Começou a Copa. Apesar dos protestos, tudo indica que a maioria da população vê com bons olhos o fato de o país sediar a competição e vai torcer pela nossa seleção. Apesar, claro, de ter críticas aos gastos estratosféricos e ao grau de concessões feitas à Fifa. E, também, de ver com ceticismo o tão falado "legado” que ela vai deixar.
A Voz da OAB
Wadih Damous*
Semana passada, a Fiocruz divulgou uma pesquisa sobre partos, realizada a partir de entrevistas com mais de 23 mil mulheres em maternidades públicas e privadas do país. O estudo demonstrou que os partos cirúrgicos (feitos com cesariana), que em 1970 representavam 14,5% do total no país, passaram a ser 52% em 2010. Se forem computados apenas os partos na rede privada, hoje em número cada vez mais expressivo pela quantidade crescente de pessoas que têm plano de saúde, o percentual cresce para 88%.
No carnaval deste ano eclodiu, no Rio, uma greve de garis que emparedou a prefeitura. No momento da maior festa popular da cidade, quando chegaram milhares de turistas, as ruas ficaram infestadas de lixo, que atraía ratos e baratas e causava mau cheiro.
O prefeito foi obrigado a ceder e os garis voltaram ao trabalho, vitoriosos.
Há duas semanas os rodoviários do Rio fizeram uma greve de advertência, por 48 horas, afetando duramente a rotina da cidade. A situação continua tensa e existe a possibilidade de o movimento grevista ser retomado durante a Copa do Mundo.
Primeira história
Em junho do ano passado, Rafael Braga Vieira foi preso numa manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no Rio. Rafael era catador de latas. Ao ser detido, Rafael tinha consigo, juntamente com latas de cerveja amassadas, recipientes com restos do desinfetante Pinho Sol e de água sanitária.
No dia 2 de dezembro, o juiz da 32ª Vara Criminal o condenou a cinco anos e dez meses de prisão em regime fechado, por "porte de artefato explosivo”.
Serviu como agravante o fato de Rafael já ter sido condenado duas vezes por roubo.
A tese da polícia para explicar a morte do coronel Paulo Malhães, que teria sofrido um infarto quando era vítima de um roubo em sua casa, traz dúvidas.
E elas aumentaram quando pude visitar o caseiro preso e ouvir dele que, ao contrário do que dissera a polícia, ele não tinha confessado participação no crime.
A reação do jogador Daniel Alves, do Barcelona, comendo a banana que um torcedor racista jogou em campo, na tentativa de associá-lo a um macaco, teve ampla repercussão. Não só no Brasil, como na Europa. Isso acabou tendo um efeito positivo.
Entre janeiro de 1992 e junho de 2013, a população brasileira cresceu 36%, mas a população carcerária aumentou 403,5%. Temos o quarto maior número de presos do mundo, atrás apenas dos EUA (2,2 milhões), da China (1,6 milhão) e da Rússia (740 mil). Enquanto a média mundial é 144 presos para cada cem mil habitantes, no Brasil há 300 para cada cem mil, além de um déficit de 240 mil vagas no sistema prisional.
A corrida entre o crescimento do número de presos e a disponibilidade de vagas no sistema é disputa perdida.
Os resultados da pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgados semana passada estavam errados no que diz respeito a uma suposta culpa das mulheres que "usam roupas provocantes”, caso sejam estupradas. A correção foi feita pelo próprio instituto.
Não são 65% dos brasileiros os que acham que a mulher que se veste dessa forma merece ser estuprada. O Ipea informou que o percentual correto é 26%.
Saudosistas da ditadura estão botando as manguinhas de fora. No 50º aniversário do golpe militar, pregações golpistas surgem nas redes sociais. E começam a ser convocadas novas marchas com Deus e a família, a exemplo das que prepararam o terreno para o golpe de 1964.
Por trás de um discurso que negava a existência de preconceito racial, o Brasil sempre conviveu com um racismo enrustido. Era um pesado tributo que pagávamos a um passado de escravidão e à ausência de política de reintegração dos ex-escravos na sociedade. Esse quadro contribuiu para que permanecesse vivo um tipo de racismo mascarado, muitas vezes ignorado por não se manifestar de forma aberta e agressiva, como ocorria em outros países.