Existe justiça no Brasil?

sábado, 04 de março de 2017

Este que vos escreve pensou muito, várias vezes, se realmente valeria a pena escrever sobre este tema. Particularmente, seria muito cômodo ficar omisso diante de tantos absurdos e devaneios que a grande mídia traz à tona para falar do assunto. Mas o jornalista possui um dever para com a sociedade, o de informar com consistência e veracidade, apontando dados e fatos que sustentem o seu argumento. De escrever ou falar não o que se quer ler ou ouvir, mas o que precisa ser lido ou ouvido. Na função de Colunista, concedida a quem vos escreve por esse veículo tradicional de Nova Friburgo, o Jornal A Voz da Serra, há ainda a possibilidade de opinar sobre os temas. Resolvi exercer esse direito, com o cuidado e a responsabilidade que não se tem observado na grande mídia. Sabe-se lá por que (É uma afirmação: sabe-se, sim, lá por que).

O colunista, como todos sabem, é apaixonado pelo Botafogo e também pelo Friburguense, clube da cidade, onde com orgulho exerce a função de assessor de imprensa há quase oito anos. E é bom deixar claro desde o início: não tem nada contra o Clube de Regatas do Flamengo, além da rivalidade saudável, obviamente, dentro dos limites e preceitos da prática desportiva. A maioria dos meus amigos torce para o clube, bem como muitos familiares, tanto por parte de pai quanto de mãe. Sempre brincamos de maneira tranquila. Mas este que vos escreve, definitivamente, não compactua com as maneiras de pensar e agir do presidente da referida instituição.

Nesta análise não está em discussão a qualidade do trabalho deste dirigente. Dizem até que é muito bom, algo que este que vos escreve não pode afirmar com base. Tem-se acesso ao que a mídia conta, ao contrário da gestão de Carlos Eduardo Pereira no Botafogo, onde conseguimos acessar dados mais aprofundados e constatar a quase excelência de sua gestão (na opinião do colunista, abrindo espaço para opiniões contrárias). O texto terá como base a questão do uso do estádio Nilton Santos para a decisão da Taça Guanabara neste domingo, entre Flamengo x Fluminense.

A gota d’água para este que vos escreve foram as declarações do presidente do clube da Gávea, afirmando algo no sentido de para o bem do futebol carioca, contra a falência do futebol do Rio. É como se realmente existisse, na prática, essa preocupação toda com os outros clubes do Estado, e diria até mesmo do país. Ao mesmo tempo em que emite esse tipo de opinião, age de forma contraditória nos bastidores. E é preciso ser irresponsável, como tem sido parte da mídia, para dar destaque a esses absurdos. Então existe mesmo essa preocupação com o futebol carioca?

O mesmo que deu essas declarações é o principal mentor da Primeira Liga, competição que é um braço do processo de elitização do futebol nacional, matando de vez o Campeonato Carioca, demais estaduais (em sua maioria) e os clubes do interior. Quem é de Nova Friburgo, por exemplo, sabe da importância do Friburguense para a cidade. Será que existe alguma preocupação com isso? Certamente não, uma vez que a demora de seu clube para acertar o valor da cota de televisão com a Rede Globo motivou o atraso nos repasses para os clubes do interior, dificultando uma situação que naturalmente já é delicada para essas equipes. Falando em distribuição de valores, este dirigente preocupado com o futebol é o mesmo que defende que seu clube receba mais de duas vezes o valor pago a Botafogo e Fluminense. Por que, se está comprovado que a audiência na TV aberta não está associada ao tamanho de torcida? As duas maiores audiências deste ano no Rio são, por enquanto, Botafogo x Olímpia e Botafogo x Colo-Colo. Há de se existir um modelo mais justo de divisão para os 12 grandes clubes do país. Nenhum é maior ou menor do que o outro, e todos eles compõem uma parte importante da história do futebol nacional. Merecem o mesmo espaço e respeito.

O pior é ver uma instituição como o Fluminense, de tanta história e tradição, deixando-se levar pelo mesmo caminho. O próprio Abel Braga, técnico tricolor, de tanta vivência e experiência no futebol, já percebeu o sentido de toda essa história. O que o Fluminense faz, hoje, é colocar azeitona na empada do vizinho. Enquanto isso, a empresa estatal que os patrocinava até o fim do ano renovou com o rival por um valor altíssimo e ofereceu menos da metade ao tricolor, que segue sem o patrocinador máster. Será que alguém se preocupou com isso?

Vamos a questão da justiça. Ela existe em nosso país? É questionável sim, pois uma instância anula a outra, um órgão derruba a decisão do outro. Em menos de 72 horas o jogo não seria no estádio Nilton Santos, depois seria, com uma torcida, com nenhuma torcida e, por fim, com as duas torcidas. E o Botafogo, dono do estádio por concessão até 2035 (portanto, proprietário SIM do estádio até o referido ano) foi obrigado a aceitar uma imposição com a qual não compactua. O triste é ver parte da mídia dizendo que o Botafogo pensa pequeno, que deveria colaborar com a competição. Ora, parafraseando até de maneira um pouco mal-educada, “no dos outros é refresco, não é?”

Então, meu caro leitor, você possui um vizinho que não te trata bem, que diverge de você na maneira de pensar, de agir... Que aluga um terreno que era seu antes mesmo do fim do seu contrato, sem lhe avisar, numa jogada bem trabalhada nos bastidores... Um vizinho que lhe tira o patrimônio (no caso Arão) sem indenizar devidamente, pensa apenas em si e não no bem comum e você ainda é obrigado a abrir as portas de sua casa pra ele? Pera lá!

O Botafogo de Futebol e Regatas, como proprietário do estádio, deveria ter o direito de emprestá-lo ou não para a final. Sem aqui julgar se a postura do presidente Carlos Eduardo Pereira está correta ou equivocada. Mas concordando com ele no aspecto de que o tempo em que o Botafogo não se posicionava, acatava tudo de maneira passiva acabou. Tem que acabar. O Botafogo precisa ter a postura de clube gigante que é, da qual abriu mão nos últimos anos por conta de projetos políticos e pessoais de quem por lá passou. Abre-se um precedente muito grande a partir de agora, embora a nossa (in)justiça interprete de formas variadas, dependendo de quem impetra a ação e de quem vai ser julgado (e isso não só no futebol). Dizem até (não tenho essa confirmação) que o regulamento prevê que o jogo teria que ser no Nilton Santos caso o Maracanã não tivesse condições de uso.

Aí entra outra questão: não tem condições para domingo, mas tem para quarta-feira? Por que? O que será feito no espaço de três dias que fará tanta diferença assim? Por que não se “correu” tanto para aprontar o estádio para a decisão da Taça Guanabara quanto para a Libertadores? Há muito mais coisas mal esclarecidas por trás do fechamento recente do Maracanã. E muitas outras por trás de sua reabertura. Um pena. Mas tudo já parece perfeitamente costurado nos bastidores. Ainda falta o laudo? Então como se vende milhares de ingressos, sem antes existir a liberação completa do estádio? Sem antes ter o aval definitivo por parte das autoridades? Todo mundo sabe, a partir dessas constatações, que o Maracanã já tem condições de receber uma partida. Sabe também, ou pelo menos tem ideia, do público que poderá abrigar. Só não foi e oficialmente divulgado ainda, e o motivo todo mundo sabe. Ou deveria saber, mas a mídia não se interessou ainda por buscar a verdade dos fatos. Lamentável.

Para finalizar, este que vos escreve é totalmente contrário à torcida única em clássicos no Rio de Janeiro. Isso significa tapar o sol com a peneira, fazer barulho onde não existem instrumentos. É paliativo, apenas para maquiar fatos e transferir responsabilidade. Há vários culpados. E o principal deles é o Estado, os governantes, em todas as suas esferas, que deveriam oferecer, além de segurança, uma educação de qualidade. Através dela formaríamos, não só uma nova geração de torcedores, como também uma nova geração de cidadãos! De fluminenses, cariocas, brasileiros.

Mas no Brasil sempre foi mais fácil apontar o dedo e culpar um ou outro do que assumir a responsabilidade e atacar nos pontos cruciais. Investir. Volto a usa esta palavra: lamentável. O futebol é apenas um reflexo de uma sociedade que precisa rever valores, a partir de um sistema que está falido. Dirigentes e governantes usam a paixão dos torcedores como álibi, como instrumento para implantarem os seus projetos de poder. E o povo embarca nessa, acredita em tudo o que é vendido pela grande mídia. Enfim... Resta ter fé para acreditar que um dia o rumo perigoso para o qual a humanidade caminha possa mudar de direção.

Saudações alvinegras! Dia 14 tem Libertadores!! Todos ao Niltão!! #QueremosACopa

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