Pesa...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Há camisas que são pesadas por natureza. Há camisas que são consideradas pesadas, mas efetivamente não possuem respaldo histórico. Entre o que é vendido e o que é realidade existe uma diferença prática. E ela só pode ser observada dentro de campo. Em um jogo importante, talvez, de Libertadores. Ser campeão ou não é outro assunto, e envolve questões que nem sempre se resumem ao campo de jogo. Mas é dentro dele que nós concluímos se ali existe ou não uma camisa pesada. O Botafogo tem. A Estrela Solitária carrega uma tonelada de amor, história, superstição e magia. Um universo de sonhos movidos pela loucura de cinco milhões de apaixonados. O preto e branco listrado pesa. E como pesa...

Disseram que o gol sofrido no Nilton Santos iria pesar. Aliás, falaram muito! Continuam falando desde o ano passado, quando rebaixaram o Glorioso bem antes do tempo. Gostamos assim: quanto mais duvidam, mais comprovamos nossa força. Sendo assim, continuem duvidando, e o Alvinegro continuará fazendo história.

Aliás, história você tem ou não tem. Escreve ou escrevem. A nossa é escrita, e a de outros foi escrita. Percebem a diferença? Então observem a recepção ao Botafogo no Chile. Tratado como Gigante que é, obrigou setores da mídia nacional a se renderem ao seu verdadeiro tamanho. A torcida invadiu Santiago numa quarta-feira, em um jogo de Pré-Libertadores. Mais de 500 pessoas largaram trabalho, família, estudo ou seja lá o que for. Tudo pelo prazer de acompanhar o seu “Imenso Prazer.” Nem sempre é simples mostrar e admitir esse tipo de demonstração por aqui, pois existem interesses ocultos, embora facilmente perceptíveis. O pior cego é aquele que não quer enxergar.

E se eles ainda não enxergam a qualidade do time do Botafogo, puderam ter uma ideia diante do Colo-Colo. Ainda não se chegou ao ponto ideal, mas há elementos para crescer. Ajustes são, obviamente, necessários. Mas a evolução física e técnica no espaço de uma semana precisa ser exaltada. A postura do alvinegro foi de quem merece jogar uma Libertadores. Aguerrido, persistente, destemido. Botafogo como sempre foi. Na análise fria e teórica, porém verdadeira, a equipe não teve Jéfferson, Luis Ricardo, Carli e Camilo. Desfalques que pesariam para qualquer equipe. Menos para aquelas em que a camisa verdadeiramente pesa.

Quando o time chileno abriu o placar, a única preocupação era a de como o Botafogo reagiria. Goleada, como a imprensa do Chile especulou? Só pode ser piada. De mau gosto. De quem não conhece nada de futebol, muito menos de Botafogo. A reação foi a melhor possível, e depois do susto, o time de Jair Ventura passou a controlar as ações. Criou e parou em Villar. Teve um Montillo muito bem no primeiro tempo, com menos intensidade no segundo, mas ainda assim sendo o talento diferencial que dele se espera. Ainda não decisivo. Por enquanto. A hora vai chegar. Marcelo brilhante, Bruno Silva irretocável e Victor Luis fantástico. O lateral teve uma evolução física e técnica incrível no espaço de sete dias. Como? A preparação física, a fisiologia e os demais setores que me perdoem, mas ele veste a número seis. A seis de Nilton Santos.

A mística da Seis... E da Sete. Enquanto todos são dez, nós somos Sete. Pesa. E confesso que em determinado momento do jogo, em que o Botafogo martelava e não encontrava o gol, lembrei de Garrincha. Lembrei do tamanho do clube. Reuni forças, me emocionei. Acreditei mais uma vez, sem nunca ter desacreditado. Sabia que seria sofrido. E tinha certeza que seria Botafogo.

Mais do que Sete, o herói da noite vestia a camisa de número DezeSete (perdoem o erro de português). O brilho de quem vestiu a camisa, reconheceu o peso e não se intimidou. Lutou. Teve brio e brilho. Foi botafoguense. Pimpão é botafoguense. Ele traduz o Botafogo. Ele classificou o Botafogo. Escreveu a história como ela deveria ter sido escrita. Como a imprensa chilena e parte da mídia nacional não queriam. Como muita gente não imaginava. “Aquele golzinho no Nilton Santos”, diziam eles. “Aquele gol do Pimpão”, dizemos nós. O “Botafogo está rebaixado”, diziam eles. “O Botafogo vai nos dar muitas alegrias”, dizemos nós.

Foi apenas uma fase, é verdade, mas o torcedor alvinegro pode se orgulhar. Não poderei aqui reproduzir toda a frase de Bruno Silva, mas o trecho em que ele pede respeito quando se fala em Botafogo já resume. As palavras têm peso, o pensamento tem força. A camisa joga, a seis transforma, a Sete brilha. A DezeSete resolve. Dois mil e DezeSete... Promete! E eu já prometi. A Estrela Solitária há de nos conduzir pela estrada dos louros e das vitórias. O Botafogo está vivo, forte. Sedento. Respaldado pelo novo Nilton Santos, pela mística, por sua grandeza. Pelo amor de seus milhões de apaixonados. Segurem... O Gigante voltou mais Gigante do que nunca. E isso pesa.

Saudações alvinegras! Seguimos, já aguardando o dinheiro do bicho de domingo. Até a próxima!

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