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A chegada dos colonos à Vila de Nova Friburgo: A Imigração Alemã - 14 de abril 2011
Parte 6
Foram os colonos das primeiras expedições dos navios Argus e Caroline que se estabeleceram em Nova Friburgo. O primeiro navio trazendo cidadãos alemães, o Argus, chegou ao Rio de Janeiro em 07 de janeiro de 1824. Já o Caroline chegaria em 14 de abril do mesmo ano. Quando o navio Caroline chegou ao Rio de Janeiro, os colonos do Argus ainda se encontravam em Niterói, nas instalações da Armação. Havia colonos demais nesses dois navios, a contragosto das autoridades brasileiras que desejavam soldados para o Exército Imperial. O Argus trouxe 134 colonos e 150 soldados. Já o Caroline 180 colonos e somente 51 soldados. As colônias de Frankenthal e Leopoldina, originariamente previstas para abrigá-los na Província da Bahia, aparentemente não estavam ainda preparadas para recebê-los. Os soldados foram logo enviados para os quartéis — mas o que fazer com os indesejáveis colonos alemães? Sugeriu-se juntá-los ao Núcleo dos Colonos Suíços em Nova Friburgo. Como vimos em matéria anterior, Nova Friburgo era próxima ao Rio de Janeiro, tinha na ocasião muitas terras abandonadas pelos suíços e o “Núcleo dos Colonos” de Nova Friburgo precisava ser revitalizado. No entanto, o diretor da Colônia de Nova Friburgo escreveu a Monsenhor Miranda manifestando-se contra, enfatizando o absurdo que seria o assentamento dos alemães no “Núcleo dos Colonos”, que, por possuir terras inférteis, já havia sido abandonado por muitos colonos suíços. Monsenhor Miranda se sensibilizou com essa argumentação, mas o Imperador não. E como diz o ditado, “Roma faluta, causa finita” — o que Roma fala é lei. Em Portaria de 31 de março de 1824, o Imperador determinou “...transferir os Colonos Allemães existentes actualmente na Armação da Praia Grande, para a Villa de Nova Friburgo, onde deverão fazer seu estabelecimento...”.
Os colonos alemães, no entanto, não desejavam ir para Nova Friburgo, como lhes foi determinado. Possivelmente já tinham notícias de que as terras da região eram pouco produtivas. Os colonos do Argus insubordinaram-se, negando-se a seguir para Nova Friburgo, por não ser o lugar para o qual lhes fora prometido por Schäffer. Jacob Heringer, ourives, foi o líder dos rebeldes, alegando que em seu contrato estava destinado para o sul da Bahia. Essa afronta foi considerada falta grave, desobediência às ordens imperiais. O governo ameaçou cortar a alimentação dos colonos caso não partissem de imediato da Armação da Praia Grande (Niterói) para Nova Friburgo. Jacob Heringer foi expulso da colônia, mas tempos depois o Imperador, por clemência, reintegrou Heringer à colônia de Nova Friburgo.
Sob protestos, esses colonos seguiram para Nova Friburgo. Em 03 de maio de 1824 chegaram à vila de Nova Friburgo 342 colonos, 195 homens e 147 mulheres, sendo casados 128 e 214 solteiros. Para arrefecer as reclamações, um Decreto de 20 de abril de 1824 confirmou os subsídios por dois anos aos colonos alemães. Inicialmente foram-lhe dadas as terras abandonadas pelos suíços, que não eram muito próprias para a agricultura. O Imperador expediu ainda ordens para proceder à medição e divisão de novas terras, caso não fossem suficientes as abandonadas pelos colonos suíços. Quanto aos subsídios, sabemos que não eram pagos com regularidade ou apenas recebidos à custa de muitas rogativas junto à Câmara Municipal. Até 1829 chegariam ao Brasil 27 navios trazendo soldados e colonos alemães. Depois dos dois primeiros navios que chegaram, os demais colonos foram sendo instalados em outras regiões do país, mas nos limitamos ao Argus e Caroline por terem sido os que constituíram o núcleo colonial de alemães em Nova Friburgo e o primeiro no Brasil.
Constituíram o núcleo dos primeiros alemães em Nova Friburgo os seguintes varões: o pastor Sauerbronn, Grieb (Gripp), Junger, Schott, Muller, Berbert, Schwab, Eller, Emmerich, Hennrich, Nanz, Kleinfelder, Spamer, Dörr, Zaubach, Döring, Diedrich, Kaiser, Klein, Schenkel, Reigel, Herrmann, Ott, Dautt, Drott, Scaneider, Schmidt, Urich, Neipert, Nanz, Schwenck (Schuenck), Winter, Bröder (Breder), Meyer, Oberländer, Schmidt, Storck, Wolf, Höfel, Schott, Laubach (Louback), Gundacker (Condack), Schwab (Schuab) etc. Os colonos alemães das duas primeiras expedições, Argus e Caroline, consistiam na maioria de agricultores, havendo ainda alfaiates, moleiros, vidraceiro, cordoeiro, sapateiro, relojoeiro, carpinteiro, telheiro, ourives, etc. Eram na maioria homens morigerados e nada miseráveis, como foram os suíços, pois pagaram as suas passagens, que era cara, e trouxeram muitas ferramentas de trabalho. Posteriormente, alguns mercenários que deram baixa no Exército Imperial, após servirem por seis anos, imigrariam para Nova Friburgo. Receberam terras e fizeram investimentos na vila, pois tinham direito a um pecúlio quando se desligavam da Armada. Entre eles os irmãos Leuenroth, ex-mercenários, que construiriam um dos mais importantes hotéis em Nova Friburgo no século 19. E quanto aos mercenários alemães? De que forma serviam no Exército brasileiro e como era a sua rotina nos quartéis do Rio de Janeiro? Na próxima semana, “O Regimento de Estrangeiros”.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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