Números ainda preocupantes

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os resultados da pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgados semana passada estavam errados no que diz respeito a uma suposta culpa das mulheres que "usam roupas provocantes”, caso sejam estupradas. A correção foi feita pelo próprio instituto.

Não são 65% dos brasileiros os que acham que a mulher que se veste dessa forma merece ser estuprada. O Ipea informou que o percentual correto é 26%.

Mesmo com a correção, estamos diante de um percentual altíssimo de pessoas com uma opinião absurda. De acordo com os novos números, uma em cada quatro pessoas concordam que a mulher que usa "roupas provocantes” tem culpa se for estuprada.

A pesquisa mostra, ainda, que 65% consideram que "a mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. Esta resposta desconhece a situação de milhões de mulheres pobres, vítimas de agressão no lar, mas que têm dificuldades para se separar por falta de condições econômicas para seu sustento ou o dos filhos.

Claro que não é desejável a mulher aceitar ser espancada pelo companheiro, mas desconhecer as dificuldades reais vividas por muitas delas é de total insensibilidade. Essas dificuldades muitas vezes fazem com que a mulher conviva com uma situação de opressão até que não a suporte mais, ou que as coisas, de uma forma ou de outra, se acertem. Considerar que a mulher que não se separa depois de agredida "gosta de apanhar” é uma simplificação que beira ao desumano.

Nem todas as mulheres são de classe média alta e podem se separar de seus companheiros e reconstruir a vida sem enfrentar dificuldades materiais.

Ou seja, a pesquisa do Ipea (mesmo com os novos números) mostra que o machismo e a insensibilidade ainda são muito fortes na sociedade brasileira.

E que precisamos avançar muito na consolidação do processo civilizatório.


*Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio

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