Viúvas da ditadura

quarta-feira, 26 de março de 2014

Saudosistas da ditadura estão botando as manguinhas de fora. No 50º aniversário do golpe militar, pregações golpistas surgem nas redes sociais. E começam a ser convocadas novas marchas com Deus e a família, a exemplo das que prepararam o terreno para o golpe de 1964.

Naquela época, a extrema-direita brasileira teve a preciosa ajuda do padre irlandês Patrick Peyton — fundador do Movimento da Cruzada do Rosário pela Família e ligado à CIA — para organizar as marchas. Elas tinham como lema "A família que reza unida, permanece unida”. Posteriormente, documentos comprovaram que a CIA destinou vultosos recursos para financiar as atividades de Peyton na América Latina.

Quando a pregação golpista volta à tona, não custa lembrar o que representaram os 21 anos de ditadura: prisão, tortura e assassinatos de opositores políticos; obscurantismo; censura à imprensa e às artes; e cassação de mandatos legitimamente conquistados nas urnas.

Isso, sem falar em idiotices, como a proibição de que o Balé Bolshoi se apresentasse no Brasil, mostrando o "Lago dos cisnes”, de Tchaikovski, pelo fato de o balé ser oriundo da antiga União Soviética. Ou, ainda, a proibição de que a imprensa noticiasse o surto de meningite no Rio. A primeira medida fez com que o país caísse no ridículo. A segunda causou a morte de crianças, cujos pais não puderam tomar medidas de prevenção à doença.

É bom dizer, porém, que não está no horizonte um golpe de estado. Temos hoje uma democracia sólida. A sociedade brasileira sabe muito bem o quanto custou conquistá-la. E aprendeu a valorizá-la.

No mais, é legítimo as viúvas da ditadura defenderem suas ideias. O que não se pode aceitar é que preguem a virada de mesa e a intervenção militar para depor uma presidente legitimamente eleita.


*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e

 da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB


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