenta de seleção para o ensino superior, que sejam coerentes enfrentando a realidade dos resultados, doa a quem doer. Outra discussão mesquinha é esta entre escola pública e particular. Não devemos perder tempo. Não há condição de se estabelecer esta comparação porque a escola particular de um modo ou outro seleciona seus candidatos, a escola pública não pode fazer isto. Todos nós temos de pensar seriamente em mudanças radicais na qualidade de nosso ensino em todos os níveis, caso contrário, perderemos a grande oportunidade oferecida pela distribuição da população, que exige dos gestores a melhoria da parcela que sustentará, em breve, uma terceira idade maior.
Continua na próxima semana
Professor Hamilton Werneck é professor, pedagogo e palestrante
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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