Momentos Literários
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Um desafio maior que se apresenta aos escritores que dedicam sua literatura aos
adolescentes é a convivência, quase concomitante, do jovem com o mundo real e com
o universo virtual, espaços distintos que acabam por se misturar, tornando-se difíceis
de serem distinguidos. Quem sou, onde estou e por que existo são perguntas que
perpassam em todas as suas palavras e ações. Ah, ele precisa encontrar respostas e
assistência nas pessoas que se voltam a este precisar e que se façam presentes. É um
modo intencional de estar ao lado dele, de fazer-lhe o bem.
Para início de conversa, não vou entrar no mérito literário; não pretendo avaliar se as letras das marchinhas de carnaval podem ser consideradas ou não literatura, até porque há uma discussão bem ampla a respeito.
Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô
Em tempo de calor o carnaval está aí, em cima da hora. Nestas vésperas,
tenho pensado que esta festa popular abraça a literatura de várias maneiras;
em todos os eventos carnavalescos, há narrativas que abrangem a natureza,
os lugares, os fatos atuais e passados, as celebrações e outras expressões
culturais. Seja por meio da ironia ou do enaltecimento, seja pela brincadeira, o
carnaval conta histórias.
Depois de participar no sábado, 16 de fevereiro, na Livraria Sabor de Leitura, de
um bate-papo literário, com a escritora Maria Biterello, autora do livro de crônicas
Tempo das Coisas, ed. In Medias Res, senti necessidade de escrever a respeito da
crônica, estilo literário que muito me agrada ler e escrever.
Como a literatura abraça a vida através do tom da voz de suas palavras,
vou tomar a liberdade para usar esta coluna como forma de dar vazão a minha
tristeza, ao ter conhecimento das tragédias que aconteceram em nosso país.
O Brasil inicia o ano de 2019 de luto e não pode abafar a revolta com os
trágicos acontecimentos, respaldados pelo desleixo, conscientemente
criminosos, por parte dos administradores que assumiram posições decisórias
e que não consideraram o princípio da cidadania: o direito de um cidadão
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...
Cecília Meireles
Muda-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo mundo é composto de mudança,
Tomando-se sempre novas qualidades.
Luiz de Camões
Estou lendo thekhov e maravilhada com a profundeza com que ele aborda as circunstâncias mais comuns. Estamos a costumados a perceber o que diariamente nos cerca com o piloto automático ligado, um olhar rápido e pragmático que faz com que percamos significativos detalhes que tornam um fato, não mais do que corriqueiro, em um acontecimento preponderante. Tão inesquecível, capaz de fazer o pensamento realizar reflexões por um longo tempo, dando apetitoso alimento à alma. Decidi, então, aprimorar os meus modos de perceber, pensar e sentir. Ah, o quotidiano não é uma mesmice.