Falta de critérios

Em junho do ano passado, Rafael Braga Vieira foi preso numa manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no Rio. Rafael era catador de latas. Ao ser detido, Rafael tinha consigo, juntamente com latas de cerveja amassadas, recipientes com restos do desinfetante Pinho Sol e de água sanitária.

No dia 2 de dezembro, o juiz da 32ª Vara Criminal o condenou a cinco anos e dez meses de prisão em regime fechado, por "porte de artefato explosivo”.

Serviu como agravante o fato de Rafael já ter sido condenado duas vezes por roubo.

O desinfetante encontrado com Rafael continha álcool em sua composição, da mesma forma como muitos outros produtos vendidos em supermercados. Mas será que poderia ser classificado de "artefato explosivo”?

Ao contrário dos demais presos na passeata, libertados quase de imediato, Rafael ficou preso preventivamente numa delegacia em Japeri até ser julgado e condenado, cinco meses e meio depois.

Em novembro passado, foram presas quatro pessoas que retiravam 445 quilos de cocaína pura de um helicóptero, numa fazenda do Espírito Santo. Elas eram: o piloto e o co-piloto da aeronave, o dono da fazenda e dois outros homens. O dono do helicóptero era um filho do senador Zezé Perrela (PDT-MG), Gustavo, deputado estadual em Minas Gerais.

Os Perrela foram inocentados pelo Ministério Público, que não viu provas de que estivessem envolvidos no caso, apesar de o combustível usado no helicóptero ter sido pago com verba do gabinete de Gustavo e o piloto ser seu assessor na Assembleia Legislativa.

Os quatro acusados já estão soltos e aguardam o julgamento em liberdade.

Diante dos dois exemplos, é de se perguntar se o Judiciário não usa dois pesos e duas medidas, a depender da classe social dos acusados.