Convivência e identidade nas escolas

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Considero a disciplina nas escolas e no trabalho intelectual como uma questão de convivência. Pode ser a convivência com os outros, pode ser a convivência consigo mesmo.

A convivência está intimamente ligada à identidade da pessoa. Em geral quando uma escola está com um acúmulo de problemas no relacionamento com os alunos ou com os responsáveis pelos alunos ou com o corpo docente, ela precisa rever duas coisas ao mesmo tempo: as suas normas em relação ao paradigma educacional da instituição e a evolução do conceito de identidade através do tempo.

Certas normas podem servir para uma época e, outras, servirão para a época em que vivemos. Quando o educador ou a instituição educativa pensa em estabelecer normas para que outros sigam, desconectando-as daqueles para os quais as normas são estabelecidas, certamente há a predominância de um pensamento cartesiano, segmentador e permeado de conceitos que colocam nas mãos dos educadores todo o saber e toda a ciência da educação.

Nega-se nesse caso a participação dos demais e fecha-se a escola dentro de uma redoma ou santuário, onde, apenas, alguns têm acesso. Esse comportamento gera conflitos contínuos e criará problemas que, diante de uma mentalidade mais aberta, poderiam ser diminuídos ou quase anulados.

Se uma escola tem uma concepção de identidade baseada no sujeito do iluminismo ela entende a pessoa humana “como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação...”

Assim, conforme a escola iluminista, imagina-se um ser humano gravitando em torno de um núcleo interior que nascia com ele e se desenvolvia com ele. Imagina-se um ser humano de tal maneira idêntico a si mesmo e ao longo da existência que a aceitação de influências dentro de um tempo histórico são colocadas em segundo plano.

Há, portanto, uma linha traçada e os desvios dessa linha implicam em sansões visando corrigir os “infratores”. Stuart Hall em seu livro: “A identidade cultural na pós-modernidade” aborda muito bem essas questões.

Essa concepção iluminista é marcadamente individualista e, além disso, machista porque essa escola descreve o sujeito como masculino (Stuart Hall). Como se vê, a questão da convivência dentro das escolas não está desligada das questões históricas e, mais ainda, das questões filosóficas.

Se ao lado do iluminismo acrescentarmos os conceitos positivistas de A. Comte na sua concepção histórica de avanço linear e crescente, bastaria adicionarmos um tempero behaviorista para termos uma escola consciente de que plasmará um caráter e que lutará, por todos os meios, para atingir esse fim.

Serão escolas diretivas e distantes da noção de um sujeito sociológico que vive seu tempo histórico e ao mesmo tempo complexo conforme a visão de Edgar Morin.

Estabelecida uma noção de autonomia do sujeito e auto-suficiência do sujeito, certamente deixarei de lado os outros, porque nego o fato da existência da complexidade do mundo moderno em suas múltiplas facetas.

Porque segmento cartesianamente o interno e o externo em relação à formação da identidade e, além disso, sigo a concepção iluminista,  estarei priorizando o que é interno na formação do sujeito e descartando o meio, ou seja, o que é externo.

Portanto, uma orientação de convivência escolar precisa dar ênfase tanto ao indivíduo como ao meio em que ele está inserido. Além disso, é necessário que o educador esteja atento para as mudanças contínuas que os tempos pós-modernos trazem para a sociedade.

Não se trata de banir os valores do trabalho educativo. Trata-se, sim, de adequar-se aos tempos e estar atento à “história-problema” que cria situações novas para o relacionamento humano.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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